Porto Alegre, 15 de setembro de 2014 – No intuito de debater temas
relacionados ao plantio da soja, a Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da
Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) se reuniu na sede da
entidade, onde recebeu produtores e representantes do setor como a Agência
Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e empresas de pesquisa e produção de sementes.
Além de discutir temas como custo de produção e mercado, o encontro
serviu para levantar a questão das áreas de pesquisa, nas quais a soja é
cultivada mesmo dentro do vazio sanitário do grão – período de ausência
total de plantas vivas cultivadas ou voluntárias da cultura soja no campo.
Durante o encontro, que aconteceu na última semana, os presentes também
falaram sobre o cadastramento eletrônico das propriedades junto à Agrodefesa e
o monitoramento da mesma para detecção da ferrugem asiática, principal
doença que afeta a produção de soja em todo o país. A reunião foi comandada
pelo vice presidente institucional da Faeg, Bartolomeu Braz, o consultor
técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) Goiás, Cristiano
Palavro e pelo produtor e presidente da Comissão, Flávio Faedo.
O ponto alto da reunião foi o debate sobre possíveis alterações na
Instrução Normativa N 003, que define todos os parâmetros referente ao
vazio sanitário da soja, importante estratégia de mitigação dos efeitos
negativos desta doença nas lavouras goianas. Alguns artigos da normativa têm
causado forte discussão entre os diferentes elos da cadeia produtiva.
Entre eles, o artigo que determina a obrigatoriedade de eliminar os restos
culturais da soja nas áreas ou instalações nas quais houve cultivo, colheita,
armazenagem, beneficiamento, comércio, industrialização, movimentação ou
transporte do grão.
Segundo a normativa, esta eliminação deverá ocorrer até 30 dias após a
sua emergência. Os produtores alegam que com a colheita precoce e o período
chuvoso, ocorrem várias emergências da soja tiguera ou guaxas, que germinam a
partir do grão, o que cria a necessidade de mais de uma eliminação e a
elevação dos custos.
Outro ponto bastante questionado pelos produtores foi a concessão de
cultivo durante o período de vazio sanitário, dadas pela Agrodefesa às
empresas de pesquisa e melhoramento de sementes.
Cultura de sucessão
A questão da semeadura de culturas em sucessão ou rotação também
precisou entrar na pauta de discussões, já que muitos produtores vêm optando
pelo plantio de girassol e não conseguem extinguir as plantas voluntárias de
soja que germinam no meio da cultura principal. A justificativa é de que não
há um herbicida específico que erradique a soja tiguera e não afete o
girassol.
Outro ponto importante foi a presença de plantas tigueras de soja em
beiras de rodovias e em áreas públicas, ocasionada principalmente pelas perdas
de grãos de soja durante o transporte. Neste sentido foi proposto pela
Agrodefesa a introdução de um artigo que permite a fiscalização e
penalização dos transportadores que não acondicionem corretamente as cargas,
o que evitaria o derramamento excessivo das cargas.
Vazio sanitário
A normativa estabelece ainda que o vazio sanitário da soja ocorra entre 01
de julho e 30 de setembro. O problema, na opinião de grande parte dos
produtores, é que segundo as regras atuais, as empresas que realizam
melhoramento genético de cultivares de soja e multiplicação de semente
genética têm a possibilidade de cultivar soja irrigada neste período – o que
tem contribuído para o agravamento das infecções com ferrugem, aumentando as
perdas de produção e os custos de produção.
Um grupo de produtores de soja dos municípios de Acreúna e Rio Verde
estiveram na reunião e se mostraram preocupados, alegando que a ferrugem
asiática chegou muito cedo nas áreas adjacentes aos campos de pesquisa, mesmo
tendo este último ano sido de clima mais seco que normalmente.
E aí que está o imbróglio. Do outro lado, a Embrapa alega que as
pesquisas são responsáveis por avanços de valor incalculável dentro do setor
agrícola. Um exemplo foi a diminuição do ciclo e o aumento da produtividade,
além da maior resistência das variedades. As empresas de pesquisa, como um
todo, se defendem apontando que o controle de ferrugem nas áreas cultivadas
durante o período de vazio sanitário tem sido realizado de forma adequada,
seguindo inclusive as determinações da Agrodefesa.
Além disso, elas apontam que a impossibilidade de cultivo neste período
seria muito impactante na velocidade de melhoramento de novas variedades, o que
prejudicaria os produtores rurais e o setor de pesquisa e sementes como um todo.
Pela necessidade de maior esclarecimento sobre os pontos conflitantes, uma
nova reunião ficou marcada para a segunda semana de outubro. No encontro as
empresas de pesquisa deverão apresentar um parecer sobre as sugestões feitas
pelos produtores. Com informações da assessoria de comunicação social da
Faeg.
Revisão: Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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Atualizado em: 22/11/2024 17:50