Porto Alegre, 14 de maio de 2020 – Desde o início das medidas restritivas
para o controle da pandemia da Covid-19 no Brasil, no final de março, houve uma
queda acentuada dos preços pagos aos produtores, provocada pela redução
significativa dos canais de venda, principalmente de food service.
Em algumas praças o preço pago pelo suíno vivo caiu até 40% em
relação ao patamar de antes da chegada da doença ao país, se aproximando de
R$ 3,00/kg, conforme dados do CEPEA.
Mas, nas últimas semanas houve uma reversão da tendência de queda, com
estabilização e posterior recuperação dos preços, especialmente no mercado
de Minas Gerais que, nos últimos dias descolou-se dos demais, com uma
recuperação mais rápida e consistente dos preços pagos aos produtores, sendo
que a bolsa de Belo Horizonte no dia 07 de maio fechou a R$ 5,00 como valor
base para a comercialização na semana seguinte.
A grande dúvida é se esta recuperação de preços se sustenta nas
próximas semanas. A reposição de estoques do atacado e varejo, o início do
inverno e a flexibilização das medidas restritivas em alguns importantes
centros urbanos são favoráveis a esta recuperação.
Exportações e oportunidades para o Brasil
As exportações se mantêm em ritmo muito bom. Segundo dados da Secex, a
média diária de embarques de carne suína in natura em abril de 2020 foi de
3,1 mil toneladas, alta de 9% frente ao mês de março. No total de abril, foram
exportadas 62,9 mil toneladas de carne suína, um leve recuo de 0,6% frente ao
resultado de março (devido ao menor número de dias úteis: 20dd x 21dd), mas
houve incremento de 17,5% na comparação com abril de 2019.
Ainda sobre exportações, a China ganha cada vez mais espaço nos
embarques do Brasil. No acumulado do ano esse destino já representa 53,1% das
nossas exportações de carne suína in natura e, um fator muito relevante, que
pode abrir mais espaço para este mercado é a redução significativa do abate
nos EUA, em função se surtos de Covid-19 nos colaboradores das linhas de
produção norte-americanas. Estima-se que até 30% do abate de suínos nos EUA
tenha sido comprometido, com perdas ao redor de 700 mil animais por semana que
tiveram que ser sacrificados, sem aproveitamento industrial.
A redução do abate impôs perdas graves aos produtores norte-americanos
que viram os preços pagos ao suíno despencarem e, por outro lado, trouxe
desabastecimento e encarecimento da carne suína vendida ao consumidor. Esta
situação é temporária, mas segundo analistas, pode interferir
significativamente na oferta de carne suína norte-americana para exportação,
em especial para a China, e isso poderia abrir mais espaço para a carne suína
brasileira, principalmente com a cotação do dólar se aproximando de R$ 6,00
no Brasil.
Apesar disso, ainda existe uma dúvida: O Brasil terá condições de
ultrapassar as 66 mil toneladas mensais de exportação de carne suína in
natura? Esta oportunidade criada pela interdição das plantas norte-americanas
poderá demonstrar se será necessária a habilitação de mais plantas
frigoríficas brasileiras ou se a estrutura atual consegue ultrapassar a
barreira do volume supracitado.
Dados de exportação do MDIC da primeira semana de maio, com cinco dias
úteis, indicam que o mês começou muito promissor com uma média diária
embarcada da ordem de quase 6 mil toneladas de carne suína in natura,
totalizando 29.775 toneladas até o dia 08 de maio. Dificilmente este ritmo
elevado de embarques deve se manter ao longo de todo o mês, mas se
extrapolarmos esta média da primeira semana para os 20 dias úteis de maio,
pelo menos do ponto de vista de logística, teríamos potencial de chegar a
quase 120 mil toneladas em maio. Em termos de exportação mês de maio promete
ser vantajoso.
Produção estável, mas com custo ainda elevado. Produtores estão de olho no
clima.
Mesmo após colheita recorde de soja no Brasil, o grão mantém-se
valorizado. Segundo dados de consultorias repassados à Associação Brasileira
dos Criadores de Suínos (ABCS), as cotações passaram dos R$ 100 em várias
praças de comercialização, em grande parte devido à forte desvalorização
do Real. Levando-se em conta os embarques médios diários divulgados pela
Secex, a exportação de soja do Brasil atingiu o recorde de 16,3 milhões de
toneladas em abril.
