Porto Alegre, 20 de abril de 2020 – O boletim semanal da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) traz um balanço de suas ações no
período de 13 a 17 de abril, com destaque nas áreas de crédito rural e
comercialização, para ajudar o produtor rural a enfrentar a crise provocada
pela pandemia do Covid-19.
A entidade também faz uma análise do comportamento dos setores de frutas
e hortaliças, commodities agrícolas, lácteos, aves e suínos, boi gordo e
aquicultura, e relata os principais acontecimentos do agro no comércio
internacional que têm relação com o Brasil.
MEDIDAS DE APOIO NA ÁREA DE CRÉDITO E PRORROGAÇÕES
Após a publicação da Resolução n 4.801/2020, do Conselho Monetário
Nacional (CMN), muitos produtores foram às agências bancárias prorrogar as
parcelas dos seus financiamentos. Porém, tivemos relatos de situações em que
o banco se recusou a prorrogar ou cobrou taxas mais elevadas para fazer. Nesse
contexto, a CNA solicitou a Ministério da Agricultura alteração na respectiva
resolução no que se refere à reclassificação nas fontes de recursos
utilizadas para a prorrogação. A entidade defende que as condições pactuadas
nos contratos originais sejam mantidas e que o produtor tenha seu direito de
prorrogação assegurado.
A CNA solicitou ao Ministério da Economia prorrogação até 30 de outubro
para adesão dos produtores à Resolução n 4775/2019 do CMN. O prazo atual
para o produtor manifestar interesse em compor suas dívidas com a instituição
financeira credora é até 30 de abril deste ano. No entanto, o Ministério da
Economia publicou a portaria n 48 no final de fevereiro, quase quatro meses
após a Resolução e os bancos não conseguiram adequar seus sistemas de
informática para fazer a renegociação com os produtores.
Para as cadeias de hortifruti e flores, a CNA se reuniu com o Banco do
Brasil para tentar condições melhores do que aquelas anunciadas pelo Conselho
Monetário Nacional. Para esses setores, o Banco está concedendo 180 dias de
prorrogação para o pagamento das parcelas de custeio vencidas ou com
vencimento entre março e junho de 2020.
Já para as parcelas de investimento vencidas ou com vencimento no mesmo
período, a parcela poderá ser paga no mesmo mês do vencimento original, mas
no ano seguinte ao vencimento final do contrato. A implementação dessa medida
prevê a dispensa da apresentação de laudo técnico de comprovação de perdas
e capacidade de pagamento.
Foi solicitada à Secretaria da Receita Federal a prorrogação do prazo
para as prefeituras conveniadas apresentarem os Valores da Terra Nua (VTN) dos
municípios. A proposta visa evitar a supervalorização dos preços de terras,
fator que impacta diretamente no Imposto Territorial Rural (ITR), uma vez que os
sindicatos rurais estão impossibilitados de participar dos levantamentos em
função das medidas de isolamento social.
COMÉRCIO ELETRÔNICO
A CNA, com o apoio do Ministério da Agricultura, lançou uma plataforma de
comércio eletrônico como forma de viabilizar a comercialização de alimentos
por setores prejudicados pela crise de Covid-19. Nela, produtores, compradores
e transportadores terão oportunidade de fazer negócios. O lançamento foi
acompanhado de um guia de orientação com dicas e cuidados para o comércio
online.
ANÁLISES SETORIAIS
Commodities agrícolas
No setor sucroenergético, a queda do preço do petróleo tem reduzido o
preço da gasolina e, consequentemente, do etanol. Na última quarta-feira (15)
a Petrobras reduziu em 8% o preço da gasolina nas refinarias, uma queda
acumulada de cerca de 50% no ano.
Para evitar um colapso, o setor propôs ao Governo medidas emergenciais: a
garantia de remuneração aos produtores de cana-de-açúcar; uso do produto
como garantia em empréstimo; a isenção temporária de PIS/Cofins sobre o
etanol hidratado e o aumento da Contribuição de Intervenção sobre Domínio
Econômico (Cide) sobre a gasolina.
