Porto Alegre, 23 de agosto de 2023 – Com base em dados preliminares de abate do segundo
trimestre de 2023, e estatísticas de exportação de carnes publicados pelo IBGE no último dia 10
de agosto, o consultor de mercado da ABCS Iuri Pinheiro Machado, fez algumas análises comparativas
com o mesmo período do ano passado, que demonstram os fundamentos para explicar a situação de
mercado do momento, com alta disponibilidade interna das três principais carnes vendidas no Brasil,
e preços pagos ao produtor ainda estagnados.
Produção do segundo trimestre e consolidado do primeiro semestre/23
Quando comparado com o mesmo período de 2022, em toneladas de carcaças, o segundo trimestre de
2023 foi marcado pelo aumento da produção de frango (+7,23%) e carne bovina (+9,47%) e pequena
redução da carne suína (-0,32%). No acumulado do ano (primeiro semestre), em comparação com o
mesmo período do ano passado, destaca-se um aumento de 6,30% no abate de bovinos, de 6,89% no
frango e de somente 1,23% na produção de carcaças suínas. Chama a atenção o elevado peso
médio das carcaças suínas neste segundo trimestre (93,78kg), o mais alto da série histórica do
IBGE.
Analisando o abate de suínos depois de um longo ciclo de crescimento da produção,
(intensificado entre 2019 e 2022, observa-se que no segundo trimestre de 2023 (-1,55%) pela primeira
vez desde 2014 (-0,09%), houve redução da produção em cabeças em relação ao mesmo trimestre
do ano anterior. Desde o quarto trimestre de 2018 não havia redução de volume produzido em
toneladas de carcaças.
Ao se fazer a mesma análise comparativa do crescimento do abate de suínos entre os semestres,
observa-se que o pequeno crescimento deste ano em relação ao primeiro semestre do ano passado de
0,80% em cabeças e 1,23% em toneladas de carcaças só foi maior que o ocorrido no primeiro
semestre de 2014 (+0,38% e +0,47%, respectivamente). Por outro lado, em comparação com o semestre
anterior (2º semestre de 2022), houve queda no número de cabeças e ton. de carcaças (-1,3% e
-1,23%, respectivamente) pela primeira vez, desde o primeiro semestre de 2019 (-0,4% e -0,6%).
Exportações recorde de carne suína e disponibilidade interna estável, porém oferta das demais
carnes limita cotações
Com um total de 620,46 mil toneladas de carne suína in natura exportadas de janeiro a julho/23,
superando em 13,72% o volume total e 15,5% o volume embarcado para China em relação ao mesmo
período do ano passado, este ano de 2023 caminha para bater novo recorde de exportação, superando
até mesmo o ano de 2021 possivelmente em mais de 7% no seu fechamento.
Cruzando os dados de produção publicados pelo IBGE e os volumes exportados no primeiro
semestre de 2023, observa-se em relação ao mesmo período do ano passado uma redução
insignificante da disponibilidade interna de carne suína da ordem de -1,74% (-36,74 mil toneladas).
Em relação ao segundo semestre de 2022, a disponibilidade interna da primeira metade de 2023
foi praticamente a mesma, diferindo em apenas 13,9 mil toneladas a mais (+0,67%) em favor deste ano.
Mesmo com a manutenção da oferta de carne suína no mercado doméstico, os preços pagos ao
produtor e as cotações de carcaças têm oscilado em patamar abaixo daquele atingido do final de
2022 até março de 2023.
Já o preço da carcaça bovina vem experimentando um verdadeiro “derretimento”, iniciado em
maio/23, fruto de um aumento considerável de oferta no mercado interno, mesmo no período de
entressafra do boi de pasto, em função da fase do ciclo pecuário em que o abate deste ano deve
superar significativamente o do ano passado sem aumento da exportação na mesma proporção.
O frango também teve aumento de oferta no primeiro semestre, o que determinou cotações muito
abaixo do ano passado.
