Porto Alegre, 12 de novembro de 2018 – Às 9 horas da manhã da última
sexta-feira, 9 de novembro, o negro Deivis González, capataz do sítio Las
Mujeres, na comunidade indígena de Acurimã, município de Gran Sabana,
aguardava a comitiva de brasileiros e venezuelanos. O rebanho de 18 cabeças
estava pronto no curral – 2 touros, 7 vacas, 4 bezerros machos e 5 fêmeas.
A equipe de veterinários brasileiros adiantou-se em fazer logo a
vacinação, com o apoio do venezuelano José Gregório, auxiliar de campo. Mais
três sítios estavam agendados para vacinar nesta manhã. O trabalho precisava
ser executado com precisão e rapidez, e assim diminuir o stress dos animais
que ficariam no curral o menor tempo possível.
Marcondes preparou as agulhas com as doses de 5 ml das vacinas armazenadas em
caixas de gelo na caçamba da pick-up. Allan, Ernani e Nilton ajustaram as
cordas, orientaram Gregório, González e os meninos do sítio na tarefa de
ajudá-los a prender as reses.
Vacinar no laço é perigoso. Uma vez laçada, a rês precisa ser contida
com firmeza por um ou mais auxiliares. O aplicador da vacina espera o momento
certo, aproxima-se a uma distância segura, estica o braço armado com a
pistola, injeta a vacina. Ele tem que ser ágil para escapar da imprevisível
reação do animal.
O veterinário Elvio Cazola, chefe da comitiva brasileira, revezou-se com
Marcondes na vacinação do pequeno rebanho. Quinze minutos depois, missão
cumprida.
O capataz sorria, os meninos sorriam ao abrir a porteira para soltar a
boiada no pasto. Os veterinários brasileiros se apressavam em recolher o
material, conferir as anotações dos formulários de vacinação e seguir
viagem, preocupados em concluir a agenda de visitas no prazo.
A pedido da agrônoma Ismalianeth Acuña, chefe da comitiva venezuelana, os
brasileiros retardaram a viagem alguns minutos para o registro histórico: a
foto da operação binacional de erradicação da febre aftosa na Venezuela, o
único país das Américas que ainda não é reconhecido livre da doença, em
todo o seu território, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Os
olhos de Ismalianeth brilhavam: “Emocionante!”
Estratégia e Segurança
Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e delegado do Brasil na OIE,
disse que a operação conjunta na Venezuela interessa a toda a América do Sul,
em especial ao Brasil.
“Não é simplesmente uma questão humanitária, mas de estratégia e
segurança. Existe um plano hemisférico de combate à doença.”
A Colômbia é outro país da Região Andina em luta contra a aftosa. O status
colombiano de zona livre da doença foi alterado pela OIE em 17 de setembro de
2018, após as confirmações oficiais de focos no interior do país e na
fronteira oeste com a Venezuela.
A atuação conjunta está prevista na Resolução número 1 da Comissão
Sul Americana da Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa), de abril de 2018, que
reconheceu a “necessidade premente dos 13 países membros apoiarem a
Venezuela”, sob a coordenação do Centro Panamericano de Febre Aftosa
(Panaftosa).
O plano de erradicação na Venezuela prevê três vacinações anuais para
imunização do rebanho estimado em 15 milhões e 450 mil cabeças, segundo
dados da Cosalfa-OIE de 2017: duas vacinações de todos os animais, de mamando
a caducando, e uma vacinação somente de animais jovens.
Todo o Brasil foi reconhecido livre com vacinação pela OIE em maio de
2018. A exceção é Santa Catarina, livre de aftosa sem vacinação desde 2007.
Atualmente, as principais ameaças à saúde do rebanho bovino brasileiro – o
maior do mundo, com 219 milhões de cabeças – estão ao sul da Venezuela, na
fronteira seca da Região Norte do Brasil, em Roraima, no município de
Pacaraima.
Quando o Brasil encaminhou à OIE, em setembro de 2017, o pleito de
reconhecimento de livre de febre aftosa com vacinação, apresentou a proposta
de criação da zona de proteção em Pacaraima. Em 8 de outubro de 2018, a
Instrução Normativa 52 do Ministério da Agricultura instituiu a zona de
proteção na área de 180 quilômetros quadrados.
Ao longo da linha de fronteira de 33 quilômetros, Pacaraima faz divisa com
Gran Sabana, o maior município de Bolívar, que é o maior estado da
Venezuela: 240.528 quilômetros quadrados, 26% da área total do país.
“Nessa zona de proteção”, explica Guilherme Marques, “estabelecemos
medidas de controle mais severas. As ações são mais fortes, mais incisivas do
que no restante do estado de Roraima”.
A vacinação de todos os bovinos em Pacaraima é feita pelo Serviço
Veterinário Oficial (SVO), na ação chamada de agulha oficial. O SVO nessa
área é representado pelos veterinários e auxiliares de campo da
Superintendência Federal de Agricultura de Roraima (SFA-Roraima) e da Agência
de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR). Os animais são identificados
individualmente com brincos numerados e os embarques acompanhados pelo SVO em
caminhões lacrados.
