Porto Alegre, 20 de novembro de 2015 – A diferença entre os esforços de
alguns países será o principal empecilho para se chegar a um consenso geral
sobre a redução da emissão de gases de efeito estufa, durante a Conferência
do Clima (COP 21), que acontecerá em Paris, em dezembro. A avaliação é do
diretor-geral do AgroIcone, Ricardo Lima.
Ele acredita que nem todos farão o mesmo esforço, referindo-se aos
países desenvolvidos. Por outro lado, diz ser plausível esperar que Brasil e
India, considerados grandes emissores de CO
especialmente as brasileiras, deem um passo além dos demais países em
desenvolvimento.
Lima observa que, no momento, existe maior possibilidade de os países
migrarem para a economia de baixo carbono, ou seja, adotarem novas tecnologias
limpas, o que significa mudar para práticas agropecuárias que emitam gases em
menor quantidade.
Em sua opinião, o Brasil já tem e adota tais tecnologias, no entanto,
é necessário dar mais força ao Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono),
principalmente no que se refere à questão da recuperação de áreas de
pastagens degradadas.
“Recuperar pastagem, hoje, é a tônica da discussão de
sustentabilidade na pecuária, porque, se recuperar a pecuária, recupera-se
também área para agricultura. Isso significa tirar muitos produtores de
pecuária da baixíssima produtividade, da pobreza e ajudá-los a ganhar mais
com a atividade”, salienta o diretor.
METAS EM NÚMEROS
Fazem parte da agenda brasileira na COP-21, até 2030, tomando o ano-base
2005, reduzir em 43% as emissões de gases do efeito estufa; colocar fim ao
desmatamento ilegal; restaurar e reflorestar 12,5 milhões de hectares;
recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; integrar cinco
milhões de hectares de lavoura-pecuária; além de usar 45% das fontes
renováveis no total da matriz energética.
Ex-ministro e membro da Academia Nacional de Agricultura da Sociedade
Nacional de Agricultura (SNA), Roberto Rodrigues ressalta que o Brasil, apesar
de ter um longo caminho a percorrer, até 2020 deve praticamente zerar o
desmatamento ilegal, o que proporcionará uma redução de emissões causadas
por desmatamento na ordem de 400 milhões de toneladas de CO
“Se de fato, em 2030, tivermos mesmo convertido 12,5 milhões de
hectares de terras degradadas em vegetação nativa restaurada, agricultura
sustentável e silvicultura, sequestraremos mais 5,2 bilhões de toneladas de
CO
também é coordenador do Centro da Agronegócio da FGV (GV Agro), embaixador
especial da FAO para as Cooperativas (Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura) e presidente do LIDE Agronegócio.
DEPOIS DE PARIS
Para o diretor da AgroIcone, Rodrigo Lima, a importância do setor
agropecuário para a agenda de mitigação brasileira é inexorável, no
entanto, acredita ser importante discutir o tema internamente, após a reunião
de Paris.
“Precisamos nos estruturar para colocar tudo isso em prática e
conhecer quais são as políticas internas que permitem que isso aconteça. Não
adianta o governo afirmar que vai restaurar dois milhões de hectares se não
houver uma política que busque construir isso”, afirma.
Para ele, é preciso dar substância àquilo que o governo pretende
fazer. “Vejo uma grande possibilidade para o setor agrícola agregar estas
questões de sustentabilidade e migrar para uma produção de baixo carbono. Mas
o Brasil precisa amadurecer muito suas políticas internas, ainda a partir do
ano que vem. Isto porque, se o acordo for para valer a partir de 2020, o País
terá quatro anos para se estruturar”, ressalta.
O Plano ABC, segundo Lima, é um exemplo claro, “porque tem um
gargalo muito perigoso, que se chama a incapacidade de mensurar as reduções de
emissões”.
“Se não consigo mensurar o que está sendo feito, não tenho como
provar o quanto de CO
reportar como está cumprindo suas ações voluntárias. Como será feito isto,
com o atual Plano ABC, eu não tenho ideia.”