O recorde anterior, de acordo com a Secex, havia sido registrado em maio de
2018, com embarques de 12,4 milhões de toneladas. A elevação da mistura de
biodiesel no diesel para 12% pode determinar maior esmagamento de soja, o que
reduziria a exportação dessa oleaginosa e determinaria maior disponibilidade
de farelo. Entretanto, a crise econômica deixa em aberto qual será a demanda
efetiva de biodiesel no mercado brasileiro e, consequentemente, o tamanho do
esmagamento. O fato é que não há, ao menos no curto prazo, sinais de queda do
preço da soja e seus derivados no mercado interno.
O milho, que havia atingido preço recorde em março, experimentou uma
queda significativa ao longo do mês de abril. Já no início de maio a queda de
preços do grão estabilizou, apresentando uma tendência de nova alta, mas em
ritmo bem menor do que ocorreu no início do ano. Segundo o CEPEA, para setembro
ainda há viés de queda nas cotações.
Com a primeira safra de milho já definida, agora as atenções voltam-se
para a segunda safra, com foco especial sobre o clima. Segundo dados de
consultoria ouvida pela ABCS, em abril o clima mais seco trouxe apreensão para
Paraná e Mato Grosso do Sul. Nesses estados já há comprometimento do
potencial produtivo e precisa de chuvas na primeira quinzena de maio para que se
estabilize a produção.
No Mato Grosso a safra vem muito bem, não havendo perspectiva de perdas
até agora. A referida consultoria estima que a produção possa alcançar os 70
milhões de toneladas se as chuvas previstas para maio ocorrerem de forma
generalizada. Lembrando que as estimativas anteriores da CONAB eram de um volume
de cerca de 75 milhões de toneladas. Há também apreensão quanto a geadas
nos estados mais ao Sul do país. Espera-se uma frente fria em meados de maio
que pode levar a formação de geadas. Por enquanto, a previsão é que a
ocorrência se dará de forma mais pontual sem impactar massivamente as áreas
produtoras.
Ainda segundo a consultoria, o Deral, órgão do estado do Paraná divulgou
na semana de 4 de maio, relatório sobre a qualidade das lavouras de milho de
segunda safra do estado, indicando que 61% das áreas estão boas, 33% estão em
médias e 6% com condições ruins. No levantamento anterior, ainda eram 80%
das áreas com boas condições no estado, ou seja, houve uma queda de 19 pontos
percentuais de uma semana para outra.
Com a pandemia da Covid-19 cada vez mais agressiva no Brasil, o produtor
deve redobrar a atenção sobre novos indicadores. O que preocupa, em relação
ao mercado interno, é o aumento exponencial de novos casos e mortes por
Covid-19. O agravamento da doença poderá determinar o lockdown em grandes
centros consumidores (protocolo de isolamento que tem sido adotado por algumas
cidades e que estabelece como obrigatório o bloqueio total da circulação de
pessoas e veículos), comprometendo a demanda e também ameaçando o equilíbrio
da cadeia de suprimentos.
Segundo o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, além das questões inerentes
à atividade propriamente dita, como custos dos insumos, produtividade, gestão
e comercialização dos suínos, é preciso ficar atento aos movimentos dos
estados e municípios quanto às medidas restritivas que podem afetar a demanda
pela carne e a oferta de insumos.
“Não podemos subestimar a doença. Devemos reforçar a comunicação rotineira
com as equipes para que mantenham os cuidados no trabalho e em casa. A
proteção da saúde dos colaboradores deve ser prioridade, com a manutenção
das medidas preventivas que incluem uso de máscara, distanciamento,
higienização pessoal e do ambiente”, ressaltou o presidente da ABCS, quanto
aos cuidados necessários nas granjas e frigoríficos. As informações partem
do boletim informativo da ABCS.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
Copyright 2020 – Grupo CMA
Cotação semanal
Dados referentes a semana 01/08/2025
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,07Farelo de soja à vista tonelada
R$ 1.640,00Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.400,00Milho Saca
R$ 68,25Preço base - Integração
Atualizado em: 05/08/2025 09:30