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O que você precisa saber sobre PCV

12 de fevereiro de 2021
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Brenda M. F. P. P Marques1, Amanda L.O. Camargo1, Marina Lima1
1MSD Saúde Animal

Parte 1 . PCV2: qual sua importância?
O circovírus suíno tipo 2 (PCV2) é o agente etiológico da Circovirose suína, uma das infecções virais mais importantes nos suínos e responsável por graves perdas econômicas de até $ 20-30 por suíno (Lehman et al., 2020).
Os circovírus suínos são vírus DNA pequenos e sem envelope representados por três espécies reconhecidas (PCV1, PCV2 e PCV3), e uma nova tentativa de classificação designada como PCV-4 (Saporiti, et al., 2020). O PCV3 e o PCV4 são os tipos recentemente identificados e a sua importância clínica e patogênese ainda necessitam de maiores investigações (Palinski et al. 2016; Phan et al. 2016; Zhang et al. 2019).
O PCV2 foi descoberto como a causa de uma doença sistêmica esporádica na década de 1990 no Canadá (Clark, 1996; Harding, 1996), que foram seguidos por graves surtos em todo o mundo (Segalés, Kekarainen, & Cortey, 2013). O PCV2 foi originalmente identificado como o agente causador da ‘‘Síndrome do Definhamento Multissistêmico Pós-Desmame ’’, mas também é envolvido em uma série de outras síndromes que foram chamadas coletivamente como Doenças associadas ao Circovírus – “Porcine Circovirus Diseases Associated” (PCVAD) (Segalés et a., 2013; Elis, 2014). Dentre as doenças associadas ao PCV2 destacam-se o Complexo respiratório suíno (CRS), Síndrome da dermatite; e nefropatia (SDNS), falhas reprodutivas e enterite granulomatosa. Considerando que até 100% dos suínos são soropositivos para PCV2 no momento do abate, a infecção subclínica é atualmente a principal forma de infecção pelo PCV2 (Alarcon et al., 2013).
Os genes do PCV2 estão organizados em 11 quadros de leitura abertos (sigla em inglês, ORFs) (Maria Fort, 2010). As regiões ORFs são essenciais para a propagação do vírus. A ORF1 é necessária para a replicação viral. A região codificada a partir da ORF2 é a mais imunogênica do vírus, por ser parte da formação estrutural do capsídeo. Juntas, ORF1 e ORF2 contribuem para codificar, aproximadamente, 93 % do genoma do PCV2 (Steinfeldt et al., 2001; Finsterbusch e Mankertz, 2009; Cheung, 2012; Lv et al., 2014).
Desde a introdução da vacinação contra a Circovirose, as vacinas provaram ser extremamente eficientes, promovendo uma redução significativa na propagação do vírus em todo o mundo (Ssemadaali et al., 2015).

A evolução do PCV2
Até o momento foram descobertos 8 genótipos de PCV2 (Franzo & Segalés, 2018) conforme a Figura 1 que mostra sua distribuição geográfica.

• PCV2a, PCV2b e PCV2d permanecem como os genótipos mais prevalentes relatados em todo o mundo e, de acordo com o conhecimento atual, são os de maior relevância clínica. Atualmente, considera-se que o PCV2d exibe virulência semelhante para PCV2a e PCV2b quando inoculado em suínos susceptíveis (Opriessnig et al., 2014).
• PCV2c, PCV2e, PCV2f, PCV2g e PCV2h são considerados de pouca importância.

Figura 1 – Distribuição geográfica dos diferentes genótipos de PCV2.