Enquanto isso, cafeicultores buscam esclarecimentos em relação à
contratação de mão-de-obra para a colheita que se inicia ainda em abril.
Alguns municípios de Minas Gerais e Espírito Santo emitiram comunicado
vinculando a contratação de trabalhadores à aprovação prévia pela
vigilância sanitária municipal. Ainda não se sabe como isso funcionará na
prática.
Quanto aos preços, a saca de 60 kg de café arábica natural manteve as
negociações em R$600. A saca do café conilon tipo 7 foi negociada no
Espírito Santo a R$ 316.
Já no setor de grãos, as consequentes quedas do preço do petróleo e a
menor produção do etanol e o fechamento de frigoríficos nos EUA pressionaram
os preços do milho e soja no mercado brasileiro. O indicador do milho
Esalq/BM&FBovespa registra queda de 13,2% no acumulado de abril, enquanto a soja
segue com desvalorização inferior a 1% no mesmo período.
A retomada das compras de soja brasileira pela China nesta semana impediu
queda mais acentuada das cotações. Ainda assim, os preços de milho e soja
estão favoráveis aos agricultores brasileiros.
Lácteos
Em apoio ao setor, a ministra de Estado da Agricultura, Tereza Cristina,
sinalizou um orçamento de R$ 130 milhões para o Programa PAA Leite, tendo como
prioridade atender a cadeia da região do Nordeste. A medida auxiliará na
manutenção da captação do leite por pequenos laticínios que trabalham com
agricultura familiar.
Aves e Suínos
A permissão de volta das compras de alimentos pelo Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) tem gerado expectativa por parte dos produtores
independentes de suínos, os quais ainda enfrentam dificuldade para venda dos
animais.
Como alternativa de comercialização, alguns produtores de Minas Gerais
conseguiram negociar animais que estavam parados na terminação e enviaram
leitões para o abate, evitando ampliar os estoques.
No setor de aves, o preço do frango vivo no interior de São Paulo
permanece estável há quase 10 dias, cotado a R$2,90, uma queda de 10,8% em
relação a março/20 e 19,4% a abril/19. Os produtores e matrizeiros têm
reduzido a produção para evitar maiores quedas na cotação do produto.
Boi gordo
Os preços continuam estáveis e começa a ser registrada a dificuldade de
venda de cortes mais nobres e destinados ao churrasco no mercado interno.
Em relação às exportações, na primeira semana de abril o volume de
carne bovina in natura embarcado foi 9% superior à última semana de março. E
a habilitação de novas plantas frigoríficas para o Egito durante esta semana
contribuirá com a ampliação das exportações.
COMÉRCIO INTERNACIONAL
MERCADOS SELECIONADOS
Estados Unidos
– O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou um guia sobre
como as comunidades rurais podem acessar recursos federais voltados à
mitigação dos efeitos negativos da pandemia;
– A JBS suspendeu as operações do frigorífico de carne bovina na cidade de
Greeley, no Colorado, até 24 de abril. A fábrica emprega 6 mil funcionários
e também funciona como sede da empresa nos Estados Unidos. Segundo as
autoridades americanas, mais de 40 funcionários da unidade estão contaminados
pela Covid-19;
– A decisão da JBS aumenta o número de frigoríficos paralisados nos Estados
Unidos. Na semana passada, a Smithfield Foods, maior planta de suínos do país,
já havia estendido a quarentena por tempo indeterminado;
– Donald Trump anunciou que suspenderá os pagamentos anuais à Organização
Mundial da Saúde (OMS) alegando falta de transparência da entidade em
relação ao epicentro da doença na China. Os Estados Unidos são os maiores
financiadores da OMS: US$ 400 milhões em 2019;
– A Casa Branca divulgou orientações aos 50 governadores para a reabertura
gradual da economia a partir de 1 de maio de 2020. O plano prevê três fases
para o relaxamento de restrições. A decisão final, entretanto, será dos
governadores.
