Agronegócio

Safra do milho deve ter queda de pelo menos 8% na região sul

18 de fevereiro de 2021
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Clima, cigarrinha, doenças e práticas culturais. Tudo isso afetou o milho de 1ª safra no Sul do Brasil. De acordo com estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção na região deve apresentar uma queda de ao menos 8%. Na safra 2019/20, os três estados do Sul colheram 10.249 milhões de toneladas. Este ano, não devem passar de 9.408 milhões de toneladas.

Os levantamentos realizados nas regiões mais afetadas detectaram má formação das espigas, multi-espigamento, empalhamento anormal, necroses na base e ao longo das espigas, morte prematura das espigas e menor peso de grãos. Muitas áreas apresentaram também tombamento e morte prematura de plantas.

Por conta desse cenário, os produtores da região temem não conseguir honrar os contratos com as tradings e cooperativas pelo simples fato de não haver milho disponível para ser entregue. O preço internacional da commodity estimulou o aumento da área plantada do grão e grande parte da produção de 2021 foi vendida antecipadamente em razão do câmbio favorável. Internamente, o país vive um desabastecimento em função do enorme volume exportado no ano passado.

Entre os especialistas, há um consenso de que os problemas decorreram de uma conjunção de fatores. Em relação ao clima, estiagem no inverno, geadas tardias e excesso de chuva no verão provocaram perdas e favoreceram a disseminação de pragas e doenças, especialmente no sudoeste do Paraná, oeste de Santa Catarina e, também, em boa parte do Rio Grande do Sul.

Influência do La Niña

“Em 2020, o Brasil esteve sob a influência do fenômeno climático La Niña, que resfria a água do Oceano Pacífico e, entre outras consequências, interfere no regime de chuvas”, explica Desirée Brandt, meteorologista da Somar Meteorologia.

“Esse fenômeno costuma provocar estiagem no Sul. Entre agosto e novembro de 2020, nos três estados da região, as chuvas ficaram 50% abaixo da média para o período”, diz Desirée.

A estiagem atrasou a semeadura e estendeu a janela de plantio em algumas regiões. A falta de chuva também causou elevação das temperaturas favorecendo a multiplicação de pragas, como a cigarrinha-do-milho, vetor de três doenças prejudiciais para a lavoura do milho: risca do milho (virose rayado fino), enfezamento pálido e enfezamento vermelho. Os dois últimos são causados por micro-organismos chamados molicutes.

A manifestação dos sintomas do complexo de enfezamento se deu em diferentes intensidades. Foi mais severa em algumas áreas de Santa Catarina (Oeste, Meio Oeste e Planalto Norte) e no Paraná e mais branda no Rio Grande do Sul.

“Como as cigarrinhas têm preferência por plantas jovens, assim que o milho germina já é atacado pela praga que, se for portadora do vírus ou dos molicutes, vai transmitir as doenças”, diz o fitopatologista Ricardo Trezzi Casa, professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

Em dezembro, a chuva caiu com intensidade no Sul do país, principalmente nas partes centrais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O clima quente e úmido trouxe mais problemas para o milho. A incidência de fungos e bactérias aumentou", explica Casa. Fusariose, antracnose e mancha diplodia foram algumas das doenças que surgiram. Como consequência, também houve aumento nos casos de podridão do colmo, de raiz e da espiga.

Controle com boas práticas

Os pesquisadores alertam para a necessidade de adoção de boas práticas e monitoramento, especialmente quando se intensifica a produção. Medidas como tratamento de sementes, rotação de culturas e a escolha de materiais adequados facilita o controle de pragas indesejadas.

Para evitar quebras nas próximas safras as seguintes ações são recomendáveis:

– Tratamento de sementes;

– Rotação de culturas;

– Eliminação e controle de plantas tigueras e invasoras que podem abrigar pragas e doenças;

– Monitoramento de pragas e doenças, que permitem o controle sempre que necessário e no momento certo;

– Uso de defensivos agrícolas registrados para a cultura, a praga e/ou doença e nas doses indicadas para cada alvo, de acordo com as orientações contidas nas bulas;

– Escolha de cultivares adequadas à cada região, considerando a maior ou menor suscetibilidade às pragas e doenças existentes naquele local;

– Utilização de densidades de plantio adequadas;

– Definição da janela de semeadura levando em consideração o Zoneamento Agrícola de Risco Climático;

– Manejo nutricional equilibrado.

– Criação de sistemas de monitoramento regionais de pragas e doenças;

“Precisamos de estratégias para equilibrar e produzir com mais sustentabilidade”, diz Ivan Cruz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo e doutor em manejo integrado de pragas. “É preciso planejar e pensar os sistemas de forma integrada, considerando todas as culturas plantadas ao longo do ano”, completa.

Fonte: Agrolink

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