Porto Alegre, 24 de março de 2021 – O milho é o principal insumo das
agroindústrias que transformam a proteína vegetal em proteína animal. Sua
escassez ou supervalorização – em razão das imensas quantidades
necessárias – pode desequilibrar algumas das mais longas e complexas cadeias
produtivas, como a avicultura e a suinocultura.
Nesse momento, o milho está escasso em Santa Catarina, no Brasil e no
Mundo – atingiu o maior valor da história – e colocou em alerta todo o
setor. A dimensão do problema pode ser avaliada pelo fato de Santa Catarina,
por exemplo, necessitar de cerca de 19.000 toneladas de milho por dia.
O presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) e diretor do
Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina
(Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior, já concluiu que a indústria da
carne não conseguirá repetir o excelente desempenho de 2020. A situação deve
se normalizar em 2022, “mas 2021 será um ano difícil de atravessar em
razão do preço exorbitante dos insumos para a nutrição animal”.
O setor privado e o governo não têm dúvidas sobre a gravidade do
problema. Exportações maciças de um lado, pragas e problemas climáticos de
outro decretaram a escassez do grão. Os estoques da Conab estão baixos e o
plantio da próxima safra está atrasado. Não há dúvidas: na metade do ano
haverá crise de desabastecimento.
“Não queremos ser alarmistas, mas é preciso ter consciência da
situação”, observa o dirigente, lembrando que “o setor é resiliente, é
competente, mas tem suas limitações”. Crise semelhante vivida em 2016
provocou o fechamento de empresas, redução de alojamento e colocou em perigo
os planteis à campo, com risco sanitário.
O presidente da ACAV assegura que a partir do momento em que não
vislumbrar o abastecimento necessário, seja em preço, seja em quantidade, o
setor irá se adequar, reduzir alojamento e baixar a oferta de proteína animal
no Brasil. Prevê que as médias e as pequenas empresas terão dificuldades de
fluxo de caixa e capital de giro, enquanto as grandes empresas operarão em
fluxos negativos. Infelizmente teremos descontinuidade de empresas, atraso nos
investimentos e desemprego.
“Já vimos isso no passado: muitos frigoríficos de pequeno porte não
conseguirão manter suas operações com os grãos nesses níveis de preços”,
lembra Ribas.
AGRAVANTES
O milho está supervalorizado e não há indicação de que essas
cotações possam recuar, o que representa uma situação de custos
elevadíssimos. Ele representa pelo menos 50% dos custos de produção de aves e
suínos. Com os atuais níveis de preço do milho, o custo final pode elevar-se
em 25%. Somam-se a isso os aumentos do farelo de soja, da energia elétrica,
dos combustíveis e a situação fica muito difícil para todo o setor.
A saca (60 kg) de milho está cotada atualmente em cerca de R$ 100, ou
seja, registra 72% de aumento em relação a fevereiro do ano passado. Aumento
maior ainda sofreu a tonelada de farelo de soja, comercializada hoje em R$
2.750,00, ficando 113% mais cara que 12 meses atrás. Outro item da planilha de
custos que afeta as operações nas granjas e nas fábricas é a energia
elétrica, que encareceu 70% nos últimos dez anos. A média de alta prevista
para 2021 é de 14,5%. A indústria já apurou que, com esses aumentos, o custo
do animal vivo aumenta no minímo 35% – o que fica muito difícil do setor
suportar.
Esse encarecimento anula todos os ganhos dos suinocultores e avicultores ao
mesmo tempo em que afeta ou até inviabiliza a produção industrial. Porém,
para o diretor da ACAV e Sindicarne, “o desmedido aumento dos custos dos
grãos tem efeito mais devastador porque atinge a base da cadeia produtiva”.
Por isso, as indústrias de abate e processamento de aves e suínos estão
preocupadas com as maciças exportações de milho e soja, matéria-prima que
faltará para o abastecimento interno.
REAÇÃO
O dirigente entende que o setor precisa aprender a navegar nesse novo
cenário de grãos e de mercado futuro. Para atravessar o ano de 2021 será
necessário um grande incremento da produção dos cereais de inverno. Outra
medida é o destravamento das importações de milho.
O setor já opera em drawback, o que reduz encargos tributários, mas a
situação requer o destravamento técnico das importações de milho.
Existem muitas variáveis imprevisíveis que interferirão no mercado da
carne neste ano, entre elas, as oscilações cambiais que afetam os preços
finais; a manutenção da demanda da China por carnes brasileiras que mantém
aquecido o setor; as reformas estruturais necessárias para restituir a
confiança no Brasil dos investidores internacionais e a retomada do crescimento
econômico. Outro fator é a queda de consumo no mercado doméstico em razão
do alto desemprego.
O presidente José Ribas expôs que há dificuldade em repassar estes
custos e, por isso, pode ocorrer redução de produção, o que afetará os
preços ao consumidor. Sugere, para o enfrentamento desse cenário, ações
imediatas, no curto prazo, e ações estruturantes no médio e longo prazo.
“Não podemos ficar expostos a esta situação”. As iniciativas de
importação e aumento da produção de cereais de inverno – especialmente nos
Estados do Sul – ajudarão, mas não serão suficientes sob a ótica de
custos. No longo prazo precisamos ações estruturantes de logística de grãos
para as regiões de produção de proteína e o setor operar de maneira efetiva
no mercado futuro. As informações partem da assessoria de imprensa da ACAV e
do Sindicarne.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 15/08/2025
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,57Farelo de soja à vista tonelada
R$ 1.665,00Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.400,00Milho Saca
R$ 68,75Preço base - Integração
Atualizado em: 14/08/2025 10:30