safras

TRIGO: Cereais de inverno ganham espaço na nutrição de bovinos – Embrapa

17 de maio de 2022
Compartilhe

Porto Alegre, 17 de maio de 2022 – Pesquisas da Embrapa com cereais de
inverno, como o trigo, triticale, aveia e cevada têm consolidado o uso dessas
plantas na alimentação de bovinos na Região Sul do Brasil. Seja para suprir a
escassez de forragens ou como alternativa ao uso do milho, o fato é que os
cereais de inverno estão se destacando como opções sustentáveis e rentáveis
para a alimentação animal.

Paralelamente, um estudo recente mostra que, assim como o melhoramento
genético, a alimentação do gado está diretamente relacionada à qualidade da
carne. E é nesse cenário que os cereais de inverno começam a ganhar espaço
no mercado de proteína animal.

O tema “qualidade e segurança do alimento” foi eleito como o quinto mais
relevante na “Pesquisa sobre as Prioridades da Pecuária de Corte
Brasileira”, no recorte da Região Sul do Brasil, que entrevistou 735
participantes de 193 municípios em 2021.

Costela, maminha, picanha, fraldinha, alcatra, coxão mole, coxão duro,
filé-mignon e patinho; os cortes são variados, sem contar as vísceras que
também agradam muita gente. Mas por trás do produto exposto para a venda nas
gôndolas dos supermercados e açougues estão cada dia mais intrínsecos temas
como origem da carne e bem-estar do animal, ou seja, como esse bovino nasceu,
foi criado e abatido. Já é cientificamente comprovado que a qualidade da carne
está diretamente relacionada a como se deu cada um desses fatores.

É no campo que quase tudo acontece, com a alimentação do animal
cumprindo papel determinante nesse processo. “Além da genética, o sistema de
criação e terminação do animal interfere diretamente nas características da
carne. Entre um extremo, de produção somente com pastagens, até o outro
extremo, de confinamento total, com alimentação por grãos, há a formação
de produtos totalmente diferentes”, explica a pesquisadora Élen Nalério, da
Embrapa Pecuária Sul (RS). Essa diferença se dá não apenas no tipo de
gordura formada, mas, consequentemente, no sabor e aroma dessa carne. “Os
bovinos são animais naturalmente prontos para fazer a digestão de fibras, de
pasto. Para fazer a digestão de grãos, eles precisam passar por uma
adaptação. Essa variação de alimentação faz com que sejam formadas
gorduras totalmente diferentes, e isso interfere também no sabor e aroma do
produto”, ressalta a pesquisadora.

Enquanto a carne produzida nos campos tem uma cor viva e gordura mais
amarelada, a de confinamento é mais pálida e possui gordura mais branca.
Conforme Élen, o pasto tem carotenoides, que conferem a cor amarela à gordura.
Já a cor da carne sofre influência de maior ou menor presença das
mioglobinas. “O animal no pasto caminha mais, e precisa oxigenar a musculatura,
o que aumenta o teor de mioglobina e origina a cor vermelho mais intenso na
carne”, explica ela.

Nos campos Sul-brasileiros, a alimentação dos animais é composta em sua
maior parte pela rica variedade dos campos naturais e dietas baseadas em
forragens, que dão origem a um produto com perfil de gordura mais saudável.
Quando os ruminantes são alimentados com dietas baseadas em forragens, fornecem
carnes com maior teor de ácidos graxos do tipo ômega 3. Paralelo a isso,
animais terminados com dietas mais intensivas, com alta composição de grãos,
renderão carnes com maior teor de ômega 6.

“Uma das biofábricas mais sustentáveis do mundo certamente está
presente no estômago dos ruminantes. O rúmen, através da ação de
microrganismos, é capaz de transformar a celulose das gramíneas em proteína
animal de alta qualidade para alimentação humana”, avalia o engenheiro
agrônomo da Embrapa Trigo (RS), Giovani Faé, destacando que manejo adequado
das pastagens também pode representar sustentabilidade do planeta: “Pesquisas
da Embrapa mostraram que um bom manejo de pastagens pode representar um
equivalente em crédito de carbono ao plantio de 6,27 árvores de eucalipto,
anualmente, por animal”.

