AGRICULTURA: Tropas russas apreendem ativos na Ucrânia

Porto Alegre, 21 de março de 2022 – Tropas russas na Ucrânia estão
apreendendo e destruindo máquinas agrícolas, fertilizantes, sementes e
estoques de combustível, segundo vários agricultores na Ucrânia, colocando em
risco as novas colheitas de um dos mais importantes fornecedores mundiais de
trigo, milho e óleo de girassol.

As ações das tropas russas também estão colocando em risco a campanha
de plantio da primavera e os rendimentos das culturas de inverno – trigo,
cevada, colza etc. A campanha de comercialização de 2022/23 (julho-agosto)
provavelmente diminuirá.

Uma das maiores propriedades agrícolas da Ucrânia, Harveat, perdeu o
controle de 98.000 hectares na região de Donetsk, na parte leste do país. A
empresa também tem acesso limitado aos 22.000 hectares restantes que estão
situados em Kiev, 70% dos quais estão dentro da zona de combate.

De acordo com Tatiana Alaverdova, chefe de vendas da Harveat, a empresa
havia perdido o contato com sua equipe na região de Donetsk há algum tempo.
Isso significa que parte dos ativos, máquinas em particular, podem ter sido
destruídas ou apreendidas pelas forças russas.

A empresa havia plantado trigo de inverno em cerca de 38.000 hectares na
região de Dontetsk. Os fertilizantes foram usados em menos de 40% dessa área,
levando a uma queda nos rendimentos. A Harveas pode não conseguir fazer muito
trabalho em sua campanha de plantio de safras de primavera até que obtenha
controle total sobre seus ativos.

A empresa também está impedida de vender safras antigas, pois perdeu o
controle sobre quase todos os seus estoques de ganhos, disse Tatiana.

A agrogeneration – outra agroholding, que opera terras na região de
Kharkiv – também relatou dificuldades na implementação do trabalho de campo
devido à proximidade com os combates.

A empresa vem enfrentando dificuldades na compra de insumos agrícolas.
Também teve que remover ou deslocar máquinas após vários ataques de
militares russos que atualmente ocupam a região de Kharkiv, de acordo com
Sergey Bulavin, CEO da Agrogeneration.

As tropas russas também atacaram máquinas agrícolas em outras partes da
Ucrânia, de acordo com agricultores que trabalham com diferentes empresas
comerciais.

As colheitas de primavera, milho e sementes de girassol em particular,
podem ser plantadas em 30%-40% da área inicialmente plantada na Ucrânia,
enquanto as culturas de inverno – trigo e cevada – podem ter rendimentos mais
baixos, de acordo com várias fontes no terreno. Isso reduziria o potencial de
exportação de grãos da Ucrânia para a campanha de comercialização de
2022/23, bem como para 2021/22. O potencial de exportação também seria
reduzido devido ao bloqueio dos principais portos marítimos, que respondem por
mais de 90% dos fluxos de exportação. É provável que isso coloque em risco a
segurança alimentar global e leve a novos aumentos nos preços.

A S&P Global Commodity Insights avaliou o trigo FOB Black Sea (Ucrânia
Deep Sea, 11,5% de proteína) a US$ 415/t em 18 de março, US$ 67 a mais em
relação a 24 de fevereiro, quando a guerra começou. O trigo proteico FOB Mar
Negro 12,5% (Rússia) foi avaliado em US$ 60 a US$ 420/t no mesmo período.

Na campanha de comercialização de 2021/22, espera-se que a Ucrânia seja
o maior exportador mundial de óleo de girassol, entre 5,5 milhões e 6 milhões
de toneladas e um dos quatro maiores exportadores de trigo, com volumes entre
24 milhões e 25 milhões de toneladas juntamente com a UE (37,5 milhões de
toneladas) , Rússia (35 milhões de toneladas) e Austrália (27,5 milhões de
toneladas).

Também deve estar entre os quatro maiores exportadores de milho, entre 33
milhões e 34 milhões de toneladas, atrás dos EUA (63,5 milhões de
toneladas), Brasil (43 milhões de toneladas) e Argentina (39 milhões de
toneladas). Também deve exportar 5,8 milhões de toneladas de cevada, apenas
abaixo da Austrália (9 milhões de toneladas) e da UE (7,5 milhões de
toneladas), segundo a Platts Analytics da S&P Global, o Departamento de
Agricultura dos EUA e outras fontes do mercado. As informações partem da S&P
Global Platts.

Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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