Agronegócio

Agronegócio deve bater novo recorde de exportação

2 de agosto de 2021
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A importância do agronegócio para o comércio internacional do Brasil e, em consequência, para as reservas nacionais e a valorização das ações das empresas do setor na bolsa, tem crescido ao longo dos anos. A tendência é de manutenção deste cenário diante da perspectiva de novo recorde histórico a ser atingido em 2021, quando as exportações do setor devem superar US$ 105 bilhões, acima do resultado do ano passado, de US$ 101 bilhões, conforme projeção da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A soja em grão permanece como carro-chefe do agronegócio, com previsão de exportação entre 85 milhões e 87 milhões de toneladas, equivalentes a cerca de US$ 38 bilhões, valor mais elevado que os US$ 28,6 bilhões do ano passado e 82,9 milhões de toneladas. Apesar de positivo para o setor, o cenário acena para mudanças relevantes à vista.

Após seis anos na liderança da pauta de exportações totais do país, a soja deve ceder o posto para o minério de ferro neste ano. O comportamento dos preços das commodities ditará o desempenho do comércio internacional. “A soja será o segundo maior item exportado. Tudo indica que o minério voltará a ser o principal em 2021, por causa do aumento dos preços”, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB. Ainda assim, o Brasil permanece na posição de maior exportador mundial de soja em grão. A mudança de cenário ocorreu neste ano e surpreendeu a AEB. O aumento do preço do minério de ferro, que passou de US$ 65 (média do ano) para US$ 128 a tonelada, no primeiro semestre de 2021, foi decisivo para a das projeções. “A tendência é de alta”, ressalta Castro

O valor da tonelada de soja em grão também subiu, mas em proporções inferiores. A alta foi de 22%. Já em relação ao volume, a perspectiva é de queda no segundo semestre em relação à quantidade exportada entre janeiro e junho deste ano, de 59 milhões de toneladas, o que equivale a 70% do total projetado para o ano. “Hoje, o que está em questão é o preço. Na importação, vemos aumento de quantidade e pequeno aumento de preço. Nas exportações, há grande elevação de preços e pequena alteração nos volumes comercializados”, diz Castro. As importações do agronegócio, conforme a AEB, devem fechar o ano em US$ 17 bilhões, valor superior aos US$ 14 bilhões de 2020.

A pressão sobre preços, que devem permanecer em patamares superiores aos de 2020, resulta do aumento da demanda por produtos agrícolas no mercado global, sobretudo por parte da China. O mundo passa atualmente por um processo de recomposição de estoques e, paralelamente, o Brasil vem ampliando sua produção. “O cenário para a balança comercial do agronegócio é muito positivo”, diz Lígia Dutra, diretora de relações internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Além do complexo da soja, está previsto crescimento das vendas externas de açúcar, algodão e de carnes suína e bovina. As exportações de algodão cresceram 19,40% no ano-safra 2020/2021 em relação ao anterior, devido, em boa parte, à campanha bem-sucedida de promoção do produto na Ásia. Segundo Lígia Dutra, apenas o milho deverá registrar queda de exportação em função do atraso na safra deste ano.

A projeção da CNA sobre o desempenho do comércio de milho está em linha com a da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Sérgio Mendes, diretor da instituição, observa que a seca em 2021 resultará na redução de 20% da safra. “Devemos importar milho este ano. Além disso, as exportações serão menores, ficando em cerca de 20 milhões de toneladas, menos que os 33 milhões de 2020”, diz Mendes. As importações deverão chegar a de 3,1 milhões de toneladas, provenientes, basicamente, da Argentina e do Paraguai. Em 2020, o Brasil foi o segundo maior exportador internacional do grão, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2021, seguindo tendência das demais commodities, os preços do milho também subiram. “Estamos em novo ciclo de alta, que deve ser de médio prazo. Hoje, o preço médio do milho no Brasil já é o mais alto do mundo”, afirma. As exportações de milho entre janeiro e junho de 2021 alcançaram US$ 734,8 milhões e no mesmo período de 2020 foram de US$ 561,6 milhões. Nos cinco primeiros meses de 2021, o preço da tonelada de milho aumentou 20%; a do farelo de soja, 26%; e a de óleo, 62%.