O diretor ressalta que dá estes exemplos para tentar ilustrar o quanto
a agenda da COP 21 poderá abrir oportunidades para o setor agrícola
brasileiro.
“Aí entra toda esta discussão de capacidade de mensurações, entra
a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a capacidade de
monitorar o Plano ABC, definir o ABC regional. Ou seja, em certas regiões o que
é mais importante? É dar um impulso na questão da restauração de
pastagem.”
Outro ponto que precisa ser discutido, dentro do Plano ABC brasileiro,
é a taxa de juros que, para o diretor geral do AgroIcone, dever ser
diferenciada.
“Quando o produtor vai fazer restauração de pastagem tem de tomar um
crédito elevado. Ele pode ter uma taxa de juros diferenciada para
restauração de pastagem. O mesmo vale para o sistema Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). É necessário um amadurecimento das
políticas.”
AGROPECUÁRIA
Lima ainda destaca as críticas em relação à produção de carnes, o
que considera “uma loucura”. “Temos capacidade técnica e científica de
comprovar que se produzirmos carne em pastagem manejada, não em pastagem
degradada, conseguimos abater gado em dois anos, porque ele está em uma
pastagem manejada e que sequestra carbono. O quilo deste animal tem muito menos
carbono por trás dele do que o animal que fica cinco anos lá, comendo pasto
degradado”, esclarece.
Exatamente por isto, Eduardo Assad, colaborador do Observatório ABC,
pesquisador da Embrapa, professor do GVAgro e membro do Comitê Científico do
Painel Brasileiro de Mudança do Clima, acredita que a agropecuária será o
principal setor na redução das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Isto porque são analisados dois grandes pontos que existem no inventário de
gás de efeito estufa dentro da agropecuária brasileira: primeiro, a
fermentação entérica do boi; e segundo, a emissão provocada pelos
fertilizantes.
“Os dois têm peso equivalente. Quanto aos fertilizantes, não
conseguimos substituí-lo rapidamente, de uma hora para outra. Aliás,
consegue-se devagar, com bactérias fixadoras de nitrogênio, com adubos
organominerais e algumas leguminosas”, salienta Assad.
Ele continua: “Na pecuária não, o problema é a fermentação
entérica, é o metano emitido pelo boi. Isto visto de maneira isolada, só o
boi emite, mas ninguém analisa o sistema. Quando se analisa o sistema,
percebe-se que o bom pasto retira em termos de CO2 o equivalente àquilo que o
boi emite”.
O pesquisador ainda ressalta que “se o pecuarista fizer um bom manejo
do pasto e adotar as boas práticas agrícolas, esta emissão por fermentação
entérica é reduzida”. “Aí, sim, a pecuária brasileira pode ser o
principal responsável nos próximos anos, em curto e médio prazos, pela
redução de gases de efeito estufa.”
CAPACIDADE BRASILEIRA
Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, “se em 2050 o Brasil mantiver a
taxa de crescimento da produtividade agrícola na área, hoje disponível,
produzirá 350 milhões de toneladas de grãos, sem desmatamento”.
“A esta área serão acrescentados mais 60 milhões de hectares de
baixa produtividade, transformados em áreas produtivas pelo Plano ABC,
totalizando 180 milhões de toneladas de grãos.”
Rodrigues ainda acredita que outros 40 milhões de hectares desmatados
na Amazônia serão produtivos, com mais de 120 milhões de toneladas de grãos
ou equivalentes em carnes e fibras.
“Com tudo somado chegaremos, em 2050, a 650 milhões de toneladas de
alimentos, sem desmatamento adicional. Além disto, vamos retirar da atmosfera
pelo menos 180 milhões de CO
tecnificada”, preconiza. As informações partem da Assessoria de Imprensa da
SNA (SP).
Revisão: Carine Lopes (carine@safras.com.br) / Agência Safras
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Atualizado em: 22/07/2025 09:00