Porto Alegre, 10 de agosto de 2018 – As melhorias nos tratos dos animais
geram impactos econômicos na cadeia da carne suína, a mais consumida do mundo.
“Calculamos que as perdas causadas por problemas relacionados ao bem-estar
cheguem a 0,15% dos animais desembarcados nos frigoríficos”, revela o
pesquisador Osmar Dalla Costa, gestor do Núcleo Temático de Produção de
Suínos da Embrapa Suínos e Aves (SC).
O índice pode parecer pequeno, mas como a cadeia tem proporções
gigantescas (o Brasil é o quarto maior produtor mundial de carne suína), esse
percentual representa perdas anuais de cerca de R$ 30 milhões. Apenas em 2017,
o País produziu 3,76 milhões de toneladas de carne suína, um mercado de
grande relevância econômica sujeito a perdas que podem ser evitadas. Os
especialistas ressaltam que animais machucados podem provocar perdas na
produção e suínos sob estresse geram carne com qualidade inferior.
Para avaliar o problema, uma equipe de pesquisadores identificou os
principais fatores de riscos para as ocorrências de fraturas, fraturas sacrais
ou hematomas, principais causas de condenação de carcaças nos frigoríficos.
De acordo com Dalla Costa, foram selecionados 22 fatores, número elevado que
evidencia, porém, os vários fatores e a complexidade das causas ligadas às
perdas.
Para essa análise, foram estudados os eventos que ocorrem nas 24 horas que
antecedem o abate dos animais nos frigoríficos. “Parece pouco tempo, mas
não é. A maneira como os animais são tratados nesse período influencia,
inclusive, a qualidade da carne que é colocada na mesa”, enfatiza Dalla
Costa. Os animais que chegam até a indústria devem estar limpos, saudáveis,
sem hematomas nem machucados, não estressados, aptos ao manejo, com adequado
desenvolvimento muscular e capacidade motora.
O trabalho de pesquisa levou em conta 96 variáveis relacionadas ao
ambiente, às instalações e ao manejo dos animais na granja, no embarque, no
transporte, no desembarque e no período de descanso no frigorífico, e à
tipificação das carcaças. “Os resultados evidenciaram que a incidência de
fratura sacral foi a maior causa de condenações de carcaças nos frigoríficos
estudados”, revela o pesquisador, afirmando que esse tipo de fratura acontece
devido à forte contração muscular que pode ocorrer durante o atordoamento
elétrico dos suínos. Portanto, grande parte das condenações foram causadas
quando os animais já estavam dentro do frigorífico, na última fase desse
manejo. As condenações por fratura, fratura sacral e hematomas representaram
40% do total.
Especialista em bem-estar animal da Proteção Animal Mundial (World Animal
Protection), Paola Rueda diz que a cadeia produtiva dos suínos é uma das mais
delicadas nesse aspecto. Para ela, uma das primeiras e fundamentais ações
seria abolir as gaiolas em todas as fases de produção. Geralmente as gaiolas
são empregadas na gestação e na lactação. “Além disso, é preciso usar
densidades adequadas de animais nas baias e diminuir o uso das mutilações e,
se necessárias, usar analgesia e anestesia. Além disso, definir protocolos
adequados de eutanásia e planos de contingência para situações críticas
como a greve dos caminhoneiros”, recomenda.
Avanços na indústria e no campo
A Proteção Animal Mundial observa avanços nas ações das
agroindústrias visando o bem-estar animal. “[Essa evolução é percebida]
principalmente em temas que afetam diretamente o consumidor. É notório que nos
últimos anos as empresas desenvolveram muito seus protocolos de bem-estar no
transporte e no frigorífico e também no campo”, relata Paola.
A Cooperativa Frimesa, por exemplo, tem um programa chamado Suíno
Certificado Frimesa, que abrange cinco grandes pilares de produção, sendo um
deles o bem-estar animal. Fabiane Bachega, da gerência de suínos da empresa,
diz que são realizados treinamentos para os produtores de suínos e auditorias
periódicas das granjas.
“São verificados os princípios do bem-estar animal, como boa
alimentação, bom alojamento, boa saúde e comportamento adequado. Já no
frigorífico, temos o médico veterinário responsável pelo bem-estar animal
que acompanha as etapas do desembarque, alojamento dos animais em baias de
descanso e abate e são realizadas auditorias diárias que avaliam desde o
manejo até o momento em que os suínos são insensibilizados”, conta.
Assim mesmo, Fabiane reconhece a dificuldade de aplicar os preceitos de
bem-estar na produção. Por isso, diz que são feitos treinamentos periódicos
para os funcionários do frigorífico, equipe técnica de suínos e
transportadores dos animais vivos. “Precisamos capacitar e conscientizar
constantemente as pessoas envolvidas no processo, e aplicar isso no dia a
dia,” afirma.