 

As vacinas continuam protegendo?
O desenvolvimento inicial das vacinas entre 2002-2004 foi baseado no genótipo PCV2a, uma vez que era o genótipo predominante na época (Fenaux et al., 2000; Larochelle et al., 2002). No entanto, no momento em que a vacina foi introduzida em 2007, o PCV2b ultrapassou o PCV2a como o genótipo predominante em todo o mundo (Cheung et al., 2007; Gagnon et al., 2007; Dupont et al., 2008; Wiederkehr et al., 2009; Kim et al., 2011a). Ainda assim, as vacinas comerciais de PCV2 à base de PCV2a seguiram sendo eficazes contra o PCV2b (Fort et al., 2008; Seo et al., 2014a). Outra mudança genotípica ocorreu mais recentemente com o PCV2d se tornando o genótipo mais prevalente em todo o mundo (Xiao et al., 2015).
Devido ao aumento da prevalência de PCV2b e PCV2d nos últimos anos, a preocupação com uma possível ineficácia das vacinas com base em PCV2a aumentou. Porém, com base em avaliações clínicas, virológicas, imunológicas e patológicas, os estudos têm demonstrado que as vacinas comerciais com base no genótipo PCV2a protegem contra infecção de PCV2b e PCV2d (Fachinger et al., 2008; Lyoo et al., 2011; Fraile et al., 2012; Han et al., 2013; Jeong et al., 2015; Czyżewska-Dors et al., 2018). Veja na Tabela1 o compilado de vários estudos:

 

Recentemente, a eficácia da proteção contra PCV2b e PCV2d, a partir da vacinação com o genótipo de PCV2a, foi experimentalmente demonstrada por Park e colaboradores (2019). Neste estudo, os suínos foram vacinados com PCV2a e desafiados com PCV2a, PCV2b ou PCV2d. Dentre os resultados obtidos, estão:
• Redução significativa de sinais clínicos em todos os animais vacinados;
• Redução de viremia de PCV2, lesões linfóides e níveis de antígeno linfóide de PCV2 em comparação com os animais controle não vacinados;
• Títulos significativamente mais altos de anticorpos neutralizantes contra PCV2; e
• Aumento na frequência de células secretoras de interferon (IFN-SC) específicas para PCV2.

Neste mesmo trabalho, ainda que tenham demonstrado níveis maiores de anticorpos neutralizantes contra PCV2a do que para os demais genótipos de PCV, o número de células específicas de defesa (IFN-SC), relativas à imunidade celular específica para PCV2a, PCV2b e PCV2d, foi semelhantemente aumentado para todos os genótipos.

 

PARTE 2

Por que é importante controlar a viremia de PCV2?

A viremia pelo PCV2 produz a ativação do sistema imune que redireciona os nutrientes que seriam destinados ao crescimento (ganho de peso e conversão alimentar) para combater os desafios da doença. Em um estudo que avaliou duas vacinas comerciais para o controle de PCV2, foi verificado que no protocolo vacinal com uma dose, a partir das 19 semanas de idade os animais exibiram viremia e queda no GPD.  Por outro lado, o protocolo com duas doses foi capaz de controlar a viremia e maximizar o GPD durante o alto desafio de PCV na fase final, sendo 42g / dia superior (p<0.01), em relação ao outro grupo vacinado (Dewey et al., 2010).

Por que o Mycoplasma hyopneumoniae e o PCV2 devem ser controlados juntos?

O PCV-2 e o Mycoplasma hyopneumoniae são os dois patógenos mais prevalentes encontrados na atual suinocultura. Em uma infecção experimental dupla com PCV2 e M. hyopneumoniae, em que o desafio com PCV2 foi realizado uma semana após o desafio com M. hyopneumoniae, o PCV2 demonstrou potencializar a gravidade das lesões de M. hyopneumoniae e o M. hyopneumoniae demonstrou potencializar a gravidade de viremia de PCV2 (Seo et al., 2014). Os efeitos de uma infecção dupla no desempenho do animal são, portanto, geralmente mais dramáticos do que com qualquer um dos dois patógenos isoladamente. Consequentemente, a vacinação contra um dos dois patógenos por si só não é suficiente para proteger os animais de infecções duplas com ambos os patógenos, destacando a necessidade e o benefício de controlar os dois agentes juntos. Em um estudo de campo, o efeito positivo desse controle, foi refletido por um GPD 34 g maior durante todo o período de terminação (Witvliet et al., 2015).