Ainda assim, a pressão sobre preços do agronegócio não tem acompanhado o ritmo de alta nos demais produtos exportados, como minério e petróleo. Por conta disso, o setor agrícola respondeu, no primeiro semestre de 2021, por 45,3% no total das exportações brasileiras, participação inferior aos 50,5% do mesmo período do ano passado, conforme a CNA. Nada que represente motivos de preocupação. Ao contrário. Trata-se do segmento mais representativo na balança comercial do país. “O Brasil tem vocação para contribuir com o abastecimento do mundo, é uma grande oportunidade de negócios”, diz Elisio Contini, autor, ao lado de Adalberto Aragão, ambos da Embrapa, do estudo “O Agro no Brasil e no mundo: uma síntese do período de 2000 a 2020”. No ano passado, o país foi o maior exportador global de grãos, em valor. Foram US$ 37 bilhões, relativos a 123 milhões de toneladas, o que representou 19% das vendas internacionais. Nos últimos 20 anos, o agronegócio exportou mais de 1,1 bilhão de toneladas, US$ 419 bilhões, equivalentes a 12,6% do total comercializado no mundo.

Neste ano, nos cinco primeiros meses, o volume de produtos exportados pelo agronegócio nacional cresceu cerca de 7% ante igual período de 2020, segundo Andreia Adami, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A pressão global por maior importação de produtos agropecuários, segundo a especialista, vem da preocupação com segurança alimentar, em decorrência da pandemia da covid-19.

“Muitos países estão interessados em aumentar a compra de alimentos também para estocagem de produtos. A tendência é de crescimento de 15% na importação de alimentos no comércio comercio mundial este ano”, destaca.

As exportações de soja em grão, entretanto, tiveram desempenho inferior, com pequena alta de apenas 1%, nos primeiros cinco meses de 2021. O atraso na colheita no início do ano afetou os embarques, contribuindo para elevação de preço. Houve problemas climáticos, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, outro grande produtor. Ainda assim, a safra deste ano, conforme Daniel Amaral, economista-chefe da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), será cerca de dez milhões de toneladas superior à de 2020, o que ampliará a exportação de grãos em 4,5%, conforme projeção da Abiove, embora reduza a industrialização da soja no país, gerando menos farelo e menos óleo. O complexo da soja (grão, farelo e óleo) exportou US$ 35,2 bilhões em 2020. Para este ano, a Abiove estima valor total de US$ 52,4 bilhões, equivalente a cerca de 50% das exportações previstas para todo o agronegócio, refletindo, sobretudo, a alta de preços da commodity, mas também maior volume.

A China permanece como principal mercado importador, concentrando 69% das vendas externas brasileiras de soja no primeiro semestre deste ano e com previsão de adquirir, até dezembro, 103 milhões de toneladas de soja em grão do Brasil, superior aos cem milhões de toneladas de 2020. A segunda posição, da União Europeia, de 15%, demonstra o elevado nível de concentração das vendas brasileiras para o mercado chinês.

“A China representa quase 60% das importações mundiais”, diz Amaral, lembrando que o crescimento das exportações brasileiras de soja ocorreu de forma mais acelerada em 2018, com a guerra comercial entre China e Estados Unidos, segundo maior produtor global. Com a normalização das relações, a tendência é de aumento das vendas dos Estados Unidos para o mercado chinês. Até porque a diversificação faz parte da estratégia chinesa. O Brasil, por sua vez, atua para abrir e ampliar mercados, como o do Sudeste Asiático e o africano, que tendem a demandar mais grãos com o maior acesso da população à segurança alimentar.

Ainda assim, Lígia Dutra, da CNA, observa que há espaço para exportações de novos itens para a China. “É um mercado importante e o Brasil explora pouco as oportunidades. Quando se pensa no agronegócio como um todo, há espaço para mais parcerias na Ásia”, afirma, citando exportação de mel, frutas frescas, fruta processada, café e castanhas. Com esse objetivo, a CNA abriu escritório em Xangai. “É a região do mundo com maior crescimento da população e de renda. Nossa presença na Ásia é menor do que deveria ser. O que o Brasil tiver para vender, terá gente para comprar.”

 

Fonte: Valor Econômico

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