Agroindústrias e Cooperativas

Dália Alimentos: barreiras quebradas, vidas consertadas

16 de outubro de 2017
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Mecânicos, pedreiros, carpinteiros, agricultores, professores, estudantes. Todos com uma profissão diferente no Haiti, mas com uma única no Brasil. Há cinco anos, os primeiros estrangeiros haitianos chegaram à Dália Alimentos em busca de uma nova oportunidade para suas vidas. Da primeira turma de 50, vinda em 15 de outubro de 2012, 14 pessoas ainda permanecem trabalhando no frigorífico da empresa.

Estes são os precursores de uma nova era vivida pela cooperativa, pelo município de Encantado e também por estes forasteiros, muitos saídos do Haiti após perder tudo o que possuíam devido ao terremoto de 2010. Na época, uma equipe da empresa deslocou-se até Brasileia, no Acre, considerada a porta de entrada para esses imigrantes, e os contratou, já que, à época, a mão-de-obra era bastante escassa. Já se passaram cinco anos desde a contratação dos primeiros haitianos e após estes, outros tantos chegaram e ainda chegam às portas da cooperativa com o sonho de arquitetar uma nova história.
O relato da grande maioria é de que parte do salário ganho no Brasil é enviado a familiares no Haiti. São pais, irmãos e filhos parcialmente amparados com o dinheiro recebido em terras brasileiras. Louisna Jean Louis (36) trabalhava como mecânico em Porto Príncipe, capital do país caribenho, e escolheu mudar-se para o Brasil em busca de oportunidades. Pai de uma menina de 14 anos e de um menino de 9, que vivem no Haiti, todo mês despacha parte do pagamento para sustento dos filhos. Louisna é funcionário do Setor Salsicharia e foi neste mesmo local que conheceu a atual esposa, com quem teve Davi, de 2 anos, reforçando a mistura e o amor entre as diferentes raças. Ele conta que teve uma boa adaptação ao país e que o povo brasileiro é receptivo. “Aqui encontramos um emprego, fizemos amigos, aprendemos a tomar chimarrão, a fazer churrasco e a comida que mais gosto é a galinhada”. Antes de chegar ao Brasil, Louisna havia passado pela República Dominicana, pelo Panamá, pela Colômbia, pelo Peru, pelo Equador e pela Bolívia, sempre galgando êxito para a vida profissional.
O mais jovem do grupo é Cerenal Petit Homme (26). Funcionário do Setor Abate, decidiu deixar o Haiti porquê queria trabalhar. O Brasil foi o primeiro país estrangeiro visitado por Cerenal. A adequação foi tão positiva que, no ano passado, ele custeou a passagem para a mãe também vir morar no Brasil. Inclusive, ela também é funcionária da Dália, assim como sua esposa, que da mesma forma mudou-se do Haiti. O jovem conta que, no início, o principal obstáculo foi a saudade, logo compensado pela calorosa receptividade dos colegas de empresa e da comunidade. “Aqui encontramos uma nova vida. Tenho muitos objetivos e o próximo é comprar a minha casa. Falta pouco”, projeta.
Louisna, Cerenal e outros tantos imigrantes logo que chegaram ao Brasil tiveram como principal empecilho o idioma. Adeptos do “crioulo”, espécie de língua francesa adotada pelo Haiti, buscaram o entendimento do português frequentando aulas oferecidas na comunidade e também observando a comunicação dos moradores locais.
Fazem parte do grupo de primeiros haitianos que chegou à empresa Ferdinand Charles (36), Pierre Charles Pierre (53), Kethline Telusma (34), Richemond Desulme (47), Tijean Jean Jules (34), Joseph Norval (36), Kernice Gedeus (32), Cerenal Petit Homme (26), Jean Laubert Joseph (47), Joles Elasme (30), Louisna Jean Louis (35), Ronald Denis (51), Wilner Exavier (36) e Youvens Joanem (37).

Cenário atual
A Dália Alimentos possui em seu quadro de funcionários 335 estrangeiros, sendo 315 de origem haitiana e 18 dominicanos e outras nacionalidades. Passados cinco anos desde o primeiro grupo chegar à empresa, ainda hoje pessoas de outras nacionalidades batem à porta da cooperativa em busca de novos rumos para suas vidas. Na bagagem, o sonho de um trabalho digno e de um novo destino traçado para a vida devastada pelo terremoto que atingiu o Haiti em 2010. Na cooperativa, eles estão lotados no frigorífico de suínos, localizado em Encantado; e na indústria de lácteos, instalada em Arroio do Meio. O número total de funcionários da empresa é de 2.213 empregados (dados de setembro/2017) e o percentual de estrangeiros corresponde a 15,36%.