O diretor do Ministério da Agricultura prevê um longo período de
existência da zona de proteção que será mantida enquanto Venezuela e
Colômbia avançam na erradicação e controle da doença. Segundo Guilherme
Marques, a estimativa para alteração significativa do cenário epidemiológico
na Região Andina é de dois a quatro anos.
“Estamos contribuindo para que a Venezuela alcance a condição de livre
da aftosa. Até chegarmos lá precisamos da zona de proteção como uma medida
adicional a todo o trabalho que já é realizado nessa região de fronteira”.
Operação Pacaraima
A parceria Brasil-Venezuela começou a ser construída em Pirenópolis,
Goiás, em abril de 2017, quando as autoridades veterinárias dos dois países
decidiram pela vacinação com agulha oficial dos rebanhos bovinos e bubalinos
no raio de 15 km, traçado de ambos os lados, em paralelo à linha de fronteira.
Em setembro de 2018, brasileiros e venezuelanos reuniram-se novamente em
Pacaraima e firmaram o compromisso de realizar a ação conjunta em todo o
território da Venezuela.
O setor privado brasileiro doou 21 milhões de doses de vacinas, que estão
sendo administradas pelo Brasil e Venezuela, sob a custódia e coordenação do
Panaftosa.
Na linha de frente da Operação Pacaraima atuam 8 médicos veterinários,
sob a orientação, desde Brasília, do coordenador de Animais Terrestres,
Plínio Leite Lopes, e do chefe da Divisão de Aftosa, Diego Viali dos Santos.
Na primeira semana de novembro, cinco veterinários designados pelo
Departamento de Saúde Animal do MAPA desembarcaram em Boa Vista, capital de
Roraima, para executar a etapa inicial do plano de vacinação.
Os experientes veterinários Elvio Cazola, da SFA de Mato Grosso do Sul, e
Roberto Carlos Arruda, da SFA do Maranhão, planejam e coordenam a realização
das tarefas. Tudo é feito em parceria e de acordo com a equipe do Instituto
Nacional de Saúde Animal Integral (INSAI), liderada pela agrônoma Ismalianeth
Acuña, coordenadora regional para o estado de Bolívar.
Cazola e Arruda organizaram a logística, negociaram com os militares,
autoridades civis e lideranças indígenas o trabalho de campo de quatro grupos
de veterinários. O esforço foi premiado com o fornecimento de gelo gratuito
para refrigerar as vacinas, presente de um comerciante de Santa Elena de Uairen,
a cidade venezuelana mais próxima da fronteira brasileira.
Cada grupo terá uma pick up Chevrolet S10 ou Mitsubishi Triton, com as
placas anotadas pelo Exército e permissão de trânsito livre; poderá
transportar toneis de óleo diesel nas caçambas com autorização especial,
pois há racionamento na Venezuela; e deverá colar no párabrisa a frase: “A
Servicio del INSAI”. Para circular com mais facilidade pelas aldeias do
município de Gran Sabana, o cacique e capitão-geral Juan González determinou
que os veterinários contarão com a ajuda de guias indígenas.
A missão é vacinar, a partir da fronteira do Brasil para o interior da
Venezuela, todo o gado em Gran Sabana (560 cabeças, estimativa não-oficial) e
no munícipio vizinho de Sifontes (6.700 cabeças, não-oficial), fazer as
inspeções clínicas, registrar os rebanhos e as propriedades. As vacinações
são precedidas de agendamento autorizado pelo proprietário ou responsável da
propriedade.
A equipe está baseada em Pacaraima, mas conta com o apoio de mais dois
veterinários sediados em Boa Vista: Terezinha Brandão, chefe de Saúde Animal
da SFA-Roraima, e Marcos Duarte, da ADERR, responsável em Roraima pelo Plano
Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA).
Cazola e Arruda farão o trabalho de sorologia, controlando a remessa para o
Laboratório Nacional Agropecuário – Lanagro de Pedro Leopoldo, em Minas
Gerais, das eventuais amostras de animais com sintomas de febre aftosa coletadas
nas propriedades venezuelanas.
No último domingo, 11 de novembro, chegaram à fronteira três
venezuelanos para completar as equipes com os veterinários brasileiros: Maria
Velasquez, veterinária; Sérgio Ruiz e Kenny Parra, auxiliares de campo. Eles
começam a trabalhar nesta segunda-feira, 12.
O veterinário Marcondes Dias Tavares, lotado na ADERR, já trabalhava na
zona de proteção de Pacaraima desde 6 de novembro, terça-feira, acompanhado
de José Gregório, auxiliar de campo venezuelano. O trabalho de Marcondes foi
reforçado pelos veterinários Allan Cristian Mesacasa e Ernani Machado de Lima
– cedidos pelo Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) – e
Nilton Mesquita Júnior, cedido pela Associação dos Criadores de Mato Grosso
(Acrimat).
O gaúcho Elvio Cazola orgulha-se do trabalho realizado pelos veterinários
brasileiros em apenas quatro dias. “Os guris arregaçaram”, disse Cazola.
“Eles vacinaram 357 animais nas comunidades indígenas de Gran Sabana. E para
os próximos três dias, de segunda, 12, a quarta-feira, 14, já estão
agendadas as vacinações em mais 9 propriedades.” As informações partem da
assessoria de comunicação do Mapa.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Atualizado em: 13/05/2025 09:50