 

Diagnóstico e controle de uma doença multifatorial

A Circovirose é uma doença multifatorial, no qual o PCV2, para reproduzir a doença clínica, necessita de alguns “gatilhos” presentes no ambiente. Ao caracterizar uma enfermidade dessa maneira, afirmamos que diversos cofatores infecciosos e não infecciosos são necessários para a manifestação do quadro clínico. Dessa forma, o diagnóstico definitivo de infecção pelo PCV2 deve combinar os sinais clínicos, a presença do vírus e as lesões macro e microscópicas (Barcellos et al., 2012).  É primordial realizar um diagnóstico holístico da enfermidade com análise de dados do rebanho, fatores ambientais e de manejo e das coinfecções presentes que colaboram para a intensificação do quadro clínico dos animais.

As vacinas, sem dúvida, foram um marco no controle da Circovirose e manutenção da produtividade da suinocultura. Embora as vacinas possibilitem o controle dos sinais clínicos, lesões e excreção viral, elas não impedem a infecção dos animais. Não podemos esquecer que o PCV2 é um vírus extremamente resistente e permanece muito tempo no meio ambiente. O controle do agente deve envolver medidas de biosseguridade, cuidados com o status imunológico dos suínos, baixa presença do viral no rebanho e ambiente, além de cuidados adequados ao conservar e administrar as vacinas (Ciacci-Zanella, 2017). No momento da vacinação, os animais devem estar estáveis para que a resposta imunológica ocorra e se desenvolva da melhor forma. Infecções concomitantes por outros patógenos como (vírus da Influenza, PRRS) ou outras condições imunossupressoras (micotoxinas) podem afetar a resposta imune dos animais.

Com a devida atenção ao diagnóstico, é possível chegar a conclusões importantes. Dentre elas, podemos entender melhor a dinâmica de infecção tanto do PCV quanto de outros agentes infecciosos dentro da granja, viabilizando a definição das melhores estratégias de tratamento e prevenção. Além disto, o diagnóstico permite definir se os problemas da granja são realmente relacionados ao PCV2 ou a outros agentes, conhecer as suas causas fundamentais e consequentemente desenvolver as melhores estratégias para resolução dos problemas enfrentados (Segalés, 2007).

Dinâmica da infecção e protocolos vacinais

Pensando no controle da circovirose, outro ponto importante a ser considerado são as variações na epidemiologia da doença, gerando a necessidade de protocolos vacinais mais estratégicos e personalizados para os diferentes contextos de cada granja. Exemplificando uma alteração de dinâmica de infecção do PCV2, Segales (2020) descreve que devido à diminuição da pressão de infecção obtida pela vacinação, animais em final de terminação ou em idade reprodutiva podem estar susceptíveis à infecção. A susceptibilidade nesta fase, aumenta o risco de infecções verticais das matrizes aos leitões, e diminui a entrega de proteção pela matriz aos leitões através do colostro. Esta situação está associada à menor proteção dos leitões e a ocorrência da doença em animais mais jovens, por vezes antes mesmo, do desenvolvimento da imunidade vacinal.

Figura 5. Evolução da epidemiologia da infecção por PCV2 num contexto de vacinação sistemática, segundo Segalés et al. (2020).

 

Com base nisso, cada granja deve avaliar a dinâmica da doença dentro do seu rebanho para definir o programa que mais se adapta à sua situação e que poderá passar por:

  • Homogeneizar a imunidade das reprodutoras;
  • Vacinação da reposição contra o PCV-2 de forma rotineira;
  • Adequar, se for necessário, a idade da vacinação dos leitões.

Atualmente os leitões geralmente são vacinados por volta da 3ª semana de vida. Independentemente da idade, o momento ideal para a vacinação dos leitões combina uma situação de baixos níveis de anticorpos maternos e anterior ao desafio natural.  Assim, os leitões terão a imunidade protetora a partir da vacina antes da sua exposição ao agente viral.

Conclusões:

Uma vez que a Circovirose é uma doença multifatorial, de manifestações clínicas e subclínicas abrangentes e epidemiologia complexa, a abordagem holística contra a doença, lançando mão de ferramentas observacionais e diagnósticas é de suma importância. Mesmo que as vacinas comerciais sejam eficazes contra os genótipos considerados de importância para a circovirose suína, o controle deve abranger todos os múltiplos fatores que podem estar relacionados ao desenvolvimento da doença e de infecções associadas.

Fonte: MSD Saúde Animal

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