Porto Alegre, 17 de dezembro de 2019 – É fim de ano e chega a hora de os
suinocultores analisarem o mercado e se prepararem, por meio de informação
qualificada e dados atualizados, para o cenário de 2020. Até novembro, os
produtores observaram uma elevação contínua no preço do suíno vivo.
Mesmo com o aumento dos abates de suínos em 2019 em relação ao ano
passado, os preços no mercado brasileiro seguem crescentes, ancorados
principalmente nos volumes relativamente altos de exportação, especialmente
para a China. Os valores nominais de todas as regiões acompanhadas pelo CEPEA
atingiram recorde dia 27/11/19.
Segundo o CEPEA, o aumento na procura doméstica se deve ao período de
final de ano, quando atacadistas começam a formar estoques. Além disso, o
preço recorde da principal carne concorrente, a carcaça casada bovina, tem
feito com que consumidores migrem para outras fontes de proteína que apresentem
valores mais competitivos. “Desde o final de outubro, a alta do boi gordo tem
contribuído para alavancar a competitividade da carne suína no varejo. Mais
recentemente, com a aproximação dos festejos de fim de ano, também o frango
experimenta alta de preços, o que determina um cenário com viés de
manutenção ou mesmo alta do preço do suíno até o fim do ano e boas
perspectivas para 2020”, apontou o presidente da Associação Brasileira dos
Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes.
Atenção ao mercado de carne bovina
As exportações de carne suína para China são o principal motivo da
subida dos preços pagos ao produtor, porém, o recente aumento do preço do boi
gordo contribui na manutenção dos preços elevados do suíno no varejo,
melhorando a competitividade da carne suína. Segundo o CEPEA, a competitividade
da carne suína frente à bovina registrou, em novembro, o maior patamar da
série histórica do CEPEA. A carcaça suína esteve 5,6 reais/kg mais barata
que a carcaça casada bovina em novembro, elevação de 54,3% na competitividade
frente à verificada no mês anterior.
Segundo informações de consultoria repassadas a ABCS, o Brasil passou a
contar com 98 unidades frigoríficas aptas a exportar para a China, sendo 36 de
carne bovina, 16 de carne suína e 46 de carne de frango. Também recentemente a
Arábia Saudita habilitou oito novos frigoríficos para a exportação de carne
bovina e derivados.
A consultoria acredita que as vendas externas devem seguir aquecidas, com
as compras chinesas de proteínas para abastecer o mercado interno para o Ano
Novo Chinês, em 25 de janeiro. Além das exportações em alta, outros fatores
ajudam a explicar esses valores elevados para a carne bovina, como a entressafra
do boi, com pouca oferta de animais para o abate, seja confinado ou de pasto; o
atraso das chuvas esse ano, o que vem prejudicando a recuperação das
pastagens; e o câmbio elevado, muito favorável à exportação, mantendo a
competitividade da carne brasileira no mercado internacional.
Ainda segundo a consultoria, a elevada volatilidade dos preços estimula o
produtor a segurar as vendas do boi, com medo de perder dinheiro. Em janeiro os
preços devem começar a ceder de forma mais consistente em função do início
da safra do boi, com pastos já disponíveis para os animais, além disso, a
demanda interna deve começar a diminuir, o consumidor deve sentir as altas do
varejo, que tornarão o preço restritivo para determinada parcela da
população, que migrará o consumo para as outras carnes, peixes, ovos, leite e
derivados.
Segundo a consultoria, as exportações brasileiras de carne bovina
seguirão fortes, porém poderá ocorrer uma diminuição no ritmo das
importações chinesas após o Ano Novo do país, uma vez que os estoques
estarão abastecidos e os outros mercados devem reduzir as importações devido
aos preços mais elevados. O preço do boi deve ceder, porém permanecerá em
patamares mais elevados que no passado recente. Os preços da carne no atacado e
no varejo também devem seguir elevados e um novo equilíbrio entre oferta e
demanda será encontrado.
A ameaça da PSA e o fator China
Segundo o Rabobank, em outubro de 2019 foram feitas 317 notificações de
ocorrência de Peste Suína Africana (PSA) junto a OIE em todo mundo e, em
novembro, esse número aumentou para 2.536 (aumento de 800%.). Destaca-se que
recentemente o vírus da PSA foi diagnosticado na Polônia, em uma região a
cerca de 50 km da fronteira com a Alemanha que, atualmente, é a segunda maior
exportadora de carne suína para China. Por outro lado, o impacto da PSA na
China é tão grande que, segundo o Conselho Internacional de Avicultura (IPC),
a expectativa de queda acentuada da produção de suínos da China este ano –
que até então possuía cerca de metade do rebanho mundial – deve fazer com que
a carne de frango ultrapasse a suína como a proteína animal mais consumida no
mundo.
A epidemia de Peste suína africana na China, oficialmente iniciada em
agosto de 2018 e que ainda persiste, dizimou ao redor de 40% do rebanho suíno
daquele país. Esta redução do plantel suíno chinês gerou uma demanda por
aumento da importação não somente da carne suína, mas também das outras
proteínas (bovino e frango).
Estima-se que a suinocultura chinesa demorará de 3 a 5 anos para recuperar
sua produção, dependendo da eficácia das medidas de controle da doença, que
ainda está ativa, porém, assim como a redução do rebanho suíno
proporcionou oportunidade para a exportação de outras proteínas, é possível
que o investimento em outras cadeias no país, como avicultura e piscicultura,
além da maior importação de carne bovina e de frango podem resultar em
redução da demanda externa por carne suína na China antes da recuperação do
seu rebanho suíno, com a mudança gradual de hábito alimentar.
