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CARNES: Brasil precisa recuperar 60 mi de hectares de pastagens até 2023

21 de novembro de 2014
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Porto Alegre, 21 de novembro de 2014 – Até 2023, o Brasil precisa
recuperar cerca de 60 milhões de hectares de áreas de pastagens com baixa
produtividade para poder evoluir em direção a uma economia verde, alerta a
segunda fase da coletânea de estudos “Diretrizes para uma Economia Verde no
Brasil”, lançada nesta semana (17/11) pela Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável (FBDS).

No diagnóstico de Agricultura e Pecuária da FBDS, a pesquisadora
Susian Martins afirma que 50% dos pastos brasileiros estão em processo de
degradação ambiental e que é preciso recuperá-los com urgência. Atualmente,
o Brasil detém o segundo maior rebanho bovino do mundo, com 205 milhões de
cabeças. A produção cresce ano a ano, bem como o consumo.

Somos um grande exportador – segundo lugar no ranking mundial – e
reconhecidos pela qualidade da nossa carne. Mas é fundamental elevar a
qualidade da pecuária, preservando o meio ambiente e aumentando a eficiência.

No estudo, Susian, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade
da Fundação Getúlio Vargas, explica que a degradação de pastagens é o
processo de perda de vigor, de produtividade e de capacidade de recuperação
natural da cobertura vegetal para sustentar os níveis de produção e a
qualidade exigida pelos animais. De modo geral, a causa fundamental desse
processo é o manejo inadequado e deficiências na conservação.

Com o avanço do processo de degradação, a área perde cobertura
vegetal e, consequentemente, diminui o teor de matéria orgânica do solo,
promovendo a liberação de CO2 para atmosfera. No caminho contrário, quando se
investe para repor os nutrientes na pastagem, o produtor assegura uma dieta de
melhor qualidade para o gado, reduzindo o tempo de abate aumentando a
produtividade.

Para estimular essa melhoria, os produtores têm recorrido ao Programa
ABC, linha de crédito do Plano ABC criada em 2010 após o Brasil assumir
voluntariamente o compromisso de reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa.
O Plano ABC apresenta uma série de alternativas produtivas e tecnológicas
para minimizar a emissão, enquanto que o Programa ABC visa dar condições para
o produtor realizar investimentos necessários e incorporar essas tecnologias
ao longo do processo produtivo.

Dos cerca de R$ 4,5 bilhões disponibilizados na safra 2013/2014, cerca
de 80% foram usados para recuperação de pastagens. Mas ainda há muito a
fazer. Susian explica que a meta de recuperar 60 milhões de hectares de áreas
de pastagens com baixa produtividade e baixa lotação é bem mais ampla que a
tímida meta do Plano ABC, de apenas 15 milhões de hectares.

Além disso, na opinião dela, é preciso capacitar 10 mil técnicos em
práticas de recuperação de pastagens até 2023, para que eles,
posteriormente, treinem os produtores rurais por meio da realização de dias de
campo, palestras etc. “No estudo, eu mostro a distribuição espacial dessa
assistência técnica. Infelizmente ela não está chegando ao Nordeste, que é
a região que mais concentra propriedades de agricultura familiar. Hoje, há
muito gargalo e carência desse serviço em estados do Norte, do Nordeste e no
Norte de Minas”, explica Susian.

Crescimento dos produtos orgânicos

O estudo da FBDS também revela que os produtos orgânicos, até pouco
tempo associados a um modismo das nutricionistas, já têm peso considerável na
economia brasileira. Os produtos são cultivados por cerca de 100 mil famílias
e movimentam cerca de R$ 500 milhões no ano, com taxas de crescimento de 15% a
20% ao ano.

De acordo com a pesquisa, este é um dos setores agropecuários com maior
potencial de crescimento em se tratando de economia verde, mas para isso o país
deve priorizar cerca de 11 metas até 2020. O objetivo é atingir 1 milhão de
propriedades rurais nos próximos cinco anos.

A pesquisadora Susian Martins está otimista com o desenvolvimento do
setor. Ela estabeleceu metas para atingir cerca de 20% dos estabelecimentos
rurais do país no período até 2020. “Precisamos disponibilizar linha de
crédito diferenciada para sistemas orgânicos de produção, com carência e
prazo de pagamento compatíveis com o tempo necessário à maturação do
projeto. Outro ponto é apoiar a regularização ambiental de 180 mil
estabelecimentos rurais orgânicos e de base agroecológica através do
Cadastramento Ambiental Rural (CAR).

Embora tenha sido criado em 2012, o CAR só foi publicado no Diário
Oficial em 2014 e são ainda poucas as propriedades rurais cadastradas. Sem
isso, o produtor rural poderá ficar sem acesso ao crédito”, explica Susian.

A especialista aponta ainda a necessidade de expandir a Assistência
Técnica e Extensão Rural (ATER). Hoje, há muito gargalo e carência desse
serviço em estados do Norte, do Nordeste e no Norte de Minas. A meta seria
instituir uma Rede Nacional de ATER para promoção da produção orgânica e de
base agroecológica para 1 milhão de agricultores familiares com investimento
de R$ 1,5 bilhão até 2020.

O estudo de Agricultura e Pecuária é um dos seis cadernos que compõem
o projeto da FBDS, que possui também indicadores para os seguintes temas:
Água, Energia, Transportes, Resíduos Sólidos e Mercado Financeiro. A
coletânea, que será distribuída para empresas, órgãos do governo e
formadores de opinião em geral, apresenta uma radiografia completa destes seis
setores da atividade econômica sob o olhar da sustentabilidade, e foi
desenvolvida com total autonomia pelos principais especialistas das áreas ao
longo de um ano.

Neste material, metas quantitativas foram propostas pela primeira vez e
podem gerar soluções a médio e longo prazo. Segundo o presidente da FBDS,
Israel Klabin, métricas e indicadores são ferramentas essenciais para o
desenvolvimento de políticas públicas e planejamento privado, pois
possibilitam enxergar os reais impactos das proposições.

“Nossa expectativa é que esses cadernos enriqueçam o debate sobre a
sustentabilidade da economia brasileira e, principalmente, sirvam para que
governos e empresas construam políticas que contribuam para a transição que
tanto almejamos”, ressalta Israel Klabin. As informações partem da
assessoria de imprensa da FBDS.

Revisão: Carine Lopes (carine@safras.com.br) / Agência SAFRAS
Copyright 2014 – Grupo CMA

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