Oferta de alimento de qualidade no campo

A maior parte da Região Sul do Brasil é privilegiada pelo ambiente
favorável para duas colheitas anuais de grãos, mas também existem períodos
de déficit hídrico, frio e excesso de umidade, que dificultam o manejo e
implicam em sazonalidade produtiva das pastagens.

A escassez de forragens no campo é marcada por duas épocas desafiadoras
para o pecuarista Sul-brasileiro: o vazio forrageiro outonal (março a maio) e o
vazio forrageiro primaveril (setembro a novembro). A sazonalidade produtiva das
pastagens está associada tanto às condições climáticas, quanto ao ciclo de
crescimento das espécies forrageiras. Em geral, a maioria das pastagens
disponíveis na Região Sul é composta por espécies de crescimento na
estação quente, quando florescem, frutificam e maturam, chegando ao final do
verão com estrutura fibrosa, plantas com mais colmos do que folhas, que perdem
drasticamente o valor nutritivo.

O planejamento forrageiro é uma estratégia para reduzir a escassez de
alimento dos rebanhos ao longo do ano a partir da oferta diversificada de pasto
e forragens conservadas. A Embrapa disponibiliza cultivares de gramíneas e
leguminosas forrageiras, tanto de inverno como de verão, anuais e perenes, com
picos de produção em diferentes épocas do ano que, associadas a práticas de
manejo, podem fornecer alimento de alto valor nutritivo em sistema de
integração lavoura-pecuária (ILP).

Parte relevante do planejamento forrageiro deve-se especialmente aos
cereais de inverno, como o trigo, o centeio, triticale e a aveia, além do
azevém, que têm o papel crucial de prover alimento no outono e no inverno no
Sul do Brasil, importante para a sustentabilidade pecuária quando da escassez
de pastagens naturais, ou mesmo as cultivadas. “Existe uma grande ociosidade de
áreas no inverno que podem ser manejadas para produzir altos volumes de
forragens. Com o avanço da soja em detrimento da pecuária, o gado acaba
confinado a espaços cada vez mais restritivos e depende da suplementação no
cocho. Esse alimento pode ser produzido no inverno e armazenado, a partir de
feno, silagens, grãos secos ou mesmo palha para suprir demanda em períodos
adversos ou para sistemas de produção intensivos”, explica o pesquisador da
Embrapa Trigo Renato Fontaneli.

Outra alternativa para melhorar a nutrição especialmente nos períodos de
vazio forrageiro é o Pasto sobre Pasto, técnica baseada no aumento da
diversidade de plantas forrageiras de ciclos de produção diferentes, mas com
características que se complementam. O sistema tem como princípio uma
integração funcional, tanto em relação às espécies forrageiras diferentes,
como em sistemas integrados com lavouras, com ganhos em ambos os casos.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul Márcia Silveira, a lógica
do Pasto sobre Pasto está em mesclar plantas forrageiras na mesma área,
iniciando um novo ciclo de crescimento do pasto sobre outro ciclo, sem remover
as diferentes forrageiras em produção. Com isso, é possível ter maior
estabilidade na oferta de forragem ao longo do ano, principalmente nos períodos
de transição entre as estações frias e quentes do ano, quando ocorrem os
conhecidos vazios forrageiros. Para tanto são usadas diferentes espécies
forrageiras de gramíneas, de inverno e verão, e leguminosas no sistema,
buscando a estabilidade e o aumento de oferta de alimento para os animais. Entre
as espécies que estão sendo testadas nessas mesclas, por exemplo, a aveia
entra como uma alternativa importante nos desenhos de sistemas de produção.

Outro foco das pesquisas da Embrapa está voltado à avaliação
nutricional dos cereais de inverno para compor a dieta dos animais frente a
escassez de milho no mercado. “É possível substituir parte do milho, seja em
grãos ou volumoso, na alimentação dos bovinos sem comprometer o ganho de
peso”, explica o engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Marcelo Klein.

