SAFRAS (26) – A diarreia epidêmica suína, conhecida pela sigla em inglês
PED, é uma doença altamente contagiosa que atinge somente os animais e vem
dizimando leitões nos Estados Unidos. Causada pelo vírus Coronaviridae (PEDv),
a enfermidade não oferece perigo ao consumidor nem interfere na segurança
biológica da carne suína, mas pode impor grandes prejuízos aos produtores. O
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção
daquele país sofrerá uma redução de até 14% na oferta de carne suína de
2014 por causa da PED.
A doença ainda não foi detectada dentro das fronteiras brasileiras, mas
já há registros de casos nos vizinhos Peru e Colômbia. “Como temos um nível
de biossegurança no campo menor que o dos Estados Unidos, onde a PED já fez
grandes estragos, acredito que não podemos de forma alguma pagar para ver”,
alertou a especialista Janice Ciacci Zanella, pesquisadora da Embrapa Suínos e
Aves.
Manter-se livre da doença também poderá significar uma ótima
oportunidade de negócio para o Brasil. Com a contaminação das fazendas
norte-americanas, abre-se uma demanda de mercado que poderá ser abastecida pela
suinocultura brasileira. Líderes mundiais na exportação de carne suína, os
Estados Unidos venderam 2,2 milhões de toneladas do produto em 2013.
“O Brasil, como protagonista nas exportações de proteína animal,
vislumbra, no episódio, a oportunidade de mostrar ao mundo que seu plantel é
sadio e que as empresas do setor de suínos têm credenciais para continuar
atendendo aos consumidores globais”, acredita o presidente da Associação
Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e ex-ministro da Agricultura, Francisco
Turra. Só que para manter o vírus longe de suas granjas, o País terá de se
preparar.
Em nota oficial distribuída no início de maio, a ABPA defendeu um
reforço nos mecanismos de defesa sanitária do País e cobrou também uma
medida preventiva do Brasil em relação aos Estados Unidos. “Alertamos o
Ministério da Agricultura sobre a necessidade de adoção de medidas de
proibição temporária à entrada de suínos vivos, material genético, plasma
suíno e bovino, entre outros, provenientes dos EUA”, informou Turra.
O pedido tem relação com uma das suspeitas principais sobre a
disseminação do vírus da diarreia epidêmica. Pesquisadores norte-americanos
acreditam que ele entrou no país por meio de plasma contaminado. O plasma é
misturado à ração desde o início dos anos 90 e tem o objetivo de fornecer
anticorpos para suínos mais jovens. Até agora, os testes feitos em fábricas
de plasma nos Estados Unidos e Canadá não chegaram a conclusões definitivas.
Disseminação pelo mundo
O mais provável, segundo o pesquisador Nelson Morés, também da Embrapa
Suínos e Aves, é que a epidemia de diarreia, que já atinge 29 dos 50 estados
norte-americanos, tenha sido causada por uma conjugação de fatores. A doença
foi identificada em 1971, na Inglaterra. Em 1982, tornou-se endêmica em
vários países da Ásia. Uma variante do vírus, mais agressiva, surgiu na
China, em 2010. Essa mesma variante apareceu nos Estados Unidos em abril de
2013 e se alastrou rapidamente. “Certamente existem fatores ligados a falhas de
biossegurança para explicar essa disseminação”, afirmou o pesquisador.
A diarreia epidêmica dos suínos provoca mortalidade de praticamente 100%
dos leitões recém-nascidos nas granjas infectadas. Menos de 24 horas após a
contaminação, o vômito e a diarreia acentuadas provocam a morte por
desidratação. Em entrevista a um veículo de imprensa brasileiro, o
gerente-geral da produtora de suínos Hitch, Mike Brendherm, de Oklahoma,
Estados Unidos, afirmou que a PED foi a doença mais difícil já enfrentada
pela empresa. No final de 2013, a Hitch perdeu 30 mil leitões em 45 dias e,
mesmo após medidas drásticas de prevenção sanitária, continua registrando
de 500 a 600 mortes de leitões por semana.
Conforme indicam estudos genéticos das cepas do vírus coletadas pelo
mundo, o mais provável é que a China seja a origem do problema. Outra
característica encontrada é a facilidade de disseminação do vírus. Já há
registros da forma grave da doença em países como o Canadá, México, Peru,
Colômbia, Japão, República Dominicana, Coreia do Sul, Filipinas, China e
Tailândia.
Segundo a pesquisadora Janice Zanella, a viabilidade do vírus é grande e
ele sobrevive vários dias em superfícies como maçanetas de portas, lataria de
carros e caminhões e sola de calçados. Há ainda uma grande concentração de
vírus nas fezes dos animais doentes, superior à capacidade de limpeza dos
desinfetantes.
