SAFRAS (10) – Nas últimas três décadas, a Bahia tem contribuído para
que o Brasil mantenha a posição de maior produtor e exportador, além de
segundo maior consumidor de café em nível mundial. O Estado, nos últimos
anos, não só agregou o café à sua produção agrícola, como também se
tornou uma das grandes regiões produtoras de café arábica no Brasil – além
de também produzir café conilon. Essa conquista é resultado da articulação
da pesquisa, ensino, extensão rural e do setor produtivo, fortalecida pelo
Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Unidos, eles vêm
obtendo resultados positivos nos índices de produção, produtividade e
melhoria da qualidade.
Como reflexo desse esforço conjunto, a Bahia é o quarto maior produtor de
café do Brasil, atrás de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Em 2014,
deverá atingir o volume de 1,9 milhão de sacas (Conab/2014). O Cerrado da
Bahia, localizado no oeste do Estado, emprega tecnologia de ponta e vem obtendo
altos índices de produtividade quando comparado às áreas irrigadas de outros
Estados produtores. Nessa região, a produção do café apresenta uma área
total cultivada de 14.910 hectares de café arábica, sendo a grande maioria
irrigada pelo sistema de pivô central.
Segundo a Conab, as tecnologias empregadas na região Oeste, aliadas a um
solo de relevo plano e às condições climáticas, permitem que a colheita seja
100% mecanizada. Em 2014, a região deverá produzir 456 mil sacas de café
arábica – o que representa uma produtividade de 38,5 sacas por hectare. A
qualidade do café produzido no Cerrado da Bahia permite que o produto seja
colocado com mais facilidade no mercado externo.
Papel da pesquisa e transferência de tecnologia – O desenvolvimento da
cafeicultura na Bahia se deve muito ao apoio da Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola – EBDA, instituição participante do Consórcio
Pesquisa Café. A instituição vem facilitando o acesso de pequenos
cafeicultores a tecnologias, além de promover concursos de qualidade,
realizados em parceria com a Associação dos Produtores de Café da Bahia –
Assocafé, Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense – Coopmaq e
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb, instituição de destaque
no desenvolvimento da cafeicultura baiana, em especial nas regiões do Cerrado,
Planalto e Atlântica.
Para fomentar a atividade cafeeira no Estado, a Secretaria de Agricultura,
Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura – Seagri, por meio
da EBDA, implantou, nos últimos anos, aproximadamente 30 projetos de pesquisa
na área de fertilidade do solo, fitossanidade de lavouras, densidade de
plantios, competição de variedades e melhoria da qualidade, por meio de
técnicas de processamento. Os projetos foram instalados nas regiões Oeste,
Chapada Diamantina, Planalto de Vitória da Conquista, Serrana de Itiruçu e
Brejões. “Também foi e está sendo incentivado o desenvolvimento e
aplicação de tecnologias voltadas para melhorar a produtividade, como a
arborização, e a qualidade do café produzido, por meio da instalação de
terreiro de cimento e/ou suspenso e de pequenas máquinas de despolpamento e
beneficiamento voltadas para atender a pequena produção”, disse Ramiro do
Amaral, coordenador do Programa Café da EBDA.
Segundo a professora titular do Departamento de Fitotecnia e Zootecnia da
Uesb, Sandra Elizabeth Souza, doutora em Proteção de Plantas pela Universidade
Estadual Paulista – Unesp, uma prática que tem sido bastante utilizada em
toda a região do Planalto da Bahia é a secagem do café por meio de terreiros
de cimento cobertos por estufas de plástico transparente, que recebem a luz do
sol, absorvem o calor e, manejadas adequadamente, promovem a pré-secagem ou a
secagem do café em aproximadamente 3 dias.
Há ainda o Programa do Café da Seagri, coordenado pela EBDA, que assiste
anualmente cerca de sete mil produtores por meio de seminários, capacitações,
palestras, dias de campo, treinamentos, excursões e visitas às unidades
demonstrativas e orientação creditícia em parceria com agentes financeiros. O
foco do trabalho é a transferência de tecnologia e assistência técnica.
