Porto Alegre, 26 de setembro de 2022 – O uso de todo o potencial de produção de biometano do
Brasil para no lugar do diesel no abastecimento das frotas de veículos pesados poderia substituir
toda a importação do fóssil pela próxima década. Isso representaria uma economia de até US$
137 bilhões ao longo desse período.
O cálculo, feito pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), demonstra que há
possibilidade de substituição do fóssil por renovável no Brasil, o que reduziria a emissão no
curto prazo do metano, o gás mais nocivo para a atmosfera. A mudança também ajudaria a melhorar
os resultados da balança comercial do país.
Com base em projeções de diferentes cenários de crescimento da economia, a CBIE elaborou
três cenários de evolução do consumo de diesel no Brasil até 2031. Em um quadro mais otimista
de avanço do PIB, a demanda por diesel superaria a capacidade de refino prevista e exigiria ainda
importações. Só em 2031, o volume chegaria a 35 bilhões de litros, ou o equivalente a 45% do
consumo esperado para o ano.
Para substituir essa importação por completo, a indústria nacional de biometano teria que
chegar a 2031 com uma capacidade de produção anual de 40 bilhões de litros, ou 112,89 milhões de
metros cúbicos de biogás ao dia. Esse volume evitaria o gasto de US$ 137 bilhões com
importações no período de 2021 a 2031.
No cenário-base dos cálculos da consultoria, em que o crescimento econômico seria menos
acelerado, o Brasil teria que importar 30 bilhões de litros de diesel em 2031. Com isso, a
substituição do combustível fóssil por biometano seria de US$ 124 bilhões (ver quadro).
A projeção de demanda no cenário-base é similar às estimativas para o potencial de
produção do renovável feitas por organizações que representam investidores do mercado do
biogás. Segundo cálculos da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o eventual
aproveitamento completo do volume de resíduos da agropecuária e do saneamento urbano permitirá a
produção de até 120,8 milhões de metros cúbicos de biogás ao dia. Com isso, seria possível
cobrir a demanda necessária para substituir as importações de diesel no cenário de consumo mais
aquecido.
O aproveitamento total dos resíduos, porém, ainda está longe da realidade. O cenário mais
provável é de que, em 2030, o país tenha capacidade de produzir 30 milhões de metros cúbicos de
biometano por dia, calcula a Abiogás, com base nos investimentos anunciados e outros previstos.
Mesmo considerando essa perspectiva, o volume ao menos estancaria o aumento das importações de
diesel até o fim da próxima década. Nas contas do CBIE, no cenário-base, o país teria problemas
para abastecer sua demanda de diesel a partir de 2028, se considerando-se que não haveria
investimentos adicionais em refino nem em capacidade de importação do combustível fóssil.
Nessa hipótese, a demanda por biometano ficaria entre 15,2 milhões e 29,8 milhões por dia
até 2031, um volume que se poderia atender com a capacidade que a Abiogás prevê para o fim da
década. O consumo do biometano nesse cenário evitaria importações de US$ 7,8 bilhões de diesel
em uma década. As projeções levaram em consideração uma mistura de 10% de biodiesel no diesel
até 2023 e aumento progressivo até 2026, quando ela chegaria a 2026.
É verdade que o potencial que o CBIE projeta ainda está distante da realidade. Segundo a
Abiogás, o país tem hoje menos de dez unidades, capazes de entregar 400 mil metros cúbicos ao dia
– e, dessas dez, apenas cinco têm autorização para operar comercialmente. A maior parte é
investimento recente, como da Adecoagro e da Cocal, que usam resíduos da produção de etanol para
gerar biogás.
Além da cana, também oferecem alternativas de produção as granjas, os confinamentos, as
culturas que geram resíduos para biodigestores e os aterros urbanos, onde a promessa de expansão
é maior. Mas ainda falta a concretização dos novos investimentos.
Para Bruno Pascon, sócio do CBIE e responsável pelo levantamento, novos marcos legais
recém-aprovados podem criar um quadro favorável a um salto. Só neste ano, ocorreu a
regulamentação da lei de resíduos sólidos, que pode destravar aportes em lixões, e editou-se o
decreto de incentivo ao biometano, que concedeu benefício fiscal a investimentos. Para ele, o plano
nacional de fertilizantes e a Lei da Eletrobras, que obrigou a contratação de térmicas a gás
natural, também podem contribuir para fomentar o biometano.
Pela potência do agronegócio, o Brasil tem tudo para ser referência mundial de biogás,
defende. Segundo Pascon, o fato de o Brasil ser uma liderança na produção e exportação de
alimentos torna o país um potencial liderança também em biometano.
A Alemanha tem hoje a maior capacidade instalada de biogás do mundo, seguida de Estados Unidos,
Reino Unidos, Itália e China. Desse grupo de países, diz Pascon, americanos e chineses são os que
têm maior potencial de crescimento justamente porque eles têm grande produção agrícola, que
deixa resíduos. E o Brasil mal começou, lembra.
Além de evitar gastos com importações de combustíveis fósseis, o biometano também pode
abrasileirar o custo do combustível, defende Tamar Roitman, gerente executivo da Associação
Brasileira do Biogás. Ao contrário do diesel, o biometano não tem relação com o preço
internacional de petróleo nem com o dólar. Ele é atrelado ao real.
Já na comparação com o gás natural de origem fóssil, o biometano é acrescido de um prêmio
verde, mas ainda sem padrão. O preço varia muito. Depende do modelo de negociação e da
localidade, afirma. Mas alguns produtores já comercializam o renovável nas bombas, como a
Ecometano e o grupo Urca.
As informações partem do Valor Econômico.
Revisão: Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) – Agência SAFRAS
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