Porto Alegre, 27 de março de 2019 – O ano de 2018 foi desafiador para o
suinocultor brasileiro. Apesar do aumento do abate em 1 milhão de suínos
(2,4%) em relação a 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), os resultados foram alarmantes para quem investe na
atividade.
Este crescimento aliado à redução das exportações em relação a 2017
e o alto custo de produção (milho e farelo de soja), determinou ao produtor
margens muito pequenas ou até mesmo negativas ao longo de todo ano. Apesar de
um início de ano frustrante tanto nos volumes exportados, quanto no preço do
suíno no mercado interno, os meses de fevereiro e março de 2019 trazem uma
tendência de recuperação da demanda pela carne suína brasileira acompanhada
de uma reação significativa dos preços pagos aos produtores, trazendo
otimismo para o setor.
Oportunidades no mercado interno e externo
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), no primeiro
bimestre de 2019 o Brasil exportou 102,6 mil toneladas de carne suína in natura
(5,65% mais que no mesmo período de 2018) com um aumento de 4% na receita
(US$). China e Hong Kong lideram as compras e representaram 40,5% deste volume.
A Rússia, que retomou recentemente as importações, já ocupa o terceiro lugar
com 11 mil toneladas no mesmo período.
Um ponto atrativo e que gera grandes expectativas para a cadeia suinícola
brasileira é o impacto da Peste Suína Africana (PSA) na China. Embora não
sejam números oficiais, agentes do mercado já falam em perdas que superam 20%
do plantel de matrizes suínas chinesas.
Em um país que produz e consome quase metade de toda carne suína no mundo
estes valores são astronômicos e criam oportunidades não somente para o
aumento da exportação da carne suína brasileira, como também das outras
carnes (frango e bovino), o que indiretamente beneficia a cadeia suinícola. O
panorama atual criou uma euforia no mercado que refletiu não somente na
valorização de ações das agroindústrias, mas também no mercado doméstico
com patamares de preço bem acima do mesmo período do ano passado.
Além das questões mercadológicas, a PSA é motivo de preocupação para
a suinocultura mundial, com a ameaça de se tornar uma pandemia, de
consequências catastróficas para o setor. Novos focos na Ásia, incluindo o
Vietnã, que é o sexto maior produtor de suínos do mundo, e a recente
tentativa de contrabando de carcaças de suínos da China para os EUA, aumentam
o nível de alerta para questões de biosseguridade internacional. Os
profissionais do setor precisam redobrar os cuidados relacionados à
importação de animais e insumos, além das medidas internas, como o vazio de
pessoas que venham de viagens do exterior.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS),
Marcelo Lopes, explica que apesar da possibilidade de aumentar o mercado
brasileiro na China seja animadora, não é imediata. “Embora exista uma grande
oportunidade de ampliar o embarque de carne suína para a China, é fato que
existem fatores limitantes a este crescimento, como a necessidade de liberar
novas plantas, o que demanda tempo e o cumprimento de exigências técnicas e
burocráticas que acabam restringindo o número de indústrias que poderiam
acessar este mercado”, explica.
Autossuficiência russa
A Rússia que já representou mais de 40% das nossas exportações (em
torno de 250 mil toneladas em 2017) parece realmente que está alcançando a
autossuficiência na produção de carne suína, bem mais rápido do que se
imaginava. Segundo o USDA, no ano de 2018 a Rússia importou ao todo 60 mil
toneladas, uma redução de 84% em relação ao ano anterior (375 mil ton).
Segundo o USDA e a consultoria MBAgro, embora o Brasil tenha exportado 11 mil
toneladas para este destino no primeiro bimestre de 2019, as projeções são de
que a Rússia não importe mais do que 40 mil toneladas ao longo do ano.
De acordo com o presidente da ABCS, como as exigências técnicas para
exportar para a Rússia e a China são similares (incluindo a restrição a
ractopamina), em tese, seria fácil substituir um destino pelo outro, desde que
todo o “ritual” de missões, auditorias e liberações de plantas seja
seguido. “Se por um lado, em 2018 tivemos uma redução do volume exportado em
relação ao ano anterior e a perda temporária de um grande comprador (Rússia)
que agora volta comprando menos, por outro lado, passamos a vender para 96
destinos diferentes em 2018, contra 63 em 2017. Ou seja, ampliamos nossa
abrangência, além de iniciarmos embarques para o quarto maior importador de
carne suína, a Coreia do Sul”.
Segundo ele, estes fatores, aliados à real possibilidade de aumento
significativo de vendas para a China e a possibilidade de acessar outro grande
comprador, o México, traz bastante otimismo em relação ao crescimento dos
volumes exportados em 2019 com relação ao ano passado.
Custo de produção (insumos)
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostram que embora
tenha havido uma pequena quebra na safra de soja, devido a estiagens prolongadas
em determinados momentos, o que projeta uma redução de 4,9% deste grão em
relação ao ano passado, o preço apresenta-se estável e em compasso de espera
em relação às negociações entre EUA e China. Independente desta questão,
não se espera grandes sobressaltos no preço da soja e seus derivados, não
sendo motivo de preocupação para quem consome o farelo de soja. Por outro
lado, o plantio da segunda safra (safrinha) se deu bem mais cedo que nos anos
anteriores, determinando mais segurança a estas culturas, especialmente o milho
que está muito concentrado na safrinha.
De acordo com o sexto levantamento de grãos da CONAB referente a safra
2018/19, espera-se que a produção da segunda safra de milho chegue a 66,6
milhões de toneladas, volume 23,6% superior ao registrado na segunda safra do
ano passado.
Mesmo com volumes relativamente elevados de exportação de milho nos
últimos meses, espera-se uma alta oferta deste grão para a metade do ano,
quando será colhida grande parte da segunda safra, o que deverá reduzir
significativa os preços do milho, impactando diretamente no custo de produção
de suínos. “Porém, é preciso ficar atento aos preços futuros ora
ofertados, pois nos últimos anos os agricultores, mais capitalizados, estão
segurando as vendas deste cereal quando o preço cai a determinados patamares”,
explica Marcelo Lopes.
Quais as estratégias do produtor para este ano?
Está muito claro que o mercado de exportação de suínos este ano
voltará a ser um aliado importante, ajudando a enxugar o mercado interno.
Também é provável que o custo de produção, especialmente relacionado ao
milho seja mais baixo que em 2018. Aliado a isso, a economia doméstica, parece
reagir, com expectativa de crescimento do PIB ao redor de 2%. “É hora de
recuperar as margens negativas e compensar crises sucessivas de preço e custo
enfrentadas nos últimos anos. As sobras de caixa devem ser destinadas ao
pagamento das dívidas, à compra estratégica de insumos (milho), à
agregação de tecnologia e à manutenção estrutural da granja e dos planteis,
com reposições em dia, fatores que garantem a sustentabilidade e a
competitividade”, pondera Marcelo Lopes. Por último, depois de todas estas
prioridades é que o produtor deve pensar em ampliar o negócio, ciente de que o
mercado é soberano e que a lei da oferta e procura é implacável. As
informações partem da assessoria de imprensa da ABCS.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 25/10/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,91Farelo de soja à vista tonelada
R$ 2.060,00Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 68,75Preço base - Integração
Atualizado em: 29/10/2024 16:00