Além disso, a EBDA acompanha a safra cafeeira, com o levantamento dos
dados da produção em 360 propriedades no Estado. A empresa vem intensificando
os trabalhos com os agricultores familiares, público-alvo, em parcerias com
prefeituras. Os resultados podem ser percebidos nos índices de produtividade e
na qualidade da produção do Estado.
Tecnologias adaptadas à região – Cafeicultores da Bahia, Goiás e Minas
Gerais que produzem em região de Cerrado utilizam tecnologias de estresse
hídrico controlado e adubação fosfatada com excelentes resultados na
produção. As técnicas foram desenvolvidas pela Embrapa Cerrados, no âmbito
do Consórcio Pesquisa Café. Estima-se que cerca de 36 mil hectares de café
desses Estados sejam cultivados com essas tecnologias.
A tecnologia do estresse hídrico controlado, revoluciona a prática
tradicional da irrigação frequente e continuada, garante aumento da
produtividade (em torno de 15%), mais qualidade e menor custo, sendo alternativa
para a sustentabilidade da cafeicultura no Cerrado. A técnica consiste em
suspender a irrigação na estação seca do ano durante um período de 72 dias
(sendo o período ideal entre 24 de junho e 4 de setembro), para sincronizar,
uniformizar o desenvolvimento dos botões florais (florada) e, consequentemente,
dos frutos (maturação) – o que garante um café de melhor qualidade. Esse
processo tecnológico permite a obtenção de 85% a 95% de frutos cerejas no
momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior
valor de mercado. Para a adoção dessa prática, não há necessidade de
investimento.
Em decorrência dessa uniformização, o número de passadas de
colheitadeiras diminui, reduzindo a operação de máquinas (em torno de 40%).
Além disso, garante a redução de grãos mal formados (em torno de 20%) e dos
custos de produção com água e energia (em média de 35%). “Os cafeeiros
submetidos ao estresse controlado não só cresceram mais como também se
apresentaram em melhores condições para a safra seguinte. É o chamado
crescimento compensatório, um estímulo ao crescimento após o reinício das
irrigações”, disse o Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café,
Antônio Guerra, que é responsável por essas tecnologias. De acordo com o
pesquisador, o manejo adequado das aplicações da água de irrigação
associado ao estresse hídrico controlado representa a melhor opção para
evitar perdas de nutrientes por lixiviação e fornecer condições propícias
de umidade do solo, para que as raízes possam respirar adequadamente e atender
à demanda nutricional da planta.
Adubação fosfatada em café – A partir do desenvolvimento da tecnologia
do estresse hídrico controlado, as pesquisas sobre aplicações crescentes de
fósforo no cafeeiro foram intensificadas. Existia uma demanda crescente por
informações sobre a influência da adubação fosfatada no desenvolvimento,
vigor, sanidade das plantas e pegamento da florada e ainda a ideia de que o
nível de fósforo observado nas análises do solo de alguma forma não
representava o que realmente estava disponível para os cafeeiros. “Os
resultados demonstraram que o ajuste nutricional é necessário também nas
lavouras de sequeiro”, completa Guerra.
O estudo questionou os critérios de recomendação de adubação fosfatada
no cafeeiro que, por muitos anos, foi considerado uma planta que não respondia
à aplicação de altas doses de fósforo. E comprovou que a adição do
fósforo traz benefícios para a planta tanto em solos de média a alta
fertilidade como também em solos de baixa fertilidade, como os do Cerrado, onde
a planta responde com grande intensidade. Analisando lavouras em produção no
Cerrado, chegou-se à conclusão de que a aplicação ou não de fósforo era o
principal fator que diferenciava as áreas com repetição de safra das áreas
de baixo pegamento de florada. “Cafeeiros que não receberam fósforo na
adubação de manutenção apresentaram sintomas de deficiência desse nutriente
e pouca ou nenhuma formação de gemas reprodutivas e pegamento de florada. Por
outro lado, os que receberam doses razoáveis de fósforo mostraram bom
desempenho no desenvolvimento de gemas reprodutivas e no pegamento de florada”,
acrescenta Guerra. Em experimentos, cafeeiros responderam linearmente ao
aumento da produtividade até a dose de 400kg de fósforo por hectare, o que
permitiu aliar essas altas doses do nutriente ao estresse hídrico, obtendo
excelentes resultados na produção e qualidade do café.