União Europeia
– Não foram relatados problemas na entrada ou desembaraço de carregamentos nos
portos de entrada da UE. Além disso, não estão sendo registrados atrasos ou
custos adicionais de armazenagem nos portos;
– Alguns empresários têm relatado problemas com o transporte marítimo
internacional. Devido a quarentenas impostas aos navios em alguns portos, há
falta de containers refrigerados;
– A celebração de novos contratos para a exportação de insumos destinados à
indústria de processamento deve ser afetada por conta da desaceleração da
atividade econômica;
– O setor de frutas parece ter sido o mais afetado no comércio com a UE. As
exportações brasileiras de frutas (incluindo nozes e castanhas) para a o
bloco, no primeiro trimestre de 2020, caíram 13,8% em valor e 8,4% em volume,
em relação ao mesmo período em 2019;
– Os consumidores europeus estão preferindo frutas de casca grossa ou com tempo
de prateleira mais longo, como banana, maçã e abacaxi;
– A retração da demanda teria sido sentida imediatamente pelos exportadores de
lima ácida, manga e abacaxi;
– O setor de frutas também tem relatado dificuldades por conta da
indisponibilidade de containers refrigerados e das medidas de distanciamento
social implementadas nos centros de beneficiamento e embalagem (packing houses),
que atrasariam os embarques;
– A Associação Europeia de Produtores, Importadores e Distribuidores de Frutas
e Legumes Frescos (Freshfel) publicou nota sobre as dificuldades enfrentadas
pelo setor por conta da indisponibilidade de trabalhadores sazonais na cadeia
produtiva de produtos frescos, especialmente no plantio, colheita e
beneficiamento;
– 60% das exportações brasileiras de frutas têm a UE como destino,
diferentemente dos setores de carnes e soja, os exportadores de frutas tropicais
não conseguem redirecionar seus excedentes para outros mercados. Assim, mesmo
que boa parte da produção possa ser absorvida pelo mercado interno, a renda
dos exportadores sofrerá retração;
– Do lado da demanda europeia por frutas, por se tratar de um setor intensivo em
mão-de-obra, as medidas de distanciamento social poderão impactar a
produção local, aumentando a demanda por produtos importados;
– Para o setor de carne bovina, as exportações para a UE também sofreram
redução tanto em valor quanto em volume no primeiro trimestre de 2020, em
comparação ao mesmo período de 2019. Os embarques caíram de 24,5 mil
toneladas, em 2019, para 21,6 mil toneladas em 2020, totalizando USD 133
milhões (USD 2 milhões a menos que em 2019);
– Os embarques de carne fresca/resfriada neste primeiro trimestre foram
superiores aos valores registrados no mesmo período em 2019. Este aumento nas
exportações se deu por conta do câmbio atrativo, que estimulou os operadores
econômicos da UE a antecipar os embarques, e por dificuldades que o mercado
argentino tem encontrado para exportar carne fresca para o bloco;
– As exportações de carne bovina congelada e preparados de carne sofreram
queda, causadas provavelmente pela desaceleração do ritmo de produção da
indústria de processamento de alimentos da UE;
– Segundo a Associação Europeia das Cooperativas Agrícolas (Copa-Cogeca), o
setor de carne bovina europeu foi severamente atingido pela atual crise;
– O prolongamento da pandemia poderá ter efeitos adversos sobre as
exportações brasileiras de carne bovina para a UE em função da potencial
retração da demanda nos países europeus;
– De maneira geral, as exportações brasileiras de soja para a UE não foram
afetadas até o momento pela pandemia. Contudo, alteraram o perfil das
exportações brasileiras para o bloco. As exportações do complexo soja para a
UE cresceram no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo
período de 2019. De janeiro a março de 2020, o Brasil exportou 3,5 milhões de
toneladas (USD 1,21 bilhões) do complexo soja para a UE, um aumento em
relação aos 3,2 milhões de toneladas (USD 1,18 bilhões) exportados em 2019;
– Os embarques de soja em grãos cresceram 35%, ao passo que as exportações de
