Pelo menos nos últimos 60 dias, a saca de milho (disponível) está cotada acima de R$ 55,00. A falta do produto no país em função da redução de área e do grande volume exportado deixou o preço nas alturas.
O supervisor regional da Emater, Paulo Silva, explica que foram exportadas 28,9 milhões de toneladas em 2015, não ficando grande estoque no mercado interno o que está acarretando a falta do produto e pressionou os preços para cima. Além disso, na safra 2014/15 a região cultivou 48.886 hectares com o cereal e na safra passada houve redução de área, sendo cultivados 36.859 ha. Essa redução ocorreu em todo Rio Grande do Sul que, em 2014/15 destinou quase 1 milhão de ha ao cereal e, na safra passada diminuiu a área em 15%.
Recentemente, o governo federal liberou a importação de 1 milhão de toneladas, mas sem tarifa de importação para fora do Mercosul, entretanto, não resolveu a demanda.
O agrônomo explica que a produção do Rio Grande do Sul que consome em torno de 6,5 milhões de t caiu para 4, 9 milhão de t. O RS precisa comprar fora 1,7 milhão de t para atender a demanda, onerando o custo da ração.
Tendência e estrutura de cultivo
“No momento, não há produto em estoques e a colheita no centro oeste inicia em 20 dias o que deverá trazer os preços para baixo, perto dos R$ 45,00 a saca de 60 kg disponível. Há um ano, os preços que praticávamos estavam em torno de R$ 25 e este foi um dos fatores que levou a redução de área na safra passada”, diz.
Silva salienta que esta situação do preço do milho bem como do farelo de soja está impactando nos custos de produção, onerando os preços ao consumidor.
“O Estado tem que se preparar para produzir 6,5 t de milho e para isso precisamos de uma área de 1,2 milhão de hectares, mas estamos plantando apenas 850 mil ha. Temos condições de fazer ração com milho, sorgo, trigo, cevada, aveia branca e a economia e a produção de ração do RS está baseada em cima de farelo de trigo e milho e isso não permite diversificação de culturas. E o caso especifico do RS, é que temos 6,5 milhões de ha de culturas de verão e sequeiro, e no inverno não chegamos a 1 milhão de ha. Então sobram 5 milhões de ha que poderiam ser utilizados. Talvez fosse possível estimular a utilização de outros materiais que não somente o farelo de milho e soja, mas aveia branca, trigo e triticale, assim, teríamos a roda da economia girando mais. É preciso políticas de incentivo de ocupação da área com culturas economicamente viáveis durante o inverno” salienta Silva.
Cenário no país
“Temos acompanhado desde janeiro um movimento de elevação de preços e escassez de produtos nos polos produtores. Ao mesmo tempo, as exportações de milho avançaram e tornaram a situação ainda mais difícil para quem demanda o insumo no mercado interno. Por fim, nos últimos meses, vimos um período de estiagem em determinadas regiões, e de fortes chuvas em outras, causando perdas na colheita do insumo. A alta do milho é, portanto, resultado de uma soma de fatores perversos que tem impactado drasticamente nossos custos de produção e nossa capacidade competitiva. A primeira safra foi menor e a segunda será insuficiente diante do volume de exportação”, analisa o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Segundo Turra, a perda de competitividade é o primeiro impacto sentido com a alta do custo de produção. Com maior custo, o repasse de preços é inevitável, uma situação indesejável em um momento de crise econômica como a que estamos vivendo atualmente, com impactos diretos no consumo interno dos produtos. “Com este cenário de custos altos e menor consumo, o mercado segue a lógica da redução da produção de aves e de suínos. Algumas empresas já falam de suspensão de turnos de abate. Já temos casos, inclusive, de unidades produtoras encerrando atividades no país. As exportações em alta e o mercado interno em recessão são, neste contexto, componentes complexos para administrar”, declara.
Para o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, o cenário de altos custos de produção deve perdurar por mais algum tempo, até que a oferta e o mercado voltem a se equilibrar. Segundo Turra, há notícias da colheita antecipada de milho em Estados como o Mato Grosso e Paraná.
Em termos de custo de produção, é a prior crise da história
Os impactos devido à questão de mercado são fortes e o preço do suíno tem tido baixa, pois o custo do milho trouxe alta no custo de produção e a conta não está fechando, segundo o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul – ACSURS, Valdecir Folador.
Ele explica que para fazer um quilo de suíno vivo o produtor desembolsa R$ 4,10 enquanto o mesmo quilo de suíno é comercializado a R$ 2,80 – ou seja, ele está perdendo muito neste momento por causa da elevação do preço do milho. “Há um ano o saca de milho ao produtor custava R$ 25 e hoje não sai por menos de R$ 55 a R$ 60. Tivemos um aumento de mais de 100% no custo de milho e o cereal representa 65% a 70% da fabricação da ração”, diz Folador.
Segundo ele, algum valor já está sendo repassado ao consumidor final, mas não chega a ser todo esse reajuste que o produtor está pagando. Por outro lado, ele explica que 80% da suinocultura do Estado é integrada e verticalizada, ou seja, a indústria fornece o alimento. Os outros 20% são integrados e independentes, que adquirem a alimentação por conta e, destes, alguns estão passando por dificuldades, muitos poderão sair do processo, reduzir o número de animais pelo alto custo de produção e investir em outras atividades, até porque, em relação ao custo de produção, esta é a pior crise que o setor está vivenciando na história.
O RS abate anualmente 8,5 milhões de suínos e produz 630 toneladas de carne.
Cotação semanal
Dados referentes a semana 22/11/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 9,53Farelo de soja à vista tonelada
R$ 71,50Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 1.975,00Preço base - Integração
Atualizado em: 22/11/2024 17:50