Porto Alegre, 9 de novembro de 2021 – Em julho deste ano um alerta soou
para a sanidade animal no Brasil, especialmente no setor da suinocultura. A
identificação de um foco de Peste Suína Africana (PSA) na República
Dominicana fez com que autoridades, pesquisadores e produtores voltassem o foco
novamente para essa doença que está erradicada no Brasil desde o fim da
década de 1970. O retorno da PSA ao País pode causar um prejuízo de
aproximadamente 5,5 bilhões de dólares no primeiro ano. “Esse dado foi
calculado no impacto econômico da introdução da PSA nos Estados Unidos, que
estimou em 16,5 bilhões de dólares no primeiro ano de surto, e no número de
matrizes suínas em ambos os países”, explicou a pesquisadora da Embrapa
Janice Zanella, virologista da área de suínos.
“As carnes brasileiras trazem aproximadamente 15 bilhões de dólares de
divisas para o Brasil que exporta hoje 23% da carne suína produzida. Pela lei
da oferta e procura, toda essa carne iria “sobrar” e causar uma grande queda
dos preços, levando a prejuízos para os produtores e desemprego tanto diretos
como indiretos da cadeia da carne suína no Brasil”, completou o pesquisador
Luizinho Caron, também da área de virologia da Embrapa Suínos e Aves.
A PSA é uma doença viral que afeta apenas os suínos e é altamente
contagiosa, não tem cura nem tratamento, causando elevada mortalidade no
rebanho. De acordo com os pesquisadores, atualmente cerca de 78% dos rebanhos
suínos do mundo estão em condição endêmica ou de alto risco para a PSA. E,
ao surgir a doença na República Dominicana, estudos epidemiológicos foram
feitos para determinar a extensão do surto e medidas para a contenção foram
adotadas para eliminar os focos da doença, evitando a disseminação. “Assim
como o vírus chegou a essa ilha das Américas, também pode ter chegado a
outros países. O importante neste momento é auxiliar os países com a
infecção a eliminar a doença e melhorar as medidas de biosseguridade para
evitar a entrada e eventuais pontos frágeis”, explicou Caron. É importante os
países atingidos estarem preparados para reconhecer e diagnosticar a
enfermidade com a maior rapidez possível, uma vez que é impossível ter
medidas mitigatórias que garantam risco zero para a entrada da enfermidade.
Zanella complementa que, por isso, é necessário que se trabalhe em conjunto
com a saúde animal dos países afetados para controlar e erradicar a doença.
Ajude o Brasil a se manter livre da PSA
Orientações aos cidadãos em geral:
* Não trazer produtos de origem animal de viagens ao exterior. Eles podem
trazer não somente a PSA, mas outras enfermidades que acometem rebanhos ou
mesmo à saúde humana.
* Não trazer produtos de caça, especialmente suídeos asselvajados (javalis,
catetos…) e não caçar em países acometidos pela PSA.
Orientações ao produtor:
* Evitar visitas à granja e monitorar todos os visitantes cumprindo todos os
protocolos de sanidade.
* Reportar às autoridades sanitárias quaisquer alterações consideradas
importantes nos animais: doenças hemorrágicas, mortes suspeitas.
* Atenção à alimentação dos animais evitando que comam restos de
alimentação humana, especialmente se contiver carne suína.
* Combater o transporte ilegal de animais, sempre sujeito a riscos sanitários.
* Seguir as leis, normas e recomendações de biosseguridade e investir nessa
área a fim de manter as instalações seguras (veja aqui detalhes).
O Brasil se mantém fora dessa lista de país endêmico e os pesquisadores
frisam que essa condição se deve ao avanço da biosseguridade da suinocultura
brasileira, tanto nas granjas, como nas medidas adotadas pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a importação de animais ou
seus produtos e derivados para evitar a entrada de doenças. Além disso, os
sistemas de vigilância e controle da saúde animal são atuantes e
estruturados, muito diferente de 1978 quando a doença chegou ao Brasil. “Uma
prova da eficiência dos nossos serviços de vigilância e defesa da saúde
animal, é que vários países vizinhos são endêmicos para enfermidades dos
suínos como PEDV (Diarreia Epidêmica dos Suínos) e PRRS (Síndrome
Reprodutiva e Respiratórias dos Suínos) e essas enfermidades ainda não foram
diagnosticadas nos rebanhos do Brasil”, declara Zanella.
Para evitar a chegada da doença, muitas medidas estão em vigor para
garantir a segurança sanitária da carne suína brasileira, como a inspeção.
“Temos um sistema de leis e normas legais, Sistema de Vigilância Sanitária,
normas de importação para animais vivos com quarentena em local seguro (Ilha
de Cananéia, SP), seguimos as normas da OIE para importação de produtos de
origem animal”, numerou Caron.