Melhor remédio é prevenção
Manter o plantel de suínos protegido, colocando em prática medidas para
garantir a saúde dos animais, é a alternativa mais eficiente para impedir que
a PED se instale no País. “Como não há vacina disponível para a doença, a
proteção do rebanho precisa estar focada em ações de biossegurança e
prevenção. Higiene, limpeza das instalações e controle na circulação de
pessoas e veículos são ações básicas para minimizar o risco da doença”,
enfatizou a pesquisadora Janice Zanella.
Essa prática, de acordo com a pesquisadora, deve ser constante, não
somente em momentos de surto. “Boa biossegurança deve ser realizada o tempo
todo para garantir a proteção da suinocultura, da economia, da indústria e da
sociedade brasileira”. Além disso, cada granja deve estabelecer seus
próprios procedimentos, identificando os principais pontos de risco, nos quais
o cuidado deve ser ainda maior.
Conhecer e estar atento aos fatores de risco é outra recomendação dos
especialistas da Embrapa. Um deles é conhecer a origem dos suínos. É
importante adquirir animais de fontes certificadas e isolar os animais de
reposição recém-chegados. O elevado fluxo de automóveis e caminhões na
granja, bem como o de pessoas nas instalações, também favorece o contágio.
Nesses casos, a medida deve ser a desinfecção dos veículos com acesso à
granja e a troca de roupa e calçados das pessoas que frequentam as
instalações. É recomendável, ainda, que as visitas sejam restritas, além de
obedecer ao vazio sanitário mínimo de 24 horas. Os animais mortos devem ser
levados para composteiras. Estão também na lista de fatores de risco para a
contaminação da PED: origem dos animais, insumos e equipamentos importados
contaminados; vetores como pássaros, morcegos e roedores; e proximidade das
granjas em regiões de alta densidade de criação.
Caso muitos leitões morram logo após o parto com sintomas de diarreia, é
recomendada a interdição imediata da granja suspeita e a comunicação aos
órgãos oficiais de controle sanitário. É também importante que se
identifiquem as rotas e vias de transmissão e se estabeleça o controle de
tráfego de veículos e pessoas em granjas positivas.
“Todos os procedimentos exigem agilidade de execução para que não
ocorra mais disseminação e contaminação e ajudam a descobrir como a
contaminação ocorreu”, comentou Janice. Verificar o registro dos suínos das
granjas positivas e controlar o destino de animais mortos também estão entre
as medidas estabelecidas. Os produtores, por sua vez, devem procurar
assistência veterinária assim que suspeitarem da doença.
A PED exigirá do Brasil a superação de alguns desafios, como o
desenvolvimento de protocolos seguros de importação de suínos e a validação
de métodos sorológicos comerciais de baixo custo. O País também terá de
conhecer e determinar as possíveis vias de entrada do vírus, além de apontar
os riscos de contaminação a que a suinocultura está exposta.
Para a pesquisadora Janice, aprimorar a biossegurança do rebanho suíno
nacional, implantar metodologias de diagnóstico ainda não disponíveis e
estabelecer uma rede de diagnóstico laboratorial e pesquisa em vírus de suíno
aparecem como oportunidades para o Brasil nesse momento. “Podemos mostrar
nossa capacidade de organização e investir em sanidade animal”, comentou.
Embrapa ajuda a elaborar Plano de Contingência
Com a identificação da PED em países ligados à nossa produção, o
Mapa, juntamente com a Embrapa, a indústria, produtores e laboratórios, formou
um comitê para elaborar um plano de contingência e sugestões de medidas de
biossegurança para a produção brasileira.
A pesquisadora Janice Zanella é uma das responsáveis pelo comitê e
explica que a intenção é a de elaborar um documento com informações sobre
as principais medidas de biossegurança para produtores e técnicos e manter
reuniões presenciais. “O nosso trabalho está voltado à informação, por
meio de palestras, painéis, reuniões, documentos”, comentou a pesquisadora.
Um dos primeiros eventos ocorreu no mês de abril em Concórdia (SC), na
Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), com produtores da
região.
Outra ação importante ocorreu durante a Feira da Indústria Latino
Americana de Aves e Suínos (AveSui), em maio na cidade de Florianópolis (SC),
com o Seminário Técnico sobre a Diarreia Suína (vírus PEDv). Com
informações da assessoria de imprensa da Embrapa.
(AB)
Cotação semanal
Dados referentes a semana 22/11/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 9,53Farelo de soja à vista tonelada
R$ 71,50Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 1.975,00Preço base - Integração
Atualizado em: 07/11/2024 17:50