É feito um comparativo entre o balanço das carnes bovina, de frango e suína no primeiro
semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto nestes primeiros
seis meses a carne suína reduziu a disponibilidade interna em quase 37 mil toneladas, a carne
bovina aumentou em 278 mil toneladas e a de frango em 206 mil toneladas, totalizando um aumento de
oferta de 447 mil toneladas de todas as carnes somadas (+4,89%); o equivalente a um aumento
projetado do consumo per capita ano de proteína animal da ordem de 4,4 kg por habitante a mais que
em 2022.
Sem dúvida, um dos fatores que impede maiores altas na cotação da carcaça suína é a
correlação de preços com as demais carnes. Cabe lembrar que quanto mais alta a relação
percentual boi-suíno e quanto mais baixa a relação suíno-frango, mais competitiva é a carne
suína em relação as outras. O spread entre a carcaça bovina e suína que, no passado chegou a
ultrapassar a marca de 150%, em de julho/23 atingiu o menor percentual do ano (70,6%), até então.
Com relação ao frango, o mês de julho/23 também foi marcado pela menor competitividade da
carne suína, com a maior diferença percentual de preço da carcaça suína em relação a carcaça
resfriada de frango (68,4%) no ano. Ou seja, em julho de 2023 a carcaça suína não esteve tão
mais barata em relação a carcaça bovina e esteve ainda mais cara em relação à carcaça de
frango em comparação com os meses anteriores de 2023, e em relação à média de 2022. O mês de
agosto, até o dia 21/08 (tabela 7), apresentava uma redução ainda maior do spread da carne
bovina, mas uma recuperação significativa da diferença em relação a carcaça de frango.
Destaca-se que não obrigatoriamente este spread se mantém no varejo, mas é fato que eventuais
subidas no preço da carcaça suína, com frango e carne bovina muito baratas não se sustentam por
muito tempo, a menos que haja um grande desajuste entre oferta e demanda em favor desta última.
Cenário interno de grãos se mantém sem alterações, mas fatores externos melhoram
O último levantamento de safra da CONAB, publicado em 10/08, cuja estimativa de segunda safra
de milho (em processo final de colheita) aumentou para pouco mais de 100 milhões de toneladas,
totalizando quase 130 milhões de toneladas na safra 2022/23. 2,2 milhões a mais que o levantamento
publicado no mês anterior.
Com problemas sérios de déficit de armazenagem estática para estocagem desta supersafra as
cotações do milho continuam relativamente baixas, determinando junto com o preço estável do
farelo de soja, um custo de produção dos suínos no segundo semestre bem mais baixo que no início
do ano. Aos poucos as expectativas referentes a safra norte-americana vão melhorando, o que
contribui para manter o preço do milho em baixa. Segundo MBagro, as condições das lavouras de
milho dos Estados Unidos vão se aproximando da média dos últimos cinco anos ao passo que bons
volumes de chuva vão sendo registrados na região do Corn Belt. As lavouras em boas ou excelentes
condições somam 59% da área de milho e já ultrapassa os valores registrados no mesmo período do
ano passado e em 2019.
Considerações finais
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes explica que: “O crescimento elevado da disponibilidade
interna de carne suína ocorrido nos últimos anos, que contribuiu para uma das maiores crises da
história da suinocultura, finalmente foi estancado. Entretanto, o aumento da oferta doméstica das
demais carnes limita a subida do preço pago ao produtor. Este ano se encaminha para fechar com um
recuo nos custos da atividade, estabilização da produção com crescimento abaixo de 3% em
relação ao ano passado e exportações recordes, com retomada de volumes expressivos para China e
lenta e contínua pulverização para outros destinos”, conclui.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
Copyright 2023 – Grupo CMA
Cotação semanal
Dados referentes a semana 22/11/2024
Suíno Independente kg vivo
R$ 9,53Farelo de soja à vista tonelada
R$ 71,50Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.200,00Milho Saca
R$ 1.975,00Preço base - Integração
Atualizado em: 22/11/2024 17:50