Porto Alegre, 17 de setembro de 2018 – Em tempos preços até 15% menores
no gancho dos frigoríficos em função da superoferta de animais para abate que
caracteriza este período do ano no Rio Grande do Sul, trabalhar com carne de
qualidade dá ao pecuarista a “gordura” necessária para manter a criação
lucrativa e ampliar a liquidez. Foi para debater as formas de qualificar cada
vez mais a produção de carne premium que criadores de mais de 15 municípios
de diversas regiões do Rio Grande do Sul reuniram-se no Encontro de Produtores
Carne Angus, realizado sexta-feira e sábado (14 e 15/09).
O circuito comemorou os 15 anos do Programa Carne Angus Certificada e
incluiu visita a quatro propriedades referência na Metade Sul. Depois de passar
pela Estância Tradição e Granja Mangueira, em Santa Vitória do Palmar, e
pela Granja 4 Irmãos, em Rio Grande, o roteiro foi concluído com visitação
à Estância Santa Eulália, em Pelotas.
Mostrando que a produção de carne Angus é um projeto de amor e
comprometimento em família, o criador Joaquim Bordagorry de Assumpção Mello
recebeu o grupo de 250 visitantes ao lado da esposa Anna Helena, dos filhos e
netos para visita pelos piquetes com vasta pastagem de azevém onde prepara seus
animais exclusivamente a pasto para os concursos de carcaça Angus e para a
temporada de primavera. “Sempre acreditei em produzir carne de qualidade e
acho que fizemos um grande trabalho”, pontuou o criador que, além de integrar
o grupo de 20 produtores que deu início ao projeto, foi seu grande
incentivador quando presidiu a Associação Brasileira de Angus. Segundo o
diretor do Programa Carne Angus, Reynaldo Salvador, a confiança dos pecuaristas
foi essencial para essa trajetória. “Foi um caminho de sucesso construído
com base em confiança e credibilidade e que hoje nos coloca em um mercado de
excelência internacional que só tem a crescer”, frisou Salvador.
Durante palestra, o gerente do Programa Carne Angus Certificada, Fábio
Medeiros detalhou os avanços do Programa Carne Angus ao longo dos últimos 15
anos. Os números impressionam. Além do universo de pecuaristas beneficiados,
que saltou de 20, em 2003, para 5 mil, o Carne Angus certifica quase 500 mil
animais ao ano nas 40 unidades fabris de 15 indústrias nos 12 estados onde
atua. Em resposta aos avanços da carne Angus na preferência do consumidor, o
uso da raça também ganhou força nos campos. Todos os anos, nascem 3,5
milhões de terneiros com sangue Angus no Brasil, cerca de 7% do total do país.
“Lá no início, dizíamos aos pecuaristas: acreditem, nós vamos conseguir
ganhar pelo novilho de qualidade. Hoje, mesmo com mercado ruim como está, o
novilho Angus vale 10% a mais que o comum. É em momentos de superoferta como o
que vivemos agora que o diferencial de preço obtido pelos novilhos Angus se faz
mais importante, produzindo valorização e liquidez”, pontuou Medeiros.
Cruzamento é caminho de qualidade e produtividade
O caminho para ampliar a produção de carne de qualidade no Brasil é
investir forte no cruzamento industrial, um processo que mantém os padrões de
maciez e potencializa o ganho carniceiro das carcaças. Segundo estudo
apresentado pela pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, de Bagé (RS), Elen
Nalério, enquanto a média de força de cisalhamento (força que se precisa
fazer para romper as fibras da carne) da carne de um animal 100% Angus é de 4,5
kgf/cm, um Nelore atinge escore médio de 7,5 kgf/cm, com extremos desde
2kgf/cm para cortes Angus de alta maciez e 11kgf/cm para zebuínos. O gado
meio sangue (F1), explica a especialista, fica com índice de 5,2 kgf/cm, o
que não compromete o quesito maciez, mas amplia substancialmente o indexador de
área de olho de lombo, que atinge a marca de 80 cm, enquanto a média em
animais Angus puros é de 65cm e em exemplares Nelore, de 60 cm. Os dados
fazem parte de estudo elaborado pela Embrapa que avaliou 55 animais e
correlacionou diferentes graus de cruzamento Angus com maciez e capacidade
carniceira (área de olho de lombo). “Não há comprometimento de maciez
significativo com o meio sangue, mas há grande ganho em área de olho de
lombo”, explicou durante palestra no sábado (15/09) no Encontro de Produtores
Angus.
Elen informa que o melhoramento genético representa apenas 30% dos
aspectos que determinam a produção de uma carne de qualidade. Há inúmeros
outros fatores, como local de abate, acondicionamento e método de preparo que
interferem na experiência sensorial dos consumidores e que precisam ser
observados. A programação fetal, indica a pesquisadora, também atinge a
qualidade do produto. Segundo ela, animais submetidos a restrições
nutricionais durante a gestação podem comprometer a qualidade de carne, com
concentração de gordura em alguns pontos do músculo, ou ainda a absoluta
falta dele, diferente do índice de marmoreio uniforme almejado pelo consumidor.
“Esses animais têm capacidade de acumular gordura, mas isso não ocorre de
forma uniforme em função dessas dificuldades nutricionais na gestação”,
ressaltou.
Defendendo a qualidade da carne bovina em relação a outras fontes de
proteína animal, lembrou que o índice de gordura da maioria dos indexadores
nutricionais usados na análise de dietas no Brasil não considera padrões
locais de produção, utilizando dados de gado confinado e padrões
norte-americanos. Segundo ela, cortes de carne bovina produzidos a pasto têm
índice entre 2% e 3% de gordura, abaixo até mesmo do frango. “Precisamos nos
informar melhor sobre a carne que produzimos e passar mais essas informações
às pessoas. Precisamos deixar de demonizar a carne bovina”, salientou,
lembrando que o importante, sim, é focar na produção de carne de qualidade,
independe do público e poder aquisitivo ao qual ela se destina. As
informações partem da Associação Brasileira de Angus.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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