Valdecir Luis Folador, reeleito mais uma vez presidente da ACSURS – Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul – agora para a gestão 2019/2022 – é filho e neto de suinocultores e vivencia desde criança a realidade da suinocultura.
Sua liderança despertou num momento de dificuldades. Em meados de 2002, início de 2003, quando os suinocultores do Estado enfrentavam uma forte crise em função da produção superior à demanda, Folador, apoiado por produtores, liderou no Alto Uruguai um movimento que buscava alternativas para a atividade. Foi a primeira atuação como líder de classe. Participou da CPI das Carnes, fazendo pressão para sua instalação e como depoente. Em 2004, foi procurado por lideranças da suinocultura para concorrer ao cargo de presidente da ACSURS. Relutou, mas aceitou presidir a entidade que tem trajetória de mais de 45 anos na defesa dos interesses dos criadores de suínos gaúchos.
Entre os desafios de Folador, está o trabalho para que o criador de suínos tenha a garantia de preço mínimo que cubra ao menos os custos de produção nos momentos de dificuldade. “Vamos defender os interesses dos produtores, seja na área sanitária, meio ambiente, produção e remuneração, sempre com o objetivo de garantir a rentabilidade do suinocultor”, observa o dirigente, em entrevista ao A Voz da Serra do Alto Uruguai.
Como o senhor avalia o mercado em 2018?
Folador: O mercado foi muito complexo para preços, rentabilidade, custo de produção alto, preços do milho e farelo em alta. Foi um ano complicadíssimo. Teve o episódio da Rússia que saiu do mercado no final de 2017 e reabriu em novembro de 2018 e isso ajudou a afundar o mercado da suinocultura brasileira, pois quase 40% da exportação era destinada à Rússia.
As aves também afetaram a suinocultura com oferta maior de animais e menor preço. O primeiro a sentir o reflexo disso tudo é o produtor. Quem paga a conta é o produtor, que é a ponta mais fraca do elo da cadeia produtiva. A indústria não tem como repassar para o consumidor o aumento, então, baixa o preço no produtor.
E com isso a suinocultura não vai bem? Não está em um bom momento?
Folador: O setor está em um momento complicado justamente por estas questões de mercado interno e externo e a média de consumo per capita de suínos é em torno de 15 quilos e, em relação ao consumo de aves e gado, é baixa ainda. É preciso que a economia interna comece e se aquecer, a retomar o crescimento, a geração de emprego e renda aumente e isso acaba refletindo no consumo. A exportação precisa aumentar o volume e o preço médio de exportação precisa aumentar. Ano passado se exportou 8% a menos que em 2017.
O custo de produção – preços do milho e do farelo – não apresenta sinais de baixa. Ele se mantém em alta e o setor de carnes, de proteína animal, tanto de gado, aves e suínos, vem sendo espremido fortemente, em especial em 2017 e 2018.
O que o senhor projeta para 2019?
Folador: A perspectiva para 2019 está em cima da economia do mercado interno, que esperamos que reaja logo. Já aumentou a taxa de emprego depois das eleições, então, há uma tendência de que, em 2019, as exportações retornem, os embargos sejam retirados, a Rússia retome a exportação com mais força e com volumes mais significativos. Isso melhora o preço médio do nosso produto. Se exportou bastante para a China em 2018, o preço médio chinês é muito baixo, mas é um volume significativo, então o setor tem alguns desafios grandes para este ano.
Muitos criadores de suínos comentam que o lucro da criação está na distribuição das esterqueiras na propriedade como adubo.
Folador: Os dejetos suínos são um problema e devem ter tratamento adequado até se transformar em adubo para a propriedade, mas é inadmissível que se considere que o dejeto da suinocultura se torne o lucro do produtor. Tenho discutido isso em todos os lugares, até porque existem algumas empresas agregadoras que querem considerar na planilha de custos de produção que o dejeto faça parte da remuneração do produtor. Isso não vou aceitar, nunca. É inadmissível pagar o produtor com dejetos.
O dejeto é um problema ambiental, tem que ser tratado para ser utilizado como adubo na propriedade, como fertilizante, nas pastagens e na produção de grãos e ainda tem toda uma questão de legislação ambiental porque se o produtor não seguir a legislação ambiental ele vai ser multado e responder por crime ambiental.
O produtor faz contas, mas precisa fazer de forma correta. Não pode se preocupar com a produção, mas com o que ele ganha naquela atividade, qual é a margem que tem, se cobre os custos de produção. E quando falo custo de produção não é pagar a conta de luz, tem que considerar quanto gastou de investimento para fazer o pavilhão, as pocilgas, o aviário. Quanto custou? Financiou isso no banco? Foi dada a propriedade como garantia? A mão de obra, os juros que vão ser pagos. Tudo isso tem que ser avaliado.
O produtor precisa ampliar a visão na parte econômica e contábil da atividade, não pensar que ele ganha hoje R$ 30,00 por suíno a cada 90 / 100 dias tratando aquele animal com responsabilidade, mão de obra, instalações, energia, água, destino de dejetos. A mãe de obra é familiar? Sim, mas tem que remunerar. Mesmo sendo o filho ou o pai que colocam a mão de obra, ela precisa ser remunerada e tratada como a de um trabalhador com todos os direitos, obrigações e tudo isso tem que entrar na planilha de custos do produtor, e hoje isso é simplesmente desconsiderado.