No momento, segundo a consultoria, a queda de produção devido à peste
suína faz com que haja demanda para todos os tipos de carne e mesmo assim não
será possível suprir todo o déficit chinês no próximo ano.
Por outro lado, ainda segundo a consultoria, os preços da carne suína na
China começaram a apresentar quedas, mostrando um limite de preços a ser pago
pelo consumidor. Na semana 47 (22/nov/19), por exemplo, o preço apresentou
queda de 8,2% em relação à semana anterior, com o quilo cotado a 45,80 yuans.
Insumos determinam alto custo de produção
Segundo o CEPEA, a procura aquecida e a retração vendedora têm mantido
os preços do milho em forte alta em todas as regiões levantadas pela entidade.
No acumulado de novembro, os avanços nos valores superaram os 14% em algumas
regiões. Os preços no interior do País seguem acima dos verificados na
região dos portos, o que tem feito com que os poucos vendedores ativos e
detentores de lotes da segunda safra direcionem o milho ao mercado interno.
A exportações de milho continuam aquecidas e o volume total embarcado em 2019
deverá superar a marca de 40 milhões de toneladas.
Segundo o Rabobank, o fortalecimento da demanda interna pela indústria de
proteína animal e etanol tende a dar suporte às cotações de milho no Brasil.
Além disso, alta taxa de câmbio limitaria quedas na paridade de exportação,
dando sustentação às cotações do cereal no mercado brasileiro.
Os bons patamares de preços e demanda internacional, tendem a aumentar a
produção de carnes e, consequentemente, o consumo do cereal para ração no
Brasil. Além disso, com a possibilidade de incremento de produção de 1
bilhão de litros de etanol de milho em 2.020, a demanda adicional somente dessa
indústria seria equivalente à aproximadamente 2,5 milhões de toneladas do
cereal.
No total, o consumo doméstico brasileiro pode alcançar 68 milhões de
toneladas em 2020, 6% superior ao ano anterior. Destaca-se a projeção de
aumento de consumo de milho em 2020, com relação a 2019 e redução do estoque
de passagem de 2019 para 2020 a patamares similares de percentual de
estoque/consumo (10%) ao ano de 2016, quando houve desabastecimento e preços
nominais recorde do cereal. Além disso, em função do atraso do plantio da
primeira safra, é projetada uma produção inferior de milho na safra 2019/20
(98, 3 milhões de ton), em relação a safra 2018/19 (100 milhões de
toneladas). Todos estes fatores devem manter os preços do milho em alta, quando
comparados com anos anteriores.
Perspectivas para 2020
Segundo cálculos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), em 2020 a pecuária deverá crescer 14,1% e alcançar uma receita
“dentro da porteira” de 265,8 bilhões de reais, com perspectivas de aumento
significativo da produção. Para a carne suína, a estimativa é de expansão
de 9.8% do valor bruto de produção (VBP) na comparação de 2020 com 2019;
para a carne bovina, a estimativa é de expansão de 22,2% no VBP, a pecuária
de leite deve crescer 7,5% e frango 7,1%. Já o Rabobank projeta um crescimento
da produção de carne suína brasileira (em toneladas) ao redor de 4% em 2020.
Além do aumento do aumento da produção estima-se, que em 2020, as
exportações totais de carne suína (in natura e processada), se aproximem de 1
milhão de toneladas.
Considerando a manutenção da competitividade da carne suína no varejo em
relação à carne bovina e projetando-se uma lenta e gradual recuperação da
economia brasileira, os preços pagos ao produtor devem se manter em patamares
relativamente altos que, mesmo com o custo de produção elevado, em função da
conjuntura do milho, devem determinar margens financeiras positivas ao
suinocultor.
Para o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, em função da alta da carne
bovina, a competitividade da carne suína no varejo aumentou, mesmo com o maior
valor pago ao produtor. Isto, segundo ele, cria uma oportunidade ímpar de
disponibilizar a carne suína in natura para o consumidor brasileiro, com
preços atrativos, sem que o produtor comprometa sua rentabilidade.
Ele ressalta que suinocultor precisa buscar a antecipação da compra do
milho, garantindo um teto de custo para 2020, pois será um ano com risco de
redução significativa de oferta do grão, em relação ao aumento da demanda,
com preços elevados e risco de desabastecimento. Para tanto, dentre outros,
precisa conhecer a composição de custos de seu sistema produtivo e ficar
atento aos movimentos do mercado, que incluem questões climáticas no Brasil e
alterações na dinâmica mundial de produção e consumo.
“Importante ressaltar que mesmo que as projeções de recuperação da
suinocultura da China sejam de mais de 3 anos, não se pode confiar que esta
grande demanda pela carne suína brasileira se mantenha por tanto tempo, pois
há outras proteínas concorrentes e outros grandes exportadores de suínos
também. Portanto, é preciso que o suinocultor se prepare para eventual queda
de demanda de carne suína brasileira em 2021, agravada pelo natural aumento de
oferta motivado pelo atual preço. Dois pontos que devem ser prioritários no
próximo ano: biosseguridade e reinvestimento na produção, com agregação de
tecnologia e busca de maior sustentabilidade”, destacou. As informações
partem da assessoria de imprensa da ABCS.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 30/04/2025
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,42Farelo de soja à vista tonelada
R$ 1.836,67Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 72,23Preço base - Integração
Atualizado em: 06/05/2025 09:25