Qualidade no Angus

O gado da raça Angus forma rebanhos por todo o País, com a qualidade da
carne reconhecida pelo consumidor por oferecer cortes de alta suculência, sabor
diferenciado e gordura na medida certa.

Na Cooperaliança, com sede em Guarapuava, PR, 177 cooperados trabalham com
cria, recria, engorda e terminação de Angus. No frigorífico da cooperativa
são 30 mil cabeças abatidas por ano.

A avaliação de cereais de inverno para forrageamento dos animais começou
há cinco anos, com análises a campo e em laboratório de culturas como trigo,
aveia, centeio, cevada e triticale. “Com o avanço da soja e do milho sobre a
pecuária vimos a necessidade de aprimorar a alimentação do gado, que fica
até oito meses nas propriedades dos cooperados em recria e terminação”,
conta o engenheiro agrônomo da Cooperaliança, Rodolfo Carletto.

Segundo ele, o volumoso servido no cocho era baseado na silagem de milho,
mas a entrada prematura da suplementação com grãos e o excesso de
carboidratos (amido) acabava achatando a curva de crescimento dos animais:
“Verificamos que as vísceras estavam ficando comprometidas. Até 50% do
fígado acabava descartado por lesões”. O problema, conforme Rodolfo, foi
significativamente reduzido com o uso de cereais de inverno que apresentam maior
teor de proteínas (11%) e menor teor de carboidratos (30% de amido) do que o
milho, que apresentou 7% de proteínas, 35% de amido na silagem e 75% de amido
nos grãos.

A escolha da Cooperaliança tem sido o triticale nos últimos dois anos,
especialmente na terminação de machos, na qual o resultado no incremento de
carcaça chega a 2%, com boa estrutura óssea e muscular. Em novilhas, o
triticale também obteve avaliação positiva, promovendo o crescimento dos
animais mais do que a engorda. “O produtor gostou do triticale pela facilidade
de cultivo, a rusticidade e o bom volume de massa verde que chegou a 28
toneladas por hectare, ou 9,5 toneladas de massa seca por hectare. O
aproveitamento dos dejetos para fazer a adubação também reduz bastante os
custos de produção que podem ser direcionados apenas à aquisição da semente
e à aplicação de fungicidas no espigamento”, avalia Carletto. A área
destinada ao triticale na cooperativa passou de 430 ha em 2021 para 750 ha neste
ano, com a cultivar BRS Surubim.

Cevada como alternativa

A zootecnista Maryon Carbonare trabalha com forragem conservada há mais de
dez anos, prestando consultoria na região dos campos gerais do Paraná. Uma
das propriedades acompanhadas por ela na MS DC Consultoria em Ponta Grossa, PR,
enfrentou a falta de milho para alimentar o rebanho de 400 animais, das raças
Angus e Canchim, em sistema de cria e recria. “Acabou a silagem de milho e
orientamos o produtor a colher os 32 hectares de cevada cervejeira que estava
destinada a colheita de grãos. Fizemos silagem de cevada de planta inteira que
abasteceu o plantel durante quatro meses, mantendo o ganho de peso e a taxa de
reprodução”, conta ela.

Enquanto a média de rendimento de massa verde na aveia foi de 20 toneladas
por hectare, a cevada produziu 35 toneladas de massa verde (ou 12 toneladas de
massa seca). Contudo, quando comparada à silagem de milho, os custos de
produção quase dobraram: R$ 0,55 kg/MS no milho e R$ 1,00 kg/MS na cevada.
“Mesmo com custos mais altos, não podemos ficar dependentes somente do milho.
Podemos produzir volumosos energéticos também no inverno”, conta Maryon, que
também fomenta o uso de cereais como triticale, trigo e aveia na produção de
forragem conservada.

Wagyu – a carne mais cara do mundo

O preço da carne de Wagyu pode ultrapassar R$ 1.000,00/kg. O diferencial
segundo os especialistas está no marmoreio, gordura entremeada na carne que
derrete durante o preparo resultando num sabor comparável à experiência de um
“chocolate suíço derretendo na boca”.