O produtor está na atividade para ganhar dinheiro. Ele precisa pensar na família e na propriedade e se ele pensar assim vai evitar ainda um outro problema que é o êxodo rural. Os filhos dele vão querer continuar trabalhando porque estão sendo pagos, o que não ocorre hoje.
Hoje temos um sistema integrado de produção. Isso é bom para o produtor?
Folador: Isso tudo tem que ser revisto. O sistema de integração que está montado hoje interfere no negócio do produtor. O sistema vai na propriedade e exige determinado tipo de instalação e isso o produtor não pode cobrar a mais na produção. Ele tem que tirar de outros meios da sua propriedade, então, acaba trabalhando de graça e, muitas vezes, coloca dinheiro para manter a produção. O custo da produção integrada para o produtor é muito grande: a integradora faz exigências de adaptação, que geram custos que o produtor não repassa para a criação e tira de outros setores da propriedade. Não somos contrários a estas exigências, mas o que não está certo é que o valor pago é muito baixo para o produtor.
Com relação a situação econômica do produtor de modo geral, está estabilizada ou ainda está em queda?
Folador: Por exemplo, para fazer um chiqueirão para agregar 1.000 suínos se investe em torno de R$ 400 a R$ 500 por suíno, ou seja, um investimento fixo de cerca de R$ 500 mil, que pode ser financiado em até dez anos a juros de 4 a 6%, mas a parcela vai chegar. Ainda existem os custos variáveis: uma telha, bebedouro que deu problema, um temporal, manutenção etc. Tudo isso precisa ser colocado na planilha. Também tem os custos fixos: mão de obra, alimentação, água, luz, destino e transporte dos dejetos. Então, depois de dez anos o produtor chega à conclusão que trabalho para pagar o investimento. Ele pensa: “Vou pôr um chiqueirão para pagar a faculdade do filho”, mas não vai conseguir porque a margem de lucro é muito pequena. Ele vai acabar tirando dinheiro de outros setores da propriedade e investindo mais na suinocultura com a ilusão de estar ganhando dinheiro. Para o produtor na questão da renda e da viabilidade do negócio e o retorno é muito longo.
Não quero desestimular ninguém. Estou colocando a realidade até para defender a remuneração dos produtores, explicar às empresas e aos agricultores a pouca margem de lucro e a falta de valorização do produtor. É preciso mudar a mentalidade de pessoas que estão à frente do sistema de integração seja de empresas privadas ou de cooperativas porque o sistema está prestes a entrar em colapso. O produtor vai chegar a um nível de degradação de falta de capacidade de investimento, comprometimento econômico e das suas propriedades com isso que não vai ter volta.
Quando à questão do meio ambiente, estão exigindo muito dos produtores rurais?
Folador: Sempre ressalto a importância de cuidar do meio ambiente. Não podemos poluir rios, riachos. O produtor rural vem sendo conscientizado que tem que cuidar, preservar. É a sua casa e tem uma legislação punitiva e rigorosa e ele tem que cumprir, senão será multado.
Por outro lado, ele precisa produzir, sustentar a família, ter uma vida digna e fornecer alimento. Acho que se tem uma fala agressiva sobre a produção rural em relação ao meio ambiente, está se indo por um viés ideológico que parece que tem que virar tudo mato de novo. Existe um estudo da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária que diz que o Brasil tem mais de 60% de suas florestas preservadas.
Mas, na questão da dureza em que isso é tratado, acho que há excessos. O produtor rural ainda é quem mais preserva o meio ambiente. São muitas normas que mais atrapalham do que ajudam, é preciso desburocratizar urgentemente porque se criam normas e leis para não serem cumpridas somente para gerar multa, porque elas são impossíveis de se executar.
O produtor rural está sendo massacrado, colocado em uma situação de delinquente ambiental sem ser delinquente. Ele está produzindo alimentos, às vezes tirando dinheiro do bolso, comprometendo sua propriedade dando ela em garantia, hipotecada no banco para poder produzir. Tem muitas coisas que precisam ser revistas. O Governo que assumiu agora tem uma opinião diferente sobre o processo, tem que reavaliar muita coisa. Os excessos que existem precisam ser corrigidos, não podemos massacrar uma classe que representa cerca de 25% do PIB nacional e é responsável por muitos empregos que vem da produção primária.
A produção brasileira está muito bem. Temos um produtor qualificado, buscando cada vez mais se profissionalizar, investindo em tecnologias, produzindo cada vez melhor. Não perdermos para ninguém a nível mundial na produção, na qualidade, tecnologia das produtividades. Eu acredito que o meio rural tem feito a sua parte.
Entrevista feita pelo jornal A Voz da Serra do Alto Uruguai com edição da Assessoria de Comunicação da ACSURS. Publicada em 15 de fevereiro de 2019.
Cotação semanal
Dados referentes a semana 22/11/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 9,53Farelo de soja à vista tonelada
R$ 71,50Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 1.975,00Preço base - Integração
Atualizado em: 22/11/2024 17:50