Porto Alegre, 5 de dezembro de 2022 – O desmatamento, um dos principais causadores das
alterações climáticas locais, aliado às mudanças do clima global, traz impactos significativos
ao agronegócio brasileiro. Entre 1985 e 2012, o desmatamento causou uma redução média de 12% na
produtividade do cultivo da soja na Amazônia e 6% no Cerrado, com decréscimo de mais de 20% em
algumas regiões dos dois biomas.
Estes são alguns dos destaques da mais recente nota técnica do WWF-Brasil, que compila estudos
relevantes sobre o tema. Eles reafirmam a íntima relação do desmatamento, mudanças climáticas e
produtividade agrícola. O levantamento aponta que as altas taxas de desmatamento na Amazônia e no
Cerrado resultam em queda de produtividade e rentabilidade para o agronegócio brasileiro.
Outro dado da nota técnica mostra que a queda de receita bruta referente a diminuição da
regulação de temperaturas extremas após o desmatamento foi de, em média, US$ 158,50 anualmente
para cada hectare de soja produzida na Amazônia, tendo o valor do dólar em 2005 como referência.
No caso do Cerrado, foram registrados aumentos mensais entre 2,2 e 4,0oC nas temperaturas máximas e
2,4 e 2,8oC nas temperaturas mínimas entre 1961 e 2019.
“Impacto para a produtividade agrícola significa menos comida na mesa, maior inflação e
impacto nas exportações. As mudanças climáticas afetam diretamente a oferta e o custo dos
alimentos. Esse movimento já está acontecendo, mas tende a se agravar se não pararmos o
desmatamento agora e desenvolver ações de mitigação e restauração dos ecossistemas naturais”,
afirma Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil.
Foram levantadas, ainda, estimativas de perdas futuras de produtividade de soja e pastagem na
Amazônia Legal, considerando diferentes cenários de gestão territorial. Essas perdas poderiam
atingir 26% para soja e 32% para pastagem até a metade deste século. Caso não haja adaptação
por parte dos produtores, 20% a mais de área desmatada na Amazônia e no Cerrado até 2050 podem
levar a perdas adicionais de produtividade entre 6% e 10% no Matopiba e 20% em Mato Grosso,
principais regiões produtoras de grãos do país, além das perdas causadas pelas mudanças
climáticas globais.
Outro estudo mostra que, além das perdas de renda bruta causadas pelas mudanças climáticas
globais, o Mato Grosso poderá perder adicionalmente US$ 1,8 bilhão relacionado ao desmatamento
até 2050.
Em relação ao milho cultivado após a colheita da soja (milho segunda safra), estudos indicam
que o desmatamento levaria a uma queda de até 8% de produtividade. Caso seja necessário adiar as
datas de plantio das culturas para se adaptar a um cenário em que a estação chuvosa comece mais
tarde e dure menos tempo, essa queda passaria para aproximadamente 30%. O estudo sugere que, com a
persistência do desmatamento até o meio do século, a adaptação de datas de plantio e adoção
de cultivares de ciclo mais curto não serão suficientes para manter os níveis de produtividade
atuais em sistemas de dupla safra (soja e milho). Essas alterações estariam ligadas ao
encurtamento da estação chuvosa e aos impactos decorrentes em cultivo de sequeiro (sem
irrigação).
Uma das avaliações indica perdas de renda bruta no cultivo de soja na Amazônia em diferentes
cenários de governança até 2050, levando em consideração as relações empíricas estabelecidas
com dados observados de chuva e área desmatada. Os autores mostram que um cenário de gestão fraca
pode levar à perda de 56% da área de floresta até 2050, o que causaria perda de renda bruta do
cultivo de soja de cerca de R$ 1 bilhão anualmente.
Além do agro, as perdas afetam também outros setores. Um relatório baseado em estimativas das
próprias matrizes de risco de empresas brasileiras aponta perdas de até R$ 24 bilhões por não
apresentarem ações contra o desmatamento em suas cadeias de valor. O valor resulta de prejuízos
com dano reputacional, fuga de consumidores, dificuldades em acessar mercados internacionais e
alterações na dinâmica dos ecossistemas.
O WWF-Brasil observou também os dados da Plataforma Desmatamento e Chuva que traz informações
sobre a perda de receita bruta na produção de soja e carne bovina devido ao desmatamento e
consequente alteração climática.
Os dados apontaram que, quanto maior é o nível de desmatamento (variando de 10% a 40%), maior
é a perda de receita bruta para soja, independente da data de plantio, e para a produção de carne
bovina. A plataforma é baseada em um estudo que avalia a variação espacial do valor do serviço
ecossistêmico de regulação climática para a produção agrícola na Amazônia a partir de
cenários de desmatamento progressivo da floresta e simulações com modelos agrometeorológicos.
Importante salientar que desde 1961, os efeitos da crise climática provocada pelo homem
reduziram em 21% a produtividade agrícola global. Essa porcentagem é maior (entre 26% e 34%) nas
regiões mais quentes, como América Latina, África e Caribe.
Estudos existentes abordam estimativas da perda de produtividade para diferentes cenários de
uso do solo e mudanças climáticas, mas com poucas informações baseadas em observações de
campo. Mesmo com esta limitação, os dados disponíveis já são preocupantes. Por isso, além de
apontar o desmatamento zero como o principal caminho de mitigação de perdas, o levantamento
ressalta algumas práticas sustentáveis que estão em funcionamento e devem ser fortalecidas:
melhoramento genético de cultivares de plantas e de raças de animais, plantio direto na palha,
fixação biológica de nitrogênio, sensores digitais para avaliação de solo e planta, zoneamento
agrícola de risco climático, zoneamento agroecológico e outras iniciativas que são
imprescindíveis para a permanência do país no topo da produção agropecuária, aponta a
conclusão de um documento do WRI Brasil.
Os dados da nota técnica são unânimes ao apontar que há urgência na aplicação de
soluções sustentáveis para a manutenção das florestas e mitigação da crise climática.
“Muitas ferramentas já existem, mas carecem de implantação pelo poder público e engajamento por
parte de outros atores, como empresas e setor produtivo, por exemplo. A ciência está a nosso
favor, com dados e perspectivas, cabe a nós priorizar ações que garantam um futuro equilibrado
para as próximas gerações, alerta Mariana Napolitano gerente de Ciências do WWF-Brasil.
As informações são da assessoria de imprensa da WWF Brasil.
Revisão:Pedro Carneiro (pedro.carneiro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 11/07/2025
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,28Farelo de soja à vista tonelada
R$ 1.660,00Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.300,00Milho Saca
R$ 65,50Preço base - Integração
Atualizado em: 10/07/2025 09:50