A Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) realizou, na última quarta-feira (2), o “Encontro da Cadeia de Valor da Suinocultura Brasileira” com o propósito de informar aos suinocultores e lideranças da cadeia as ações emergenciais que estão sendo adotadas frente ao momento do mercado de suínos no Brasil, para minimizar os efeitos ocasionados pela alta no custo de produção da suinocultura e pelos baixos valores pagos aos produtores, que estão preocupando toda a cadeia produtiva. O evento aconteceu de forma on-line, no Youtube, e contabiliza mais de 1.300 visualizações.
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, compartilhou durante o evento que também é produtor e se solidariza com essa situação. “Recebo ligações todos os dias de produtores preocupados, nos preparamos para uma expectativa de exportação que não aconteceu, temos uma super oferta no mercado interno e uma população com pouca renda, o excesso de oferta é o que vem prejudicando os preços pagos aos produtores. Mas quero ressaltar que a equipe ABCS está empenhada em encontrar soluções para essa crise tão injusta. Estamos em contato com o MAPA e teremos também uma audiência com o Ministro da Economia, Paulo Guedes para construir soluções em conjunto.”
Na ocasião, a entidade apresentou um panorama atualizado do mercado de suínos, bem como o cenário econômico-social da população brasileira que interfere diretamente na cadeia produtiva, além de trazer perspectivas relacionadas à exportação e ao mercado externo compartilhadas pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O evento contou também com a presença de representantes do varejo alimentício brasileiro, que trouxeram a visão do varejo sobre o comportamento do preço e volume de venda da carne suína, além de ouvir o coordenador Geral de Culturas Perenes e Pecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), João Salomão, que explano as iniciativas que estão em andamento junto ao Governo Federal.
Perspectivas de Mercado
O consultor de mercado da ABCS, Iuri Pinheiro Machado, explicou que um dos principais problemas atuais na suinocultura é a super oferta de carne suína no mercado interno, mas ressalta que a produção cresceu para atender a uma demanda nacional e internacional que também crescia, e que encolheu em razão da diminuição do poder aquisitivo dos consumidores. “Nos últimos dois anos tivemos uma queda na renda e uma alta na inflação, além do aumento da SELIC que afeta o crédito. A pandemia teve um impacto negativo na renda salarial da população em torno de 6%, e todo o cenário econômico resultou numa perda do poder de compra dos consumidores em torno de 20%.”
Ele explicou também que, segundo especialistas, a economia do Brasil não vai se recuperar este ano e projetam o crescimento do PIB em torno de apenas 3%. Por outro lado, estimam que até o fim do ano haverá uma queda na inflação, que será positiva. “Em relação a produção, a suinocultura brasileira cresceu vertiginosamente, atingindo os patamares previstos para 2027 em 2021, ou seja, tivemos um crescimento gigantesco, acompanhado pelo aumento do consumo per capita que já ultrapassou os 18 kg, ponto muito positivo para toda a cadeia.” Ele trouxe também um levantamento da produção brasileira nos últimos anos, juntamente com preços da carne suína no varejo brasileiro, e também um comparativo entre a relação de troca entre o suíno, o milho e o farelo de soja, que compara o valor que o animal é vendido com os custos de produção.
Para completar essa visão de mercado, o presidente da ABPA, Ricardo Santin, falou sobre as perspectivas das exportações para curto e médio prazo na suinocultura. Segundo ele, “A situação é desafiadora para todos, inclusive fora do país e também para a Indústria. Como pontos positivos diminuímos a dependência que temos da China, e aumentamos as exportações para outros países asiáticos, mas a China vai continuar comprando e vamos continuar exportando, porém estamos enfrentando dificuldades relacionadas à disseminação da Peste Suína Africana (PSA) e a retomada da produção no país.” Ele trouxe também informações referentes ao cenário de mercado na Europa e nos Estados Unidos, além de projeções para o futuro das exportações de carne suína brasileira.
A carne suína no varejo brasileiro
Para trazer a visão do varejo sobre o assunto, a ABCS recebeu representantes de quatro redes parceiras, que mostraram preocupação com o atual cenário dos produtores, e esclareceram que esta situação também tem impactado seus negócios. Numa tentativa de abrir diálogo com os produtores, eles ressaltaram que acreditam numa relação de “ganha, ganha” entre todos os envolvidos, produtores e varejo, e explicam que a queda nos preços da carne suína vem sendo repassada aos consumidores, que já sentem proteína mais barata, e por isso esperam manter as margens de lucro ligadas ao aumento do volume de vendas.
A Gerente Nacional de Suínos do Carrefour, a maior rede de varejo do país, Maria Rosilene Sousa Costa, explicou que a demanda no mês de janeiro tradicionalmente diminui em vista da renda dos consumidores que tende a ficar mais comprometida devido às contas de início de ano. “Com relação aos preços, estamos repassando os valores mais baixos para os consumidores, e na ponta estamos trabalhando com ofertas para manter o volume de vendas, precisamos achar um equilíbrio entre o preço pago aos produtores e o repassado aos consumidores, esse equilíbrio só consegue ser alcançado através do trabalho de ponte entre produtores e varejo construída pela ABCS.”