O Brasil tem ainda um Plano de Contingência Sanitária para o caso de
identificação de suspeita de surto para Peste Suína Africana, além de
inspeção ante e post mortem nos frigoríficos. “O objetivo é que não sejam
abatidos ou sejam considerados aptos para consumo animais com problemas para a
saúde pública. Nesse trabalho são identificadas e notificadas suspeitas de
saúde animal”. Outras normas que garantem a sanidade dos rebanhos brasileiros
é a proibição da criação de suínos em lixões e alimentação com restos
de comida. Recentemente foi implementado o Plano Integrado de Sanidade Suína, o
que inclui monitoramento para PRRS e PSA, além de controle e monitoramento de
suídeos asselvajados. A rede de laboratórios oficiais do Mapa garante a
realização do diagnóstico contra enfermidades de notificação obrigatórias
como a PSA.
Muitos estados também possuem normas de biosseguridade complementares às
adotadas nacionalmente e mantêm empresas estaduais de defesa sanitária animal.
“A equipe de médicos veterinários sanitaristas privados estão todos os dias
no campo atentos aos problemas de sanidade animal e podem reconhecer e
notificar suspeitas de saúde animal com rapidez”, declara o pesquisador da
Embrapa.
No entanto, os cientistas deixam claro que não existe sistema com
segurança total e por isso é importante estar sempre alerta às suspeitas da
doença, sejam clínicas ou patológicas e informar imediatamente aos órgãos e
sistemas responsáveis.
Não é possível “blindar” completamente um estado ou país de doença,
sem tornar a produção inviável devido ao elevado custo. Por isso, a equipe
técnica da Embrapa enfatiza que é preciso investir e garantir a
biosseguridade. “É o mais recomendado para os produtores de suínos, pois a
biosseguridade busca um equilíbrio entre manter as margens de lucro e a
segurança sanitária dos rebanhos”, fala Caron.
As recomendações passam por estar atento a logística de transporte,
fábricas de ração e frigoríficos de suínos, além de redobrar a vigilância
com relação ao transporte ilegal de animais, uso de alimentos ou restos de
alimentação humana que possam conter derivados de carne suína na
alimentação de suínos sem prévio tratamento térmico.
Zanella destaca ainda a importância de o produtor comunicar as autoridades
sanitárias sobre qualquer suspeita compatível com enfermidade hemorrágica,
ou com elevada mortalidade no plantel, não receber visitas nas granjas,
principalmente de estrangeiros provenientes de regiões endêmicas. “As granjas
são locais de produção de alimento, não pontos turísticos, por isso, as
visitas devem ser restritas e controladas”, alerta a cientista.
A comunicação é outro ponto importante neste trabalho. “Toda a
comunidade deve estar informada para que possam fazer a sua parte e ajudar a
reduzir o risco de introdução ou de disseminação da doença no país”. E
muitas são as formas de evitar a contaminação, como, ao viajar, não trazer
produtos de origem animal na bagagem, evitar visitar granjas ou locais com
suínos em países endêmicos, evitar caçar em países com a doença em
suídeos selvagens e principalmente não trazer troféus ou produtos da caça.
A PSA e seus sintomas
A Peste Suína Africana (PSA) é uma doença hemorrágica de suínos,
exótica e de notificação obrigatória. Por ser uma doença exótica e que
pode se assemelhar a outras clinicamente, inclusive a Peste Suína Clássica
(PSC), o diagnóstico laboratorial deve ser realizado em laboratórios oficiais
do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A PSA foi identificada inicialmente na África, há um século, mas
atualmente está presente em vários países produtores de suínos na Ásia,
África, Europa e, mais recentemente, nas Américas, como na República
Dominicana, onde foi identificada em julho de 2021. O vírus da PSA (VPSA)
infecta várias espécies de suídeos: suínos domésticos e selvagens, javali
europeu, warthogs e bushpigs. Os dois últimos são os hospedeiros naturais do
vírus na África e nessas espécies não se observam sinais de doença.
O período de incubação do vírus da PSA é de quatro a 19 dias e a
doença pode ser apresentar nas formas aguda, subaguda e crônica em suínos de
todas as faixas etárias. Os sinais da forma aguda são: inapetência, febre,
leucopenia, petéquias e hemorragias na pele (orelhas, flancos) e elevada
mortalidade. A sintomatologia subaguda ou crônica inclui abortos, sintomas
respiratórios e baixa mortalidade. As lesões dependem da forma de
apresentação clínica da PSA e da variante viral, mas nas formas aguda podem
ocorrer hemorragias extensas em órgãos internos (baço, linfonodos e rins),
hidropericárdio, hidrotórax, ascite, edema no trato alimentar. Na subaguda
observam-se hemorragias em linfonodos, rins e baço (aumentado), congestão,
edema pulmonar e pneumonia intersticial. Já na crônica ocorrem lesões no
trato respiratório, linfonodos e baço. As informações partem da assessoria
de imprensa da Embrapa Suínos e Aves.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 01/08/2025
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R$ 1.640,00Casquinha de soja à vista tonelada
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R$ 68,25Preço base - Integração
Atualizado em: 05/08/2025 09:30