Café nas regiões da Bahia e seus destinos – A cafeicultura desenvolvida
no Estado da Bahia apresenta atualmente um quadro tecnológico bastante
diversificado, o que reflete diferentes condições ambientais, variadas formas
de ocupação do seu espaço agrário e modalidades de organizações da
atividade produtiva. O Estado, de acordo com a Conab, possui três regiões
produtoras principais: Cerrado e Planalto (regiões que concentram café
arábica) e Atlântica (especializada em conilon).
De acordo com a professora Sandra Elizabeth, os primeiros plantios de café
arábica na Bahia datam dos primórdios do século XX, nos municípios do Vale
do Jiquiriçá, Brejões e Santa Inês – que compõem o Planalto baiano e têm
grande potencial para produção de cafés despolpados, suaves e aromáticos. A
região caracteriza-se por uma cafeicultura de base familiar, poucos recursos
hídricos e altitude entre 600m a 1380m. Já a região Oeste ou Cerrado é
caracterizada por uma cafeicultura empresarial, totalmente irrigada e
mecanizada, assemelhando-se aos cafés produzidos no Cerrado de Minas Gerais.
Produz cafés naturais finos e despolpados, excelentes para serem usados em
blends destinados ao expresso. O Extremo Sul e Sul do Estado produzem um dos
melhores cafés conilon do mundo e caracterizam-se por uma cafeicultura
empresarial organizada. O município de Itabela é o maior produtor de conilon
da Bahia, seguido de Teixeira de Freitas, Itamaraju, Alcobaça, Eunápolis,
Camacan e Arataca.
A professora explica ainda que, no extremo Sul e Sul da Bahia, o conilon
produzido tem diferentes destinos. Em Itabela e outros municípios, existem
empresas e a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel –
Cooabriel, de São Gabriel da Palha – ES, que atuam no comércio do conilon
para os blends da indústria brasileira. Já no Planalto e Oeste, o arábica
despolpado tem como destino os EUA, Europa, Japão e Ásia. Os cafés naturais
seguem para alguns países do Leste Europeu, bem como para a indústria de
torrefação do Nordeste e demais regiões do Brasil.
Café do Papa – O café consumido no Vaticano é produzido na Chapada
Diamantina – BA. Trata-se de um café 100% arábica, cereja descascado e
orgânico, com pelo menos 85 pontos na escala da Sociedade Americana de Cafés
Especiais – SCAA. A cada ano, são preparadas 30 sacas para o suprimento do
Vaticano.
Segundo a professora Sandra Elizabeth, a qualidade desse café deve-se às
tecnologias desenvolvidas no Brasil pelas instituições de pesquisa, ensino e
extensão que atualmente fazem parte do Consórcio Pesquisa Café. Para ela,
esse sucesso se deve, também, à escolha da variedade cultivada, às boas
práticas de manejo adotadas em conformidade com as normas de cultivo orgânico
e, principalmente, à iniciativa, vontade e busca incessante do conhecimento por
parte dos gestores das fazendas Floresta e Aranquan, agraciados com um lindo
cenário a 1100m de altitude.
Números – Segundo a Conab, a área total de produção de café no
Estado da Bahia é de cerca de 134 mil hectares. São 167 municípios produtores
– dos quais em 80 têm grande importância no cenário cafeeiro do Estado –
que geram cerca de 250 mil empregos. A produção anual é de 1,9 milhão de
sacas e a produtividade média de 14,77 sacas por hectare (Cerrado – 38,50;
Planalto – 7,73; e Atlântica – 31,83). A grande maioria das propriedades
(86%) está vinculada a pequenos produtores e/ou agricultores. As demais são de
médios e grandes proprietários, sendo que, desse número, somente 5%
apresentam áreas superiores a 100 hectares, concentradas no Oeste, onde a
atividade é empresarial.
As informações partem da Embrapa Café.
(FR)
Cotação semanal
Dados referentes a semana 22/11/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 9,53Farelo de soja à vista tonelada
R$ 71,50Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 1.975,00Preço base - Integração
Atualizado em: 22/11/2024 17:50