Porto Alegre, 15 de agosto de 2014 – Os estoques de passagem de café do
Brasil estão se esgotando e o principal produtor global deverá ter
dificuldades para acumular excedentes nos próximos anos, depois da maior seca
de sua história recente, disse o presidente Centro do Comércio do Café do
Estado de Minas Gerais (CCCMG), Archimedes Coli Neto.
O Brasil consumiu cerca de 16 milhões de sacas entre abril e julho, para
exportação e consumo interno, estimou o executivo em entrevista à Reuters,
citando um volume superior aos estoques estimados pelo governo em 31 de março,
de 15,2 milhões de sacas. “Teoricamente este ‘carryover’ não existiria
mais, mas ele se confunde porque nós tivemos uma safra antecipada este ano e o
café novo está sendo misturado com o ‘carryover'”, disse ele.
Minas Gerais, principal Estado produtor de café, está na fase final de
colher, com quebra de safra entre 30% e 35% em algumas áreas. As exportações
foram fortes no primeiro semestre, e Coli Neto disse que o Brasil deverá
exportar entre 34 milhões e 35 milhões de sacas em 2014, com consumo interno
de 20 milhões de sacas.
A safra 2014 deverá ficar abaixo de 45 milhões de sacas, provocando
aperto na oferta, e já há preocupações sobre os efeitos da seca para a
colheita de 2015. Isso significa que o Brasil, que no século passado chegou a
acumular estoque de 100 milhões de sacas e até queimou o produto para elevar
os preços internacionais, vislumbra um futuro sem precedentes, sem estoques de
café em seus armazéns.
“Dificilmente o Brasil vai conseguir formar estoques reguladores de
novo”, disse Coli Neto, que representa produtores, exportadores e operadores,
como presidente do centro de comercialização com sede em Varginha.
Engenheiros agrônomos estão indicando um crescimento de galhos abaixo da
média nos cafezais atingidos pela seca, além de problemas incomuns, como
ferrugem das folhas, em agosto. Coli Neto disse que muitos produtores podem
optar por podar seus pés de café no próximo ano, na esperança de colocá-los
em forma para o desenvolvimento de frutos em 2016.
Os preços do café arábica subiram para máximas de dois anos devido às
preocupações com a seca, mas muitos produtores brasileiros não estão
vendendo sua safra 2014, convencidos de que os preços irão subir ainda mais,
disse o executivo.
Mesmo antes da seca, que foi considerada a pior dos últimos 42 anos, os
produtores já planejavam ajustes e meios de melhorar a produtividade das
plantas, reduzindo as oscilações dos ciclos bianuais, disse Coli Neto.
“Acredito que vamos oscilar entre 45 milhões e 50 milhões de sacas, a não
ser que tenhamos problemas climáticos.”
Em anos anteriores, a poda era feita em não mais do que 5 por cento dos
cafezais a cada ano, mas agora eles estão optando por desbastar 25 a 30 por
cento das plantas, o que adia a produção para a temporada posterior. “Estamos
cada dia mais produzindo o que o mercado demanda”, disse. As informações
são da Reuters.
Edição: Cândida Schaedler (candida.schaedler@safras.com.br) / Agência
SAFRAS
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