Agronegócio

Comércio entre Brasil e Rússia tem queda em 2014

23 de maio de 2014
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As trocas de Brasil e Rússia no primeiro quadrimestre do ano refletem a fraqueza do comércio entre os dois países ao longo do tempo. Com o agravante de que estão caindo nos últimos anos, ao invés de subirem acompanhando a escalada do fortalecimento das relações institucionais bilateralmente e, multilateralmente, no âmbito dos BRICS.
Pode-se dar dois descontos. Um, a naturalmente lenta abertura de novos nichos de mercados recíprocos em comércio apenas assentados em poucos produtos durante anos. Isso acontece sempre no comércio mundial. O segundo, a pouca competitividade do gigante da América do Sul e do gigante da Eurásia fora de seus tradicionais círculos produtivos.

Mas, convenhamos, a lentidão do incremento das exportações e importações dos dois parceiros é grande. Nem marginalmente apresentou melhora como era de se esperar.

A situação chega a ser esdrúxula. Novos produtos praticamente não movimentam a pauta dos dois países. Os tradicionais também não avançam. Esses últimos, do Brasil concentram-se no complexo carne, açúcar (o principal das commodities), e, entre os poucos industrializados, café solúvel; da Rússia, fertilizantes, produtos siderúrgicos e alguns itens do setor químico.

No quadro geral, o intercâmbio (ver tabela) é menor do que o desenvolvido por Brasil e Rússia com muitas republiquetas.

Não é desculpa, do lado brasileiro, que a Rússia imponha exigências, e embargos periódicos, sobre as carnes bovina, suína e avícola, influindo nas vendas. Ou, como no caso do farelo de soja, cujas exportações, insignificantes, refluem, mesmo com o acordo fitossanitário entre os dois países, de 2011. Pelo lado russo, não pode-se mais evocar algumas barreiras impostas pelo Brasil para proteger os setores químico e siderúrgico nacionais, entre outros, que emperram o crescimento das exportações, ou a preferência dada ao trigo argentino, beneficiado tarifariamente pelo Mercosul e que atende melhor as condições fitossanitárias brasileiras.

Mais uma vez: novos setores não decolam e os velhos sofrem.

Como deveria ser dever de ofício dos órgãos do comércio estimular as empresas a abrirem novos mercados e solucionar definitivamente as questões que surgem no caminho de qualquer relação, os respectivos de Brasil e Rússia demonstram conformismo. Quando muito, procuram contornar os problemas surgidos envolvendo a carne – ontem, por exemplo, três novos frigoríficos foram liberados a exportar à Rússia–, muito mais porque um não pode abrir mão do segundo maior comprador mundial e o outro por não poder barrá-la de vez pois se não teria que pagar muito mais aos outros fornecedores mundiais.

Mais uma vez: se ataca pontualmente, mas não se procura erradicar as pendências de uma vez por todas, seja por conta da parte brasileira em não conseguir exigir dos produtores um padrão sanitário de acordo com imposto pelo parceiro, hora por conta do lado russo que poderia flexibilizar mais suas posições uma vez que a mesma carne chega a países cuja qualidade determinada é insuspeita.

A verdade é que nada anda. Visitas recíprocas das principais autoridades já foram realizadas; os chanceleres também já rasgaram os céus para encontros bilaterais; várias questões internacionais significativas contam com opiniões consensuais e de apoios mútuos (Síria, Venezuela, Cuba, governança mundial da Internet etc). O pragmatismo político não se traduz em pragmatismo comercial, como é fundamental que aconteça.

Talvez falte um pouco mais de cobrança dos dois presidentes sobre seus auxiliares. Afinal, a despeito de uma eleição no Brasil e de um problema ucraniano à Rússia, a administração dos seus interesses mundiais continuam, como deve ser.

Se for levado em consideração que os dois parceiros estão entre os principais patrocinadores dos BRICS (agrupamento que agrupa ainda a China e África do Sul), que precisam aumentar suas presenças globais (já em queda livre) diante dos desafios ainda emanados pela crise mundial e que estão sob risco de assistirem suas economias perderem mais robustez do que já vem ocorrendo, as respostas para dois mercados recíprocos com potencial inexplorado deixam a desejar.

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