Porto Alegre, 23 de agosto de 2016 – Há dez anos, o crescimento do rebanho
bovino nacional tem se deslocado em direção oposta à da região amazônica.
Foi o que mostrou estudo da Embrapa Gestão Territorial (SP) por meio de dados
obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa
registra que, a partir de 1974, a atividade pecuária se deslocava pelo País
em direção ao noroeste. Esse movimento se manteve até 2006 quando tanto a
pecuária de corte como a leiteira iniciou movimento contrário em direção ao
sul.
A tendência de a pecuária crescer mais em direção ao sul se verificou
até nas últimas análises feitas com dados coletados pelo IBGE em 2014. “O
estudo mostra que o crescimento do setor aponta para o sul e não mais para
noroeste, demonstrando que a pecuária não se desloca mais em função da
fronteira agrícola do norte do País”, interpreta o engenheiro-agrônomo
Rafael Mingoti, que coordenou o trabalho na Embrapa Gestão Territorial. Para
ele, a produção de bovinos tem se direcionado ao mercado consumidor
concentrado nas regiões Sul e Sudeste.
Os pesquisadores levantam algumas hipóteses sobre a razão do ponto de
inflexão observado em 2006. Um dos motivos para a atividade deixar de crescer
em direção ao norte poderia ser a intensificação das ações de
fiscalização na fronteira agrícola naquela região desestimulando a abertura
de novas áreas por lá para a bovinocultura. Os cientistas querem saber o
motivo da relativa diminuição do rebanho bovino na região Norte do País e o
de seu aumento na região Sul. Essas análises farão parte da segunda etapa
desse trabalho.
“Ainda não temos como afirmar quais são as causas da inflexão ocorrida
em 2006, pois ainda não a analisamos. Isso está em nossa previsão de
trabalhos próximos. Para isso, iremos organizar um grupo de colaboradores com
conhecimentos específicos sobre pecuária em todo o Brasil para obter
respostas”, diz Mingoti.
Além de mostrar que há dez anos o crescimento da pecuária não tem
avançado mais em direção ao norte do Brasil, o estudo ainda poderá servir
de base para muitas outras pesquisas. “A maior contribuição desse trabalho é
permitir um serviço de prospecção em que socioeconomistas e especialistas em
pecuária leiteira e de corte poderão analisar e prever a direção da
atividade econômica”, acredita Mingoti.
Soja em direção ao nordeste
Os especialistas da Embrapa aplicaram a mesma tecnologia para a produção
nacional de soja de 1990 a 2012. No caso dessa leguminosa, o estudo registrou um
leve deslocamento da cultura em direção ao nordeste a partir do início da
década de 2000, tendência que seguiu até a última coleta de dados, em 2012.
A razão para esse comportamento da produção de soja é outro tema a ser
estudado posteriormente, de acordo com Mingoti.
“Também para essa questão não temos a resposta, a qual deverá ser
obtida em estudos futuros com especialistas de soja de diversas regiões do
Brasil. De maneira preliminar, suspeitamos que uma das causas esteja relacionada
ao aumento crescente da produção agrícola na região do Matopiba,” supõe o
especialista.
O gerente-geral da Embrapa Gestão Territorial e membro do Conselho
Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Claudio Spadotto, explica que
os resultados dessas análises podem ser valiosos para diversas áreas.
“Gestores públicos, empresários do agronegócio, fornecedores de insumos e
pesquisadores poderão subsidiar suas decisões e estudos com os dados
obtidos”, acredita. Para empresas do agronegócio, o levantamento de
tendências pode antecipar demandas e oportunidades de negócios. Do mesmo modo,
pode apoiar a programação de pesquisa para desenvolvimento de cultivares para
essas novas regiões. Gestores públicos podem usar as informações, por
exemplo, para subsidiar planejamento de infraestrutura de transportes para a
chegada de insumos e escoamento de produção agropecuária, além de prover
estruturas urbanas de moradia, educação, saúde e outras para municípios que
tenham previsão de crescimento econômico em razão da agropecuária.
De acordo com os produtores rurais envolvidos, as informações são
igualmente úteis. Ao lado de outros dados, os resultados da pesquisa podem
aumentar a capacidade de antecipação de necessidades. “Eles poderão prever,
por exemplo, a necessidade do desenvolvimento e da adoção de tecnologias nas
áreas que serão ocupadas pelas culturas”, ilustra Mingoti.
Metodologia da demografia
A fim de chegar aos resultados, os pesquisadores adaptaram às condições
da agropecuária uma metodologia própria da demografia a qual calcula, a cada
intervalo de tempo, o centro de massa da população de um país. Para rebanho
bovino é encontrado um ponto central médio hipoteticamente equidistante,
considerando a distribuição do número de animais em cada município por todo
o País. Para soja é feito de maneira similar, levando-se em conta as
quantidades produzidas nos municípios.
“De maneira bem simplificada, imagine o território brasileiro como uma
plataforma sobre a qual só existam os bovinos, o centro de massa seria o ponto
em que o peso de todos eles estaria equilibrado”, explica Mingoti. Ao calcular
o ponto de massa em intervalos periódicos, obtém-se um gráfico de
deslocamento da produção nacional que indica a direção para a qual a
atividade em questão está majoritariamente se deslocando.
A posição geográfica do centro de massa, porém, não diz respeito ao
município ou região no qual ele se localiza, alerta Mingoti. “Não é por
estar sobre Goiás, por exemplo, que se possa afirmar que esse estado concentra
a produção analisada. Esse é um equívoco comum ao olhar para a ilustração.
Ele apenas mostra vetorialmente para onde a atividade se desloca ao longo do
tempo”, detalha. Como exemplo, cita a mesma metodologia aplicada à economia em
que o centro de massa da atividade econômica mundial desde o início deste
século 21 tem se deslocado sobre a Rússia. “Isso ocorre porque aquele país
está entre fortes economias: China a leste, Estados Unidos e Europa a oeste”,
exemplifica.
Sobre o CCAS
O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma
organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio,
sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir
temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de
maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins
econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência,
sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são
profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área
pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela
sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam
por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos
concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a
sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para
cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando
percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso
que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam
suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É
importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições
de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade
da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Com
informações da assessoria de imprensa do CCAS.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Atualizado em: 01/11/2024 16:00