A ideia, a chegada
O primeiro contato dos haitianos com a Dália Alimentos foi em outubro de 2012. A supervisora do Setor Pessoal, Sandra Simonis Lucca, foi quem iniciou o movimento e lançou a ideia, sempre aportada e com a o aval da Direção da empresa. De acordo com ela, naquele ano a empresa deparava-se com um momento de escassez de mão de obra. “Nos espelhamos no exemplo de uma empresa da capital (Massas Romena) que, devido à experiência positiva, nos motivou a adotar o mesmo modelo. Montamos o projeto, apresentamos à direção e, aprovado, fomos ao Acre, retornando com o primeiro grupo”.
Sandra recorda as dificuldades iniciais, quando a grande barreira foi a comunicação e os costumes, ambos superados gradativamente em virtude do empenho entre ambas as partes. No início do ano seguinte, um novo grupo, composto por 70 imigrantes, chegou à cooperativa e, sucessivamente, outros pequenos grupos chegaram. “Contabilizamos 450 estrangeiros em nosso quadro de empregados, mas nos últimos anos, com a chegada da crise econômica e com o aumento do dólar, muitos foram embora. Hoje a situação da disponibilidade de vagas mudou e temos, semanalmente, em torno de 50 pessoas solicitando emprego, dentre as quais, em torno de cinco de outra nacionalidade”.

Evolução profissional e pessoal
Quem também acompanhou a chegada dos imigrantes desde o início foi o supervisor do Setor Abate, Valdecir Cardoso. “Existiam muitos obstáculos, mas havia uma particularidade entre cooperativa e estrangeiros: a necessidade de mão de obra e a oportunidade de um emprego. Aqui eles tiveram a possibilidade de sonhar novamente, criaram vínculos entre os colegas e hoje estão totalmente integrados”. Para Cardoso, o sofrimento vivido no Haiti, principalmente após o terremoto, foi ingrediente de motivação. “Contamos com ótimos funcionários, colegas e amigos. Uma nação exemplar, que passou por várias dificuldades, cruzou as fronteiras e hoje, passados cinco anos, segue a vida dignamente, evoluindo profissional e pessoalmente”.

Adaptação e integração
O gerente da Divisão Produtos Suínos, Roberto Crippa, reflete sobre os anos de 2011 e 2012, atípicos para a economia brasileira e abarrotados de oportunidades de trabalho. “Na Dália não era diferente, momento em que o frigorífico estava com abate diário de 2,7 mil suínos, produção de elaborados na capacidade máxima e era necessária a contratação de mais funcionários. Foi então que estruturamos o projeto para a vinda dos haitianos. Em alguns momentos nos deparamos com dificuldades, mas nenhuma comparada àquelas vividas por estas pessoas que deixaram sua nação e suas famílias. Hoje, estão bem adaptados ao trabalho e totalmente integrados à comunidade”.

Quebra de paradigmas
Na visão do presidente Executivo, Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, a introdução da mão de obra haitiana na empresa foi um divisor de águas. De acordo com o executivo, que acompanhou todo o projeto, na época em que foi lançada a ideia o país enfrentava um momento diferenciado na economia, pois de um lado as indústrias precisavam manter sua capacidade de produção e de outro existia carência de mão de obra. “Contratá-los significou proporcionar uma nova oportunidade a eles, e a nós atingir a meta de produção. Nos empenhamos ao máximo para que o projeto obtivesse êxito, o que, de fato, aconteceu. Hoje a Dália é referência para os haitianos”.
Freitas ressalta a quebra de paradigmas e o vasto estudo desenvolvido antes, durante a após a contratação, a fim de inseri-los e torná-los membros da empresa e da comunidade. “A Dália procurou fazer diferente e não considerar a mão de obra haitiana temporária, mas sim definitiva. Do início até hoje não houve diferenciais no tratamento entre haitianos e brasileiros e o quadro de gerentes, supervisores e encarregados sempre soube tratá-los de forma igualitária e respeitosa, integrando-os ao ambiente”.
O presidente reporta-se aos haitianos como uma nação corajosa e que se orgulha de estar vivendo com dignidade em outro país. “O povo haitiano, assim como o brasileiro, ajuda a impulsionar a economia e a gerar riqueza nos municípios em que a Dália está presente com suas indústrias. A vinda deles amparou a evolução e o convívio num mundo cada vez mais globalizado e, certamente, tanto eles como a Dália evoluíram”. Por fim, Freitas frisa quando a Dália foi citada pela Unesco, em 2013, como um case de sucesso na empregabilidade de estrangeiros. “Esse respeito à dignidade dos haitianos alcançou notoriedade internacional, o que nos faz concluir que, embora todos os percursos e obstáculos, estamos no caminho certo”.

Case de sucesso da UNESCO
O trabalho e o modo de atuação da Dália Alimentos com os funcionários haitianos que trabalham na cooperativa foram considerados um case de sucesso pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Em 2013, em conjunto com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a UNESCO elaborou conteúdo para 12 cadernos educacionais sobre Direitos Humanos visando abordar o trabalho digno no Brasil.

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