Porto Alegre, 26 de novembro de 2020 – Em dois anos, o Brasil deve atingir
o mesmo patamar de genotipagem de reprodutores Angus dos Estados Unidos.
Resguardadas as proporções dos rebanhos, a meta é ter um em cada dois animais
avaliados no Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) genotipado,
projeção apresentada pelo geneticista e chefe da Embrapa Pecuária Sul,
Fernando Cardoso, na noite desta terça-feira (24/11) durante a 3a Jornada
Técnica Angus.
Segundo ele, a previsão de genotipar 50% dos reprodutores avaliados/ano é
realista e factível. Neste ano, a jornada foi promovida totalmente de forma
virtual com transmissão por plataforma fechada, pelo Lance Rural e pelos canais
de YouTube da Associação Brasileira de Angus e do Canal Rural. A
programação segue nesta quarta-feira (25/11) e quinta-feira (26/11), com
início sempre às 19h. As inscrições ainda estão abertas por meio do link
https://jornada-tecnica-angus.encontrodigital.com.br/inscricao.
O trabalho de genômica dos rebanhos Angus do Brasil vem sendo acompanhado
de perto pelos geneticistas norte-americanos, principalmente por ofertar
análises para características inéditas e de difícil mensuração, como a
resistência ao carrapato. Participando da transmissão, o pesquisador canadense
e diretor da Angus Genetics Inc (AGI), Stephen Miller, apresentou a expansão
consistente da genômica no rebanho dos EUA. O trabalho iniciou-se em 2010. Em
2012, eram 11 mil animais genotipados, marca que atingiu 873 mil em 2020 e,
dentro de um ano, deve passar das históricas 1 milhão de cabeças.
Segundo ele, é essencial o avanço das análises de fenótipo para
formação da base de dados para as avaliações genômicas, garantindo que o
levantamento se mantenha atualizado e a acurácia do sistema aumente rumo a um
novo futuro para a pecuária. “A taxa está crescendo de forma consistente.
Tão logo colocamos as avaliações para uso dos criadores, eles mesmos
começaram a genotipar seus animais. Isso foi o que impulsionou o banco de
dados”, ponderou ele. Processo similar vem ocorrendo no Brasil, uma vez que
importantes criatórios já genotiparam seus rebanhos e, inclusive, forneceram
seus dados para compor a base de referência da raça como a Casa Branca
Agropastoril, de Silvianópolis (MG).
Miller explicou que, quanto maior a dificuldade de avaliação de uma
característica, maior precisa ser sua população de referência. Um exemplo é
a análise de conformação de patas, o que a Associação Americana de Angus
chama de tolerância à altitude, e a capacidade de pelechamento, algo essencial
para regiões com altas temperaturas. Com 10 mil animais genotipados para essa
característica, os EUA avaliam a adaptação desse gado a regiões de climas
quentes e a capacidade de perder a pelagem de inverno. Pesquisa realizada com
animais no Missouri e na Carolina do Norte indicou diferentes níveis de
pelechamento. “Constantou-se que a herdabilidade para perda de pelo é alta, e
a genômica contribuiu com as DEPs para essa característica. A genômica está
tendo uma influência importante nas DEPs nos Estados Unidos”.
O avanço consistente da genômica frente às DEPs gerou dúvidas entre os
próprios criadores norte-americanos. Mas, afinal, será que esse novo rumo de
seleção estava levando os rebanhos para um caminho seguro? O assunto gerou
tanta preocupação que motivou uma pesquisa. Miller explicou que os criadores
resolveram olhar o passado com novos olhos, avaliando se as informações
genotípicas realmente se confirmaram com as progênies. O estudo considerou 178
touros com ao menos 25 filhos com avaliações de porcentagem de gordura
intramuscular, peso ao nascer, peso a desmama e peso ao ano. A análise das
predições desses reprodutores foi feita em recortes diferentes: avaliando
apenas os dados de pedigree, avaliação de pedigree + desempenho próprio do
animal, apenas genômica e os dados foram comparados com a análise da
progênie. A conclusão foi que o maior índice de confiabilidade de seleção
encontra-se na análise conjunta entre dados genômicos e o histórico do
animal. “Usando apenas a genômica, temos resultados superiores às antigas
DEPs. Avaliando o genótipo, o valor do fenótipo fica menor. Se olharmos para o
touro pós-progênie, fica claro que o genótipo tem melhor resultado”,
concluiu.