A raça japonesa chegou ao Brasil em 1992 e hoje conta com um rebanho
próximo a nove mil cabeças de Red Wagyu e Black Wagyu. No norte do Rio Grande
do Sul, no município de Paim Filho, os médicos veterinários Ricardo e Eraldo
Zanella começaram a criação de Wagyu há 20 anos. Hoje, a Agropecuária
Zanella conta com um plantel de 100 cabeças de animais puros das raças Wagyu,
destinados à produção e comercialização de genética, com criação nos
estados do RS, SC, PR, SP e MG.

“O sêmen do Wagyu está sendo muito utilizado no cruzamento industrial,
principalmente com outras raças como é o caso do Angus, Hereford e Nelore,
visando à produção de carnes nobres, principalmente por aumentar o grau de
marmoreio da carne. Assim, estima-se que o cruzamento com outras raças
ultrapasse 25 mil animais no Brasil”, conta Ricardo Zanella, que também é
membro da Diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos das
Raças Wagyu.

Na Agropecuária Zanella, os animais são selecionados por avaliações
genéticas criteriosas, e os que passam no processo de seleção vão para um
sistema de criação extensivo, onde ficam dois anos no pasto e depois são
encaminhados ao confinamento em São Paulo, onde passam da engorda à
terminação até alcançar 750 kg de peso vivo no ciclo completo de 36 meses.

A pastagem sempre contou com campo nativo, aveia, azevém, sorgo e capim
sudão, além de silagem de triticale. A primeira experiência com trigo na
forragem foi em 2021, quando a parceria com a Embrapa Trigo levou até o
produtor sementes das cultivares BRS Tarumã, BRS Tarumaxi e BRS Pastoreio.

Os animais entraram na pastagem de trigo com 25 a 30 cm de altura e saíram
quando as plantas atingiam de 5 a 10 cm. O início do pastejo começou no final
de junho e se estendeu até o início de outubro. A carga animal foi de 700
kg/ha de peso vivo (entre quatro e cinco cabeças). O método de pastejo foi o
rotacionado ou intermitente, mantendo os animais de três a sete dias em cada
piquete, retornando após 15 a 25 dias. Após cada saída, foi realizada a
adução com ureia (70 kg/ha) para estimular o rebrote das plantas.

No resultado final, a produção de matéria seca com pastagem de trigo
ultrapassou 6000 kg/ha. O ganho de peso vivo chegou a 1,76 kg/novilho/dia em
média, com alguns ganhando até 2,1 kg/dia. Em comparação, nos animais que
ficaram somente na pastagem de aveia o ganho de peso foi de 1,0 kg/dia.

Em 100 dias no pasto, o gado saiu com 392 kg/animal. “Os bovinos dobraram
de peso em pouco mais de três meses na pastagem de trigo. A meta agora é
chegar a 460 kg/animal nos dois anos de cria e terminação, ou seja, manter o
ganho sem perder o bem-estar animal”, avalia Ricardo Zanella. As informações
partem da assessoria de imprensa da Embrapa Trigo.

Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS

Copyright 2022 – Grupo CMA

Cotação semanal

Dados referentes a semana 20/06/2025

Suíno Independente kg vivo

R$ 8,43

Farelo de soja à vista tonelada

R$ 1.750,00

Casquinha de soja à vista tonelada

R$ 1.300,00

Milho Saca

R$ 66,25
Ver anteriores

Preço base - Integração

Atualizado em: 17/06/2025 09:45

AURORA* - base suíno gordo

R$ 6,60

AURORA* - base suíno leitão

R$ 6,70

Cooperativa Majestade*

R$ 6,60

Dália Alimentos* - base suíno gordo

R$ 7,00

Dália Alimentos* - base leitão

R$ 7,00

Alibem - base creche e term.

R$ 5,75

Alibem - base suíno leitão

R$ 6,60

BRF

R$ 7,30

Estrela Alimentos - creche e term.

R$ 6,40

Estrela Alimentos - base leitão

R$ 6,40

Pamplona* base term.

R$ 6,60

Pamplona* base suíno leitão

R$ 6,70
* mais bonificação de carcaça Ver anteriores

Parceiros da Suinocultura Gaúcha

Parceria