Pensamento compartilhado pelo Gestor Comercial de Suínos do GPA, Fábio Ramos, responsável pelas bandeiras Extra e Pão de Açúcar. “O nosso objetivo no GPA é aumentar a venda e o volume de venda de carne suína. Como estratégia estamos aproveitando a alta da carne bovina para incluir a carne suína na cesta dos consumidores, precisamos dar poder de compra ao consumidor, e conseguimos isso com preços mais competitivos, ofertas e comunicação com os clientes, mostrando que ele pode comer um corte de suíno mais em conta. Toda vez que o custo diminuir, o preço vai ser repassado aos consumidores, tivemos uma diminuição de preço final ao cliente do ano passado pra cá em 20%, por exemplo.”
Já Gustavo Nogueira Cabral Lessa, comprador de Suínos Nacional do Hortifruti e Natural da Terra, referência em produtos frescos, trouxe a perspectiva do cliente classe A, que antes não era tão impactado pela oscilação de renda, mas que hoje sente mais essa redução e também está em busca de promoções. “Para nos adaptar ao momento temos feito ações, queremos reduzir a nossa margem, buscar maior volume junto aos nossos fornecedores, aumentando o cash margem e também o consumo. Temos como objetivo este ano tornar a proteína uma prioridade, evidenciando a carne suína e impulsionando o consumo.”
O Gerente de Compras da Companhia Sulamericana de Distribuição (CSD), responsável pelas redes Cidade Canção, Amigão e São Francisco, Charles dos Santos Carolino, ressalta que o grupo tem a dimensão do quanto o produtor está sofrendo com essa situação, e explicou que “Temos repassado a queda dos preços pago pela carcaça para os consumidores, pois somos referência no estado do Paraná, mas temos aproveitado essa baixa de preços e queremos continuar nos mantendo agressivos, vendendo grandes volumes e fidelizando nosso cliente transferindo essa queda de preço para eles no ponto de venda.”
Atuação do MAPA
O coordenador Geral de Culturas Perenes e Pecuária do MAPA, João Salomão, declarou que o MAPA está ciente do problema, e detalhou as medidas que estão sendo encaminhadas pelo governo federal, por meio do MAPA, como a medida provisória para venda de milho balcão para os pequenos produtores, a isenção do PIS/Confis para conseguir que seja prorrogada até final do ano, a renegociação de dívidas para os produtores, a retenção de matrizes que geraria um capital de giro ao produtor, trabalhando para que o produtor mantenha o rebanho. Ele ressaltou que o MAPA está focado para que esta última medida seja executada antes do Plano Safra. Além disso, ele explicou que existe uma linha de financiamento para estocagem de suínos.
Impulsionando o consumo interno
Num momento de instabilidade e desafios financeiros para os suinocultores, a ABCS acredita que se torna imprescindível trabalhar para impulsionar e fortalecer ainda mais o consumo da proteína suína no mercado brasileiro, e por isso realizará a segunda edição da campanha Carne se Porco: bom de preço, bom de prato. Voltada para açougues, grandes, pequenos e médios varejistas, e com abrangência nacional, a campanha alcançou quase 1 milhão de reais em vendas de carne suína em 2021. Este ano com novo design, peças digitais para PDV, e foco em preço baixo e economia, a campanha vai impulsionar os cinco cortes mais baratos e populares entre os consumidores brasileiros: pernil, bisteca, barriga, costela e copa-lombo. A campanha foi apresentada durante o evento, e será entregue a toda a cadeia até o fim desta semana.
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, encerrou o evento com uma mensagem aos produtores: “Levamos a todos vocês informações corretas e acabamos de entender quais são os problemas. Aquilo que pode ser feito juntamente ao governo, indústria e varejo está sendo feito. Entregamos um ofício com as demandas de todos os presidentes das associações estaduais para a Ministra da Agricultura, mas precisamos ser lúcidos e entender que uma ação conjunta nesse momento é necessária. Estamos recebendo e atendendo todos os produtores e precisamos estar juntos, cada um fazendo seu papel. Vamos trabalhar para distribuir essa campanha e impulsionar o consumo. Contem com a ABCS e os presidentes estaduais que têm se empenhado ao máximo, agradeço o comprometimento de todos vocês. Esse movimento de impulsionamento do consumo precisa ser uma iniciativa de toda cadeia, pois estamos todos sofrendo. Sei do que estou falando porque sou produtor e estou sentindo na carne esta situação. Vamos ter responsabilidade e trabalhar juntos, todos nós, produtores, cadeia, indústria e varejo, temos uma oportunidade gigantesca para crescer o consumo interno em até 22kg. Uma oportunidade de acabar com a dependência que temos das exportações, que são importantíssimas, mas precisamos fortalecer o mercado interno. Se as exportações caírem, temos 2030 milhões de pessoas que precisam consumir mais carne suína. Estamos aqui trabalhando dia e noite para mudar a realidade da suinocultura brasileira, o material está disponível e precisamos fazer com que essas informações cheguem no consumidor. Temos a oportunidade de sairmos mais fortes dessa crise e cabe a nós fazermos isso”, finalizou.
O evento está disponível no YouTube, acesse!
Cotação semanal
Dados referentes a semana 22/11/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 9,53Farelo de soja à vista tonelada
R$ 71,50Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 1.975,00Preço base - Integração
Atualizado em: 07/11/2024 17:50