Porto Alegre, 8 de abril de 2020 – Cientistas brasileiros concluíram o
sequenciamento genético de um fungo que atua como inimigo natural de lagartas
que atacam a soja, o milho e o algodão. A pesquisa representa um importante
avanço do conhecimento científico sobre o fungo Metarhizium rileyi, conhecido
entre os produtores de soja como doença branca da lagarta-da-soja, e abre
espaço para desenvolvimento de novos produtos biológicos em médio e longo
prazos.
“Esse fungo atua como um inimigo natural de várias lagartas, como a
lagarta-da-soja, a falsa-medideira, o cartulho-do-milho e o curuquerê do
algodoeiro. Ele infecta a lagarta por contato com o tegumento e não precisa ser
ingerido para atuar naturalmente como controle biológico”, explica o
pesquisador da Embrapa Daniel Sosa-Gómez, líder da pesquisa. O trabalho foi
desenvolvido em Londrina (PR), nos laboratórios da Embrapa Soja e contou com a
colaboração do Centro de Estudos Parasitológicos de Vetores, da Universidad
Nacional de La Plata (UNLP), na Argentina.
“É um fungo que ocorre em vários países do mundo. Com o sequenciamento,
podemos conhecer melhor suas diferentes raças e diferenciar as cepas que são
mais eficientes para uso como controle biológico comercial”, explica. De
acordo com o cientista, ao conhecer o comportamento de cada cepa, é possível
associá-lo à identidade genética e às variações que ocorrem em cada local.
A Embrapa Soja mantém, desde a década de 1990, uma coleção de cepas que
ocorrem em diferentes partes do mundo, como Argentina, Estados Unidos,
Filipinas, Japão, México e India. “Com o sequenciamento do genoma e o
cruzamento das informações sobre as cepas que estão em nossos bancos, podemos
compreender melhor aquelas com potencial para desenvolvimento de produtos
biológicos, assim como é feito com os inoculantes, especificamente como a
bactéria Bradirhizobium”, detalha.
O sequenciamento envolveu técnicas avançadas de bioinformática, com o
uso de ferramentas computacionais específicas para a reconstrução da
sequência completa do genoma e para a captura e interpretação de
informações moleculares relacionadas a cada gene ao longo do genoma.
“A pesquisa básica leva tempo porque é feita a partir de um grande volume de
dados de DNA, que vai sendo revisado e organizado por meio dessas ferramentas, a
partir do conhecimento que detemos, e facilitará o entendimento das relações
entre os genes e as particularidades desse fungo”, conta o pesquisador. O
genoma foi depositado no banco de dados público de sequências biológicas,
GenBank-NCBI-NIH, sob o número de acesso SBHS00000000.
Tentando escapar dos fungicidas
Um grande desafio para os cientistas, agora, é fazer esses fungos de
controle biológico sobreviverem às aplicações de fungicidas nas lavouras.
Isso porque os mesmos produtos usados contra o fungo causador da ferrugem da
soja também podem atingir o inimigo natural das lagartas. Por isso, o
pesquisador adianta que, para os próximos anos, a Embrapa irá atuar na
seleção de isolados que tolerem altas doses de fungicidas, como os utilizados
no controle da ferrugem asiática da soja.
“Os sistemas de produção estão cada vez mais complexos e não podemos
mais analisar o controle de pragas isoladamente”, afirma. Por isso, o
conhecimento obtido por essa pesquisa é tão importante: é preciso encontrar
alternativas para tornar os sistemas de produção cada vez mais equilibrados.
“O fungo tem uma característica interessante: ele só ataca as lagartas,
portanto tem atuação bastante seletiva, o que, de modo geral, beneficia o
equilíbrio dos sistemas de produção”, explica Sosa-Gómez. Os cientistas
acreditam que, ao identificar isolados do fungo Metarhizium que tolerem as altas
doses de fungicidas usadas no controle da ferrugem, será possível encontrar
soluções mais equilibradas para o controle das lagartas. A pesquisa também
pode ajudar a identificar os genes envolvidos nos mecanismos de resistência a
fungicidas.
O estudo foi publicado no periódico da Sociedade Americana para a
Microbiologia (ASM), um dos mais respeitados da área no âmbito internacional,
e é assinado pelos pesquisadores Daniel Sosa-Gómez, Eliseu Binneck, da Embrapa
Soja, e Cláudia López Lastra, da Universidade La Plata, Buenos Aires,
Argentina.
Como o fungo atinge as lagartas
Com distribuição de ocorrência geográfica mundial, o fungo Metarhizium
rileyi ataca as lagartas, formando inicialmente uma camada branca (fungo sem
esporular) sobre o inseto, por isso o nome popular de “doença branca” em
lagartas. É um agente regulador das populações das principais lagartas que
afetam as grandes culturas. Por causa de sua atuação altamente seletiva e
eficiente em condições naturais ou agrícolas, o fungo se torna um importante
agente biológico para o desenvolvimento de bioinseticidas e para a prospecção
de componentes biológicos ativos com diferentes usos.
No passado, já serviu de base para desenvolvimento de produtos de controle
biológico, mas caiu em desuso, voltando a ter potencial de exploração
comercial com o uso das novas técnicas que permitem melhor produção de cepas.
De acordo com Sosa-Gómez, atualmente há produtos à base do fungo sendo
comercializados na África do Sul. Com informações da assessoria de imprensa
da Embrapa Soja.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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