Machucados e estresse aparecem na carne
Além das perdas quantitativas, o quadro de estresse apresentado pelos
suínos tem impacto também sobre a qualidade da carne. É que os animais
submetidos a estresse crônico terão suas reservas de glicogênio, principal
fonte energética nas células animais, precocemente esgotadas, produzindo pouco
ácido láctico e insuficiente acidificação post-mortem, o que provoca uma
carne classificada como DFD (do inglês “escura, firme e seca”).
Já se o agente causador do estresse aparecer próximo ao abate, o
metabolismo muscular aumenta, causando aumento da concentração de lactato e a
queda do pH no músculo. O resultado é uma carne PSE (do inglês “pálida,
flácida e exsudativa”, que libera um líquido de aparência viscosa). “Em
qualquer desses dois casos, esses problemas resultam em menor aceitação dos
cortes ‘in natura’ por parte do consumidor, uma vez que essas características
são visíveis, além de aumentar o risco de contaminação microbiana das
carcaças e reduzir o tempo de prateleira do produto”, explica o pesquisador da
Embrapa.
Os cuidados da granja até o frigorífico
O trabalho da equipe da Embrapa envolveu muitas atividades de campo.
“Desenvolvemos vários estudos na área de bem-estar a partir dessa primeira
avaliação e um deles foi a definição dos cuidados que se deve ter da granja
ao frigorífico”, conta o pesquisador Osmar Dalla Costa.
Esses procedimentos começam com o agendamento do horário do embarque.
“É fundamental ser organizado quanto ao embarque porque é preciso programar
também o jejum dos animais. Em média, são necessárias de 8 a 12 horas de
jejum antes do embarque e de 16 a 24 horas no total, até o abate”, recomenda o
especialista.
Durante esse período, o animal apenas bebe água à vontade. O estômago
vazio não é apenas para facilitar o trabalho na linha de produção na
indústria. O jejum ajuda a evitar o vômito e a congestão dos animais no
caminhão, facilita o manejo, reduz o risco de escorregões e quedas diminuindo
a quantidade de dejetos na instalação e no caminhão e melhora o controle da
inocuidade alimentar, uma vez que previne a liberação e a disseminação de
bactérias (principalmente salmonela) durante a evisceração.
Os pesquisadores recomendam também uma maneira adequada de se conduzir os
animais até o caminhão. Primeiro, é preciso limpar as baias, para evitar
escorregões e quedas dos animais e funcionários pelo acúmulo de fezes e
urina. “O embarque envolve esforço físico, mudança de ambiente e exposição
a ruídos aos quais os animais não estão acostumados. E isso causa estresse
nos suínos. Por isso, é preciso que os manejadores tenham calma na condução,
organizem pequenos grupos, de dois a três suínos, e que usem equipamentos
adequados, como luvas, lona, tábua de manejo e chocalhos”, explica o
pesquisador.
O modelo de embarcador também faz diferença. “Até alguns anos atrás, a
última coisa em que o produtor pensava quando construía a granja era no
embarcador. Hoje, é a primeira. Afinal, é de lá que ele tira a produção, o
resultado de tanto trabalho e investimento “, comenta Dalla Costa. O indicado
é que as rampas não superem 21 graus de inclinação. Se forem muito
íngremes, os suínos não vão conseguir subir, causando estresse, possíveis
lesões por escorregões e até mesmo fraturas por quedas. Por isso, o piso
também deve ser feito com material antiderrapante, coberto, cercado com paredes
sólidas e altas e com iluminação. O suíno é naturalmente curioso e tudo o
que for diferente ao que está acostumado vai chamar sua atenção e interferir
no processo de embarque.
Os caminhões se modernizaram e as carrocerias ganharam itens
tecnológicos. “Antigamente eram três andares com baias de 80 centímetros.
Hoje são plataformas móveis e hidráulicas, capazes de reduzir o ângulo de
inclinação e facilitar também o acesso dos funcionários”, conta o
pesquisador.
Já no frigorífico, a situação de estresse pode ser agravada pelo tempo
de espera para o desembarque, a qualidade dos desembarcadouros e a intensidade
do manejo, das condições e do tempo de descanso. Pesquisas mostraram que,
tanto períodos muito curtos, como muito longos, podem ser estressantes para os
animais. A maioria dos estudos sugere que o tempo ideal de permanência nas
baias de espera, sem prejudicar o bem-estar animal, a qualidade da carcaça e da
carne, é de duas a três horas. Ainda é preciso ter mais um cuidado: a
mistura de lotes na área de descanso geralmente causa brigas para os animais
estabelecerem uma nova ordem de dominância. As informações partem da
assessoria de imprensa da Embrapa Suínos e Aves.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 25/04/2025
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,42Farelo de soja à vista tonelada
R$ 1.885,00Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.100,00Milho Saca
R$ 73,25Preço base - Integração
Atualizado em: 24/04/2025 09:50