farelo de soja caíram 22%. Se confirmada a redução de 20% a 30% na demanda
interna por biodiesel, a indústria de esmagamento deverá reduzir ainda mais o
ritmo de produção nos meses de maio e junho, o que reduzirá a oferta de
farelo de soja para a UE e outros destinos;
– As três principais associações europeias de importadores de soja em grão e
farelo (Coceral, Fefac e Fediol) assinaram nota conjunta solicitando à
Comissão Europeia a inclusão da alimentação animal entre os bens essenciais
e reforçaram a importância de manter as fronteiras abertas aos insumos
importados;
– A principal preocupação destas associações no momento seria a eventual
adoção, pelos Estados-membros, de medidas como o decreto publicado pela
Romênia, em 10 de abril, que proibiu as exportações de produtos agrícolas –
incluindo trigo, milho e açúcar – para fora da UE, sob a justificativa de
garantir sua segurança alimentar;
– As exportações brasileiras de carne de aves para a UE caíram em valor, de
USD 150 milhões, no primeiro trimestre de 2019, para USD 140 milhões em 2020,
mas cresceram em volume, de 55 mil para 63 mil toneladas;
– A única dificuldade relatada pelo setor de carne de aves na entrada de
carregamentos no bloco é a indisponibilidade de containers refrigerados;
– A expectativa do setor é a de que as exportações brasileiras para a UE
sofram queda nos próximos meses, não apenas devida à retração da demanda
dos setores de HORECA (hotéis, restaurantes e cafés), mas principalmente pelo
provável aumento da oferta interna de carne de aves “in natura” fresca da
Polônia, que deslocaria a oferta do produto congelado brasileiro;
– As exportações brasileiras de café para os países europeus sofreram leve
retração no primeiro trimestre de 2020, possivelmente associada ao fechamento
de cafeterias e restaurantes;
– O setor de sucos não relatou dificuldades de exportação para o mercado
europeu até o momento. Os contratos têm sido mantidos e não foram reportados
problemas na entrada de carregamentos brasileiros nos portos da UE. As
exportações brasileiras de sucos para o bloco somaram USD 256 milhões (328
mil toneladas) no primeiro trimestre de 2020, pouco menos que o registrado no
mesmo período de 2019.
Colômbia
– O governo colombiano suspendeu temporariamente a aplicação do “Sistema
Andino de Banda de Preços” e estabeleceu tarifa zero para importação de
alguns produtos de origem vegetal como milho amarelo duro, sorgo, soja e torta
de soja, independente da origem. A decisão foi motivada pela volatilidade dos
preços internacionais, resultante do escalonamento da crise gerada pela
pandemia, pela elevação do preço do dólar nos mercados emergentes e pela
relevância dos produtos selecionados para a cesta básica colombiana;
– A medida ficará em vigor até 30 de junho de 2020, podendo ser prorrogada por
três meses adicionais.
China
– Pequim impôs quarentena de 14 dias para tripulantes de 11 países – Estados
Unidos, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Japão, Coreia do
Sul, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia e Suíça. Ainda que não esteja na
lista, o Brasil poderá ser afetado indiretamente por eventuais impactos na
logística internacional. A medida passou a valer a partir de 14 de abril. A
intenção é evitar a entrada de tripulantes contaminados na China.
FMI
– O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta retração da economia mundial
em – 3% em 2020. A estimativa já considera os impactos da Covid-19. A queda da
economia dos Estados Unidos será ainda pior: – 5,9%. Para o Brasil, a previsão
é de – 5,3%. Dos países analisados, apenas India (1,9%) e China (1,2%)
devem registrar algum crescimento em 2020. (FMI, 14/4). Com informações da
assessoria de comunicação da CNA.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Cotação semanal
Dados referentes a semana 01/08/2025
Suíno Independente kg vivo
R$ 8,07Farelo de soja à vista tonelada
R$ 1.640,00Casquinha de soja à vista tonelada
R$ 1.400,00Milho Saca
R$ 68,25Preço base - Integração
Atualizado em: 31/07/2025 11:10