Em sua palestra, Fernando Cardoso ainda indicou que a grande contribuição
da genômica para a pecuária brasileira virá exatamente da predição de
característica de alta importância econômica, como a resistência ao
carrapato e a eficiência alimentar. Outra tendência na mira do pesquisador é
a avaliação da longevidade de vacas e do perfil de ácidos graxos, critério
que pode ser decisivo para definição de animais capazes de produzir uma carne
cada vez mais saudável. “A adoção da genômica no Brasil vai trazer
aceleração de ganho genético e permitir que se selecione por características
de alto valor econômico”, ponderou. O avanço deste trabalho significa dar
ao selecionador Angus a oportunidade de desenvolver linhagens completas de
animais superiores e, por consequência, de alto valor de mercado.
A 3a Jornada Técnica Angus foi aberta pelo presidente da Associação
Brasileira de Angus, Nivaldo Dzyekanski, que reforçou o ganho em exportações
de Carne Angus Certificada obtido em 2020. “A Angus avança no mercado interno
e externo. Essa 3 Jornada Técnica é um momento importante para crescimento
para que se consiga atender à demanda crescente por proteína de qualidade”.
Ao seu lado, o vice-presidente Técnico e presidente do Conselho Técnico da
Angus, Márcio Sudati, lembrou que o avanço da raça também pode ser observado
pelo aumento na demanda de sêmen nacional dentro do Brasil. “Com o foco de
pesquisa genômica para carrapato, confio em ainda mais incremento na venda de
sêmen”, estimou.
Representando a ministra Tereza Cristina, o secretário nacional de
Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura (Mapa),
Fernando Schwanke, enalteceu o trabalho da Angus pelo avanço do agronegócio e
para a produção de carne Premium do Brasil no mercado interno e externo, o que
“a Angus sabe fazer como ninguém”. Para ele, os próximos anos serão
desafiadores, mas há confiança de que Brasil se manterá como grande produtor
de alimentos. “Nós do Mapa temos dito que somos o ministério dos pequenos,
médio e grandes produtos que alimentam não só Brasil, mas boa parte do
mundo”, completou.
Quem participou do evento também contou com uma aula de genômica. Os
pesquisadores pontuaram o caminho percorrido até o início da utilização da
tecnologia, que compreende uma jornada árdua de formação de uma população
de referência capaz de elevar a acurácia dos estudos. A grande revolução de
bovinos de corte, indicou Cardoso, começou com o sequenciamento do genoma
bovino em 2008. Até então, havia um número limitado de marcadores que
explicavam determinadas características de forma limitada. A partir desse
momento, milhares de marcadores foram disponibilizados.
No Brasil, informou Cardoso, a genômica está iniciando com uma
população de referência de aproximadamente 7 mil exemplares. Na resistência
ao carrapato, por exemplo, a população de referência é de 1.200 animais, um
trabalho que deve seguir continuamente como forma de atualizar o rebanho a novas
tendências. Para viabilizar o projeto, a Associação Brasileira de Angus e a
Embrapa firmaram, em 2020, uma parceria público-privada que prevê a geração
de mais 1.500 genótipos até 2022. “Esse estudo permitirá o crescimento da
população de referência para o carrapato, avançando na produção de um
Angus para adaptação aos trópicos”.
Cardoso ainda apresentou estimativas que consideram o ganho que o controle
do carrapato, por meio da genômica, pode trazer à pecuária nacional. Segundo
ele, se 50% do sêmen de touros Angus utilizados no Brasil fossem de animais
resistentes ao carrapato, a pecuária nacional teria um acréscimo de receita
médio de R$ 168 milhões. “O desenvolvimento de um Angus de pelo mais curto e
mais resistente ao carrapato que, ao mesmo tempo, retenha as características
básicas da raça farão o diferencial do Angus brasileiro. Essa vai ser a
cereja do bolo do Angus do Brasil”. As informações partem da Associação
Brasileira de Angus.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Atualizado em: